quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A História da Igreja Ortodoxa
Por Reverendo Constantine Callinikos.
Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior.


Introdução.


Este livro é um da série que foi iniciada pela Santa Metrópole de Thyateira com a publicação do Catecismo Ortodoxo Grego. Este breve esboço da História da Igreja Ortodoxa pretende dirigir-se assim como a série mencionada, principalmente para Cristãos Ortodoxos, que tendo nascido em países onde sua língua mãe não é falada, ter mais facilidade em compreender na linguagem do país de sua adoção. Este livro não pretende ser de uso exclusivo para crianças aprenderem o catecismo, mas sim pretende ser do interesse de cristãos ortodoxos, que desejam ter um breve mas confiável relato da evolução da Igreja Ortodoxa através dos séculos da Era Cristã. Além disso, acreditamos que, apesar de existirem algumas obras em Inglês que tratam de maneira geral da Igreja Ortodoxa, este livro é o primeiro que contém uma breve história da Igreja Ortodoxa, o trabalho de um Erudito Ortodoxo, cai em mãos de leitores da língua Inglesa. É um livro que toca em todos os períodos da sua história e, acima de tudo, no último período, que, em sua maior parte, não foi estudado pelos não-Ortodoxos. As relações próximas que especialmente no passado recente, se desenvolveram entre as duas Igrejas, a Ortodoxa e a Anglicana, e os recentes contatos estabelecidos entre elas na Conferência de Lambeth, tornam o contexto desse livro, em tratando das projeções futuras da Igreja Ortodoxa interessante e atual.
A Compilação nesse trabalho foi confiado pela Santa Metrópole de Thyateira ao Vigário da Igreja Grega em Manchester, o Reverendo Constantino Callinicos, autor de muitos escritos religiosos e teológicos notáveis. Na recente publicação de um importante "Comentário sobre os Salmos," ele recebeu um sinal de honra das mãos do Patriarcado Ecumênico que lhe outorgou o título, de rara distinção na Igreja Ortodoxa, "Grande Economo da Grande Igreja." O Reverendo Callinicos cumpriu a tarefa que lhe foi confiada com grande perícia. Não só ele se absteve de insistir em questões que ainda que incluídas na vida e história da Igreja, não tem relação imediata com sua natureza essencial; ele também se recusou a meramente recolher material que é facilmente obtenível nos escritos históricos de outras Igrejas. Seu profundo amor pela, e devoção à Igreja Ortodoxa, sua insistência na verdade histórica e acuracia, e, finalmente seu estilo polido de escrever, são características do presente trabalho do autor, assim como de todos os seus trabalhos.
A tradução para o Inglês foi conduzida zelosamente por Miss Natzio. O fato de que essa Senhora nasceu e foi criada na Inglaterra, e tem uma carreira de sucesso na Universidade da Inglaterra (B.A. e B.Utt. Oxford), tem, em si, a garantia de uma tradução acurada e perfeita. A ambos, autor e tradutora, portanto, expressamos nossos calorosos aagradecimentos e damos nossa benção.
É nossa esperança, que esse livro, preenchendo o propósito para o qual foi escrito, possa ajudar a tornar a Igreja Ortodoxa mais amplamente conhecida; — uma Igreja que, no passado, aguou a árvore do Cristianismo quando ela primeiro foi plantada nessa terra com o sangue de seus mártires, e ainda hoje tem mártires para mostrar sua luta contra os poderes que se colocam contra sua existência verdadeira.

+ O Metropolita de Thyateira, Germanos
Londres, Domingo de Ramos, 1931



Parte I



Tempos Antigos (A.D. 33-700)


1. Os Primeiros Pregadores do Evangelho

A Comunidade Cristã em Jerusalém.
A história da Igreja começa no dia de Pentecostes, que por essa razão tem sido chamado de aniversário da Igreja. Naquele dia, a presença de cento e vinte pessoas, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos, e eles começaram a falar em diversas línguas, de modo que Judeus de longe que estavam morando em Jerusalém, ficaram espantados com a súbita transformação de homens que ainda ontem eram simples pescadores. Mas o apóstolo Pedro, levantando-se no meio deles, explicou que essa transformação era devida a Jesus o Nazareno, que apesar de crucificado pelos judeus, tinha ressuscitado pelo poder de Deus. E naquele mesmo dia tres mil almas se juntaram à nova fé. Alguns dias depois, quando Pedro e João estavam a caminho do templo para rezar, um pedinte aleijado que estava deitado no templo pediu esmola a eles: "Prata ou ouro não tenho nenhum," disse Pedro; "mas posso dar tal a ti: em nome de Jesus Cristo de Nazareth, levanta-te e anda." O homem aleijado foi curado e Pedro, segurando-o pela mão, mostrou-o para a multidão atônita que amontoou-se para ver o milagre, como um testemunho do poder de Cristo. E os tres mil fiéis de antes tornaram-se cinco mil.

Estevão, o Primeiro Mártir.
Assim, os primeiros seguidores do Cristo crucificado cresceram aos saltos, e formaram a primeira comunidade Cristã em Jerusalém. Unidos por laços de amor mútuo, como nunca havia sido visto antes, eles comiam em mesas comunitárias e sob a supervisão geral dos apóstolos e tinham todas as suas posses em comum. Mas logo, no entanto, os Apóstolos não eram mas capazes de atender as necessidades materiais e espirituais de tantos milhares de almas; então, mantendo para si o ministério espiritual, indicaram sete diáconos para organizar o aprovisionamento da comunidade. Destacava-se entre os sete por sabedoria e santidade Estevão. Cheio de santo zêlo, ele renunciou os judeus por sua surdez para a voz do Senhor, que ficaram enraivecidos, e acusaram-no de blasfêmia, condenando-o à morte por apedramento. "Senhor Jesus, recebe meu espírito!" foram suas palavras antes da morte.

A Conversão de Saulo.
A morte de Estevão o Mártir foi o sinal de partida para uma grande perseguição contra a recém estabelecida Igreja, que era intolerável para as autoridades judias como uma apostasia da lei de Moisés. Mas essa perseguição local tornou-se vantajosa para a nova fé, porque seu efeito for espalhar os irmãos de Jerusalem, onde até então eles estavam confinados, enviando-os para carregar as sementes do evangelho não só para outras cidades da Judéia, mas tambem para a Samaria, Fenícia e Chipre, e até para Antioquia, onde pela primeira vez os fiéis ao Cristo foram chamados de Cristãos. Foi também a morte de Estevão, que primeiro pôs em evidência Saulo, então ainda um fanático fariseu, que atacava selvagemente a Igreja Cristã, mas que estava divinamente indicado para tornar-se o mais ardoroso e frutificante dos Apóstolos do Senhor. Sua conversão para o Cristianismo ocorreu no ano 35 D.C. fora de Damasco. Uma grande luz brilhou subitamente cercando-o, e a voz do Salvador soou em seus ouvidos: "Saulo, Saulo, porque me persegues. É duro para ti recalcitrar contra os aguilhões. "Então ele foi batizado, mudando seu nome de Saulo para Paulo; os Apóstolos o receberam em sua fraternidade, e, cercado por perigos e perseguições, ele embarcou naquelas grandes e missionárias jornadas que fariam do Cristianismo uma fé universal.

As Jornadas do Apóstolo Paulo.
Em sua primeira jornada missionária (45-51), Paulo saiu de Antióquia na Síria e após visitar em um turno Seleucia, Chipre, Perga em Panfilia, Antioquia em Pisidia, Iconio, Lysdra e Derbe, ele então, retornou para seu ponto-de-partida para logo depois atender o Sinodo Apostólico em Jerusalém, onde ele defendeu a independência do Cristianismo das formas e cerimônias prescritas pela lei Mosaica, Sua segunda jornada missionária (53-55) foi feita com o intuito de visitar e reforçar na fé as comunidades estabelecidas recentemente, mas seu zêlo dirigiu-o para Troas, no lado mais distante da Asia Menor, onde ele tomou um barco para a Europa e fundou as Igrejas de Filipo, Amfipolis, Apolônia, Tessalônica, Berea, Atenas e Corinto. E na sua terceira jornada missionária (56-59), Paulo adotou por algum tempo como seu quartel general a grande cidade de Efeso na Asia Menor, para desgôsto dos devotos de de Diana. De lá, prosseguiu para visitar as comunidades recem-fundadas na Macedônia e na Grécia, e no seu caminho de volta pregou o Evangelho em Metilene, Chios, Samos, Mileto, Cos, Rhodes e Tiro na Tenícia, retornando à Jerusalém pelo caminho da Cesaréia.

A Prisão e Martírio de Paulo.
Mas os judeus, que nunca cessaram de perseguir Paulo como um traidor e corruptor de sua religião, agarraram-no e o puseram na prisão, primeiro em Jerusalém depois em Cesaréia. Por dois anos o Apóstolo esperou em vão por sua absolvição pelo procurador romano; sob a influência dos judeus, o procurador adiou o julgamento dia por dia. Finalmente Paulo, como cidadão romano, apelou para seu direito de apelar diretamente ao César, e assim ele foi mandado acorrentado para Roma, aonde depois de uma viagem tempestuosa ele chegou em A.D. 62. Lá, apesar de estar sempre sob guarda militar, ele viveu em uma casa própria onde ele esteve autorizado a receber livremente e pregar o Evangelho para todos na grande capital do Império Romano. Nesse ponto, a narrativa dos Atos dos Apóstolos chega ao fim. De acordo com certos escritores antigos, o martírio de Paulo teve lugar sob Nero em A.D. 64, imediatamente depois do período na prisão. Outros, no entanto, afirmam que nessa ocasião ele foi libertado, e depois de ter feito ainda uma quarta jornada "para o mais longinquo ocidente" (isto é, Espanha), ele voltou à Roma, onde ele foi decapitado em A.D. 66 ou 67.

O Apóstolo Pedro.
Paulo que devotou quase toda sua energia à conversão dos pagãos, tem sido chamado o " Apóstolo dos Gentios"; Pedro, por outro lado, colocou toda sua atenção nos judeus, e por isso é conhecido como o "Apóstolo da Circuncisão." Seu batizado do meio-Pagão centurião Cornelius, depois de receber em uma visão a divina ordem de não chamar de comum aqueles a quem o Senhor havia puruficado, foi um mero episódio na carreira de um homem cuja vida foi dedicada exclusivamente a seus companheiros judeus. Primeiro Pedro ficou em Jerusalém com os outros Apóstolos, e desempenhou um papel importante nos primeiros estágios do Cristianismo. Sua vida foi ameaçada por Herodes Agripa, para grande satisfação dos judeus, mas após sua escapada milagrosa da prisão, ele logo deixou Jerusalém e viajou por Pontus, Galatia, Bitinia e outras partes da Asia Menor. Por muitos anos ele cuidou dos Cristãos de Antioquia como seu primeiro Bispo. Mas, como Paulo, ele finalmente chegou a Roma, onde, de acordo com a tradição, foi crucificado no reinado de Nero, de cabeça para baixo, já que ele se considerava mesmo na morte, indigno de ser colocado no mesmo nível que seu Salvador. A história do martírio de Pedro deve ser encarada como fato estabelecido, sendo sustentada tanto pela previsão de Nosso Senhor (conforme João 21:18) e pela evidência de escritores antigos; que ele floresceu como Bispo de Roma por vinte e cinco anos é, no entanto, somente um mito. No A.D. 51 ele estava presente no Sinodo Apostólico em Jerusalém. Em A.D. 58, Paulo escrevendo sua Epístola aos Romanos, não menciona seu nome, apesar de mandar saudações para muitos fiéis de Roma. Em A.D. 62 quando Paulo chegou a Roma como prisioneiro, Pedro não veio cumprimentá-lo, e apesar de Pedro escrever várias de suas Epístolas durante sua estadia em Roma, não o menciona nenhuma vez. O historiador Eusébio, alem disso, fala de Lino como primeiro Bispo de Roma.

Os Outros Apóstolos.
Como Pedro e Paulo, os outros apóstolos também selaram suas mensagens com seu sangue. Tiago, o mais velho, o irmão de João, foi decapitado em Jerusalém sob Herodes Agripa, de acordo com o indisputável testemunho dos Atos dos Apóstolos. Tiago o mais novo, ou "Adelphotheos," que tornou-se o primeiro Bispo de Jerusalém depois da partida dos outros apóstolos, foi jogado do pináculo do templo, de acordo com Hegisippus, e apedrejado pelos judeus quando confessou Jesus Cristo o Filho de Deus. André, que viajou por Scythia e fundou a primeira Igreja Cristã em Bizâncio foi crucificado em Patras, assim diz a tradição, numa cruz em X que desde então leva seu nome; enquanto Tomé teve seu lado furado por uma lança depois de uma frutífera carreira na Pérsia, Etiópia e India. Na verdade, praticamente todos os Apóstolos coroaram o trabalho da vida com morte por martírio, apesar de em muitos pontos suas histórias serem obscuras e confusas, tendo sido passadas para nós não por histórias autenticadas mas sim por tradição popular.

O Apóstolo João.
Uma única exceção, foi João, o discípulo Amado, o mais jovem de todos, que morreu pacificamente no ano de encerramento do primeiro século da era Cristã. Depois da dispersão de seus companheiros discípulos, João fez de Efeso o centro de suas atividades, e dali dirigiu todo o trabalho missionário na Asia Menor, especialmente depois da morte dos outros Apóstolos. Durante o reinado do Imperador Domiciano ele foi banido por um tempo para a ilha de Patmos, onde, segundo a maneira dos antigos profetas, ele escreveu o Livro da Revelação. Mas foi devolvido para seu rebanho, e viveu entre eles até tal idade avançada que no final de sua vida tinha que ser carregado para o local de celebração, onde, muito fraco para fazer um longo discurso, limitou todo seu ensinamento a essas simples palavras: "Crianças, amem-se umas as outras." Pois para João a síntese de toda moralidade Cristã é o amor. É delatado que esse Apóstolo foi fortemente atraido por um excelente e dotado jovem e o adotou como filho. Mas o jovem, durante a ausência do Apóstolo, foi desviado por companhias perniciosas e tornou-se um chefe de bandoleiros. O velho Apóstolo subiu para as montanhas e procurou até que encontrou sua ovelha desgarrada, quando colocando-o nos ombros trouxe-o de volta, arrependido, para o rebanho Cristão.

2. O Conflito entre Cristianismo e Paganismo.

Progresso com Impecilhos.
Sob os sucessores dos Apóstolos durante o segundo e terceiro século, o Cristianismo ainda continuou a ganhar terreno dia a dia. O filósofo e mártir Justino, que morreu em A.D. 166, foi já capaz de afirmar que em seu tempo existiam pouquissimas raças de homens na terra, bárbaros ou civilizados, nomades ou morando em tendas, entre os quais não eram oferecidas orações para o verdadeiro Deus, revelado através de Jesus Cristo. E os fatos provaram que a afirmação de Justino não era uma simples retórica bombástica. Na Asia Menor, na Bitinia, o jovem Plínio viu com alarme o rápido espalhamento da nova religião. Na Síria, a luz do Evangelho brilhou de Antioquia como uma terra luminosa. Em Atenas os Bispos apostólicos, Diniz o Aeropagita e Quadratus, continuaram a pregação de Paulo para o Deus desconhecido. Na Itália as comunidades Cristãs estavam se multiplicando, como Roma sendo sua metrópole espiritual; enquanto que no sul da França, Lyons e Vienne eram proeminentes centros Cristãos. Na África, grandes homens da Igreja cobriram Cartago de glória, e disseminaram a fé nas cidades vizinhas; enquanto que a Igreja de Alexandria fundada por Marcos o Evangelista, era como outro faraó para o Egito. Mas esse progresso não foi obtido sem encontrar sérios obstáculos. O Império Romano, que detinha a chefia do mundo, era um império pagão, e naturalmente olhou para a minação do paganismo como o equivalente a ameaça sobre suas próprias bases. Levantou-se então, a onda de perseguições dos tres primeiros séculos, que se interrompia às vêzes em intervalos mas voltava com renovada violência, com o objetivo de exterminar a fé Cristã, até que após trezentos anos de luta o Império depôs sua espada aos pés de Cristo.

Perseguição Sob Nero e Domiciano.
A primeira perseguição teve lugar no reinado de Nero, em A.D. 64. Esse monarca endemoninhado e demente que havia matado seu tutor, seu irmão e sua mãe com tanto gosto como se estivesse lendo poemas de Homero, pos em sua cabeça por fogo em Roma, para ter uma impressão realista da queima de Tróia pelos Gregos. Mas seu povo descobriu a origem da conflagração, e para se salvar da raiva do povo ele jogou a responsabilidade sob a seita recém criada dos Cristãos, de quem os pagãos já tinham ódio por considerá-los pessoas atéias e anti-sociais. Alguns dos Cristãos foram crucificados, alguns serrados em dois; outros eram costurados pela pele e jogados aos cães, ou arremessados sem defesa, como presas para as feras. E outros lambuzados com alcatrão, eram empacados em estacas e acendidos como tochas para iluminar os jardins imperiais. Durante essa perseguição, como vimos, Pedro e Paulo foram martirizados. Em A.D. 95 Domiciano por sua vez perseguiu a nova fé, considerando que a crença em Jesus Cristo era incompatível com a crença na divindade do César Romano. A essa perseguição, deve-se a morte do sobrinho de Domiciano, Flávio Clemente, o banimento do Apóstolo João para Patmos, o martírio de Dinis, o aeropagita, e a execução, exílio ou aprisionamento de muitos outros Cristãos. Esse desconfiado Imperador, interpretando literalmente as palavras de Cristo sobre o Reino de Deus, chegou a enviar pessoas à Palestina para procurar os parentes de Nosso Senhor, para condená-los como revolucionários; mas quando ele viu seu ar de pobreza e suas mãos calosas, ele os dispensou como loucos.

Perseguição Sob Trajano.
Sob o Imperador Trajano (98-117A.D.) Plínio o Jovem, então governador da Bitinia e Pontus, observou o crescimento diário das comunidades Cristãs em sua província; e em dúvida de como checar o progresso dessa "supertição maligna e malévola," como ele a chamava, escreveu para o Imperador pedindo instruções. Trajano respondeu que nenhuma medida deveria ser tomada deliberadamente para caçar os Cristãos; mas, no entanto, se eles fossem levados para diante de magistrados, deveriam ser forçados a escolher entre sacrifícios aos deuses pagãos ou a morte. Assim, o Cristianismo, cujo destino tinha até então dependido do capricho de sucessivos imperadores, tornou-se daí em diante, pelas explícitas provisões da lei romana, uma ofensa punível. A vítima mais notável dessa perseguição foi o Bispo de Antióquia, Inácio Teóforo, por razões tanto de sua própria posição distinguida, quanto pela eminência de seu juiz; pois o próprio Imperador Trajano, durante uma campanha contra os Partas, aconteceu de passar por Antióquia, e Inácio apareceu diante dele para interceder a favor de seu rebanho. — "Quem és tú, espírito maligno, que despreza meus decretos?" perguntou Trajano. — "Um portador de Deus não pode ser chamado de espírito maligno" replicou Inácio. — "E que homem é um portador de Deus?" — "Aquele que carrega Cristo em seu peito." — "Quem é esse Cristo? Aquele que foi crucificado sob Pilatos?" — "Eu quero dizer Ele que crucificou o pecado, ó meu Senhor adorado!" — "E pensas tú que aqueles que adoramos não são deuses?" -"Ó rei, o que vos chamas deuses, são demônios, pois há um só Deus, aquele que criou o céu e a terra." — "Muito bem," disse Trajano; "eu ordeno que esse homem, que diz que ele carrega dentro dele o Cristo crucificado, seja mandado acorrentado para Roma, e que seja feito em pedaços pelas feras selvagens para o entretenimento do povo de Roma." Quando ouviu a decisão do Imperador, Inácio deu graças a Deus porque seria glorificado pelo fim que teve o Apóstolo Paulo; e, seguindo seus guardas, fez uma longa viagem para Roma, onde diante de milhares de espectadores ele foi jogado no Coliseu e devorado por feras.

A Perseguição Sob Adriano.
O sucessor de Trajano foi Adriano (117-138), a quem dois Cristãos ilustrados, Quadratus, Bispo de Atenas, e o filósofo ateniense, Aristides, endereçaram apologias sobre seus irmãos na fé. Adriano que era imperador justo, ficou impressionado pelos argumentos, e deu ordem para que dai em diante os Cristãos não deveriam ser molestados para satisfazer o calmor popular, e só quando eles fossem condenados por crimes comuns, poderiam ser punidos com a morte. Mas, desafortunadamente mesmo sob Adriano foi derramado sangue Cristão na Palestina, devido a um certo rebelde judeu, Bar-cochba, que agitou seus patrícios para se revoltarem contra o domínio de Roma. Bar-cochba foi morto, e a rebelião foi lavada com sangue judeu; no entanto, muitos Cristãos inocentes pereceram, porque popularmente o Cristianismo ainda era identificado com o judaismo. Adriano obliterou o nome de Jerusalem, que ele nomeou "Aelia Capitolina," e erigiu um templo para Venus no Golgota, e uma estátua de Júpiter no Santo Sepulcro.

A Perseguição Sob Marco Aurélio.
Uma nova série de perseguições contra os Cristãos foi iniciada por Marco Aurélio (161-180). Em parte porque ele ficou ressentido com a atitutde Cristã, calma e corajosa face à morte, e considerou isso um insulto à sua própria virtude estoica (porque Marco Aurélio era tanto o César quanto o filósofo); em parte porque seu povo atribuia pragas e outros desastres similares à ira dos deuses por sua tolerância com o ateismo Cristão, rescindindo então o Imperador as leis moderadas de Adriano. A perseguição dos Cristãos somente por seu cristianismo mais uma vez chegou a ordem do dia e até tortura foi posta em serviço para que eles fossem forçados a se retratar. Foi nesse tempo que Policarpo, que junto com Inácio tinha sido um discípulo de São João, foi queimado vivo na arena de Esmirna. — "Queres amaldiçoar Cristo?" o proconsul o ameaçou. — "Por oitenta e seis anos eu servi o Senhor, e ele nunca me fez mal," respondeu Santo, "como poderei eu então falar mal nele agora, meu Senhor e Salvador?" Os pagãos trataram de apressá-lo, para a estaca com pregos, mas Policarpo protestou. — "Suas precauções são desnecessárias, pois Deus me dará forças para permanecer solto nas chamas." Esse e outros eventos similares tiveram lugar na Ásia Menor em 166. Em 177 a perseguição explodiu de novo mais violentamente do que nunca, epecialmente na Gália do Sul. Em Lyons, entre outras vítimas, o nonagenario Bispo da cidade, Pothinus, sucumbiu a cruéis torturas; enquanto a menina escrava Blandina era ferida com arma branca até a morte na arena de touros. Em Autun, Simphorian foi decapitado por se recusar a ajoelhar-se e adorar a imagem de Cibele quando sua frenética procissão estava passando ridicularizando o dogma Cristão da ressureição dos mortos, os pagãos queimavam os corpos dos mártires e espalhavam suas cinzas nas águas do rio Rhone, dizendo: — "Agora vamos ver se eles ressuscitarão dos mortos, e se seu Deus tem poder suficiente para salvá-los de nossas mãos!"

As Perseguições Sob Sétimo Severo e Maximiano.
É dito que Sétimo Severo (192-211) foi o primeiro a se dispor favoravelmente aos Cristãos, porque foi curado de uma doença crônica pelas orações de um certo escravo Cristão chamado Proculus; mas em 202 ele subitamente mudou de idéia e emitiu um decreto proibindo a confissão do Cristianismo sob pena de morte. Essa perseguição, no entanto, não se tornou geral, e suas vítimas foram poucas e distantes umas das outras. No Egito São Leônidas foi decapitado, depois de receber, enquanto na prisão, uma notável carta de seu filho de quinze anos, que veio a ser mais tarde o famoso Origenes, exortando-o a não enfraquecer em face do martírio. Uma jovem, Potamiaena, com sua mãe Marcela, foram jogadas em breu fervente; e tão grande foi sua sorte que seu executor, Basilides, foi movido a confessar Cristo e a seguiu no martírio. Perpetua, uma nobre matrona de Cártago, foi exposta a um touro ferido enfurecido com seu bebê nos braços, enquanto seu pai já velho inutilmente suplicava pela pouca idade de sua filha e seu bebê. O Cristianismo foi novamente perseguido por Maximiano (235-238) que sucedeu ao trono assassinando Alexandre Severo. Este último tinha sido bem disposto para com o Cristianismo, e tinha colocado um busto de Cristo em sua capela, ao lado de suas estátuas de Apolônio e Orfeu; e foi por que o eclético Alexandre Severo havia cultivado relações com os Bispos Cristãos, que Maximiano descarregou seu ódio mais particularmente sobre eles.

A Perseguição Deciana.
Até então, todas perseguições tinham sido mais ou menos locais, dependendo principalmente da disposição dos governadores provinciais, dos quais os mais fanáticos forçavam estritamente os decretos imperiais, enquanto os mais tolerantes procuravam meios de escapar dos decretos. Mas no reinado de Décio (249-251), as perseguições tornaram-se não só generalizadas mas também severamente sistemáticas. Daí em diante, um limite de tempo foi imposto para todos os Cristãos em todos os lugares, para que eles se apresentassem diante das autoridades, fizessem sacrifícios para os deuses pagãos, e assim obtivessem um certificado de retratação. Muitos Cristãos, cedendo à torturas, eram forçados a sacrificar aos ídolos contara sua consciência; outros manobravam para comprar seus certificados, para grande tristeza da Igreja, que considerava tais expedientes como equivalentes a apostasia. Mas muitos outros, como Alexandre, Bispo de Jerusalém, Babilas de Antióquia e Fabiano de Roma, preferiram o martírio à hipocrisia; e, de fato, o exército daqueles que confessaram sua fé superou de muito o de pobres-de-espírito e apóstatas. A "odiosa superstição," à qual Décio, um verdadeiro ainda que desorientado patriota, atribuia a decadência do Império Romano, provou ser ela mais forte que a fraqueza humana.

A Perseguição Sob Valeriano.
De 257 para frente, Valeriano (253-260) por sua vez, renovou a política anti-Cristã de Décio. Ele tentou, exilando seus Bispos, tornar as comunidades Cristãs sem liderança, e assim mais facilmente dissolível. Mas os Bispos, dos seus exílios distantes, não só se comunicavam por cartas com seus rebanhos e os dirigiam com se estivessem presentes, mas também espalharam o Evangelho nos lugares onde estavam exilados. O martírio de Cipriano, Bispo de Cartago, e o de Sixto de Roma, tiveram lugar no reinado de Valeriano; em Roma também, o diácono Lourenço foi assado de acordo com a tradição, numa grelha levada a vermelho de quente, porque quando o governador exigiu a entrega do tesouro da Igreja, ele apontava para as viúvas e orfãos, dizendo: "tomem conta do tesouro da Igreja."

A Perseguição Sob Deoclecian.
O último e mais forte golpe contra o Cristianismo foi dado por Deocleciano (284-305). Submetendo-se de um lado a insistência de seu fanático genro Galerius e de certos filósofos neo-platônicos, que imaginavam que deveriam ainda sustentar os vacilantes deuses do paganismo, o Imperador ainda esperava restaurar a uniformidade da religião para juntar os fragmentos do seu império em fase de desintegração. Em A.D. 303 ele publicou em Nicéia seu primeiro édito contra o Cristianismo, que foi seguido imediatamente por outros três. As Igrejas Cristãs que haviam sido construidas durante os anos prévios de paz, foram aprazadas até o chão; as Sagradas Escrituras eram queimadas, e bispos e padres condenados à morte. Cristãos que mantinham cargos públicos foram expelidos de seus postos. As prisões gemiam com os prisioneiros e o sangue dos mártires fluía como um rio. Mas essa grande prova finalmente passou sem conseguir obstruir o progresso do Evangelho, pois nessa época o Cristianismo mantinha controle sobre pelo menos um décimo dos assuntos do Império Romano, e contava em seu número com pessoas eminentes como a própria mulher de Deocleciano, Prisca e sua filha, Valéria. Em 305, Deocleciano tornou-se insano e abdicou. Em 311, Galerius foi tomado por uma doença fatal,e, atribuindo isso ao seu injusto tratamento para com os Cristãos, emitiu um édito de tolerância, assinado juntamente com seus colegas Constantino e Licínio, inclusive convidando os Cristãos a rezar por ele. O Cristianismo estava triunfante.

3. O Triunfo do Cristianismo sobre o Paganismo.

Constantino o Grande.
A perseguição dos Cristãos não foi levada inenterruptamente do começo ao fim. Existiram intervalos pacíficos que capacitaram as vítimas a se reorganizarem e aumentarem seus números; pois certos imperadores, apoderados, como Heliogabalus (218-222), por uma vida de luxúria, ou que manifestavam, como Alexandre Severo (222-235), uma filosofia eclética, ou em simpatia com o Cristianismo, como Philipe o Árabe (244-249), deixaram os Cristãos não incomodados. Mas a perseguição foi posta a fim por Constantino o Grande, que foi destinado pela Providência a entronar o Cristianismo como religião oficial do estado, e a quem pelos grandes serviços prestados ao Cristianismo nossa Igreja ainda comemora-o como um "Isapóstolo," isso é, igual aos Apóstolos.

A Visão da Cruz.
Constantino erao filho de Constâncio Cloro, César sobre a Gália, Britânia e Espanha, a quem ele, Constantino, sucedeu em A.D. 306. Afortunado por ter um pai eclético, e uma mãe Cristã devota, Helena, ele seguiu de perto a ineficaz luta do paganismo expirante contra o Cristianismo, e não demorou em constatar que a religião do futuro seria essa nova fé, que parecia a ele ter um caráter sobrenatural. Ele foi ainda mais reforçado nessa fé por um episódio que teve lugar em A.D. 312, enquanto ele estava marchando para Roma numa campanha contra seu colega Maxentius, Augusto do ocidente. Cerca do meio-dia, ele viu o sinal da cruz misteriosamente traçado no céu com as palavras "com esse sinal vencerás" e quando ele estava dormindo nessa noite, Cristo apareceu e exortou-o a usar esse símbolo como seu estandarte imperial. Ele fez como lhe foi comandado e sua vitória subsequente sobre o pagão Maxentius foi a vitória da verdade Cristã sobre o erro pagão.

Constantino como Campeão do Cristianismo.
Assim Constantino tornou-se o único mandatario do ocidente e em conjunto com seu colega no oriente Licinius, editou um ato de tolerância em Milão, que foi projetado para favorecer a propagação do Evangelho de maneira sem precedente. Em 323 ele rompeu também com Licinius, e depois de derrotá-lo e ser proclamado único mandatário, logo procedeu a manifestar seu interesse no Cristianismo por medidas mais vigorosas. Ele restituiu as comunidades Cristãs, propriedades que lhes haviam sido confiscadas pelas autoridades civis e conferiu a elas o direito de receberem doações e legados. Introduziu no exército, pela primeira vez, uma forma de oração monoteista; supriu as igrejas com cópias das Sagradas Escrituras, apontou os domingos como feriado, e proibiu a crucificação como método de execução para criminosos. Ajudou sua piedosa mãe a encontrar a verdadeira cruz no Gólgota e a construir o Santo Sepulcro, e quando, em A.D. 330, ele construiu Constantinopla, no lugar da antiga Bizâncio no mar Bósforo, e adornou com igrejas e outros monumentos admiráveis, a chamou de "Nova Roma," para marcá-la como ponto-de-partida dessa nova vida, e para cortar para sempre as abominações da antiga Roma. Mas Constantino era esperto suficiente para evitar fazer mudanças súbitas que poderiam levantar ressentimentos e embaraçar seu trabalho de reforma; assim ele instigou não haver perseguições aos pagãos, e reteve o título de "Pontífice Máximo" como um inseparável adjunto a seu status imperial. Sua vida privada, igual aquela de todos os monarcas que viveram em um ambiente suspeito, não esteve livre de feias manchas; antes de ser batizado, Constantino foi responsável pela morte de sua mulher Fausta e de seu filho Crispus. Mas o arrependimento sincero com o qual ele recebeu o batismo no fim de sua vida, purificou sua alma de culpa, e muito lhe será perdoado pelo grande amor que dedicou a Igreja de Cristo. Davi, também era um pecador; no entanto ele mantém seu merecido lugar na galeria dos Santos em virtude do seu arrependimento, que lavou seu pecado dobrado, e levou para a posteridade seu grande trabalho para o Senhor puro e imaculado.

Os Filhos de Constantino o Grande.
Constantino o Grande morreu em A.D. 337, deixando três filhos, Constantino II, Constâncius e Constans, que, infelizmente, não seguiram a política prudente de seu pai. Ao invés de deixar o paganismo, que estava decaindo dia a dia, expirar por conta própria, como Constantino havia feito, fizeram uso da violência. Fecharam templos pagãos à força, e exigiram das pessoas da corte uma profissão de fé no Cristianismo, que só serviu para tornar muitas das pessoas da corte hipócritas. Essa política encontrou seu próprio fim, pois levantou o fanatismo dos pagãos perseguidos, e conduziu-os a se reunirem em maquinações secretas até que uma oportunidade adequada se apresentou para o surgimento público da feroz oposição. Essa oportunidade ocorreu na ascenção de Juliano para o trono imperial. Apesar de sobrinho de Constantino o Grande esse poeta sonhador era um amante dos deuses pagãos, para quem foi levado tanto pela sua natural disposição para a poesia como em razão dos muitos atos de violência e assassinatos cometidos contra sua família pelos filhos de Constantino o Grande.

Juliano o Apóstata.
Juliano imaginava que tivesse sido designado pelo destino a reviver a religião do paganismo, e essa crença era encobertamente cultivada pelos filósofos desses tempos. Primeiro ele pretendeu ser um Cristão, e até mesmo leu as escrituras em igreja. Mas em 361 Constâncius, que em consequência da morte de seus irmãos, estava sendo o único governante desde 353, morreu subitamente; e Juliano, ascendendo ao trono pela aclamação de seus soldados que o adoravam em vista de suas virtudes militares, mostrou-se em suas verdadeiras cores como alguém que odiava violentamente o Cristianismo. Ele proibiu o atendimento de Cristãos nas escolas gregas ironicamente delegando-os aos Galileus, Mateus e Lucas. Intimou Bispos turbulentos a voltar do exílio para fomentar disputas e perturbações nas comunidades Cristãs. Impos taxas ao clero, e aboliu o direito da Igreja de receber doações. Enviou construtores para Jerusalem para reconstruirem o templo judeu, que tinha sido destruido no reinado de Titus (A.D.70), para desmentir a profecia do Senhor a respeito de sua destruição. Tentou reviver os oráculos que por muitos anos tinham permanecido em silêncio; presidiu cerimônias públicas pagãs sacrificando ele mesmo frequentemente elaboradas hecatombes. Ele introduziu no paganismo canto-coral, a pregação de sermões e recolhimento de dinheiro e bens para os pobres, todos esses itens emprestados do Cristianismo. Mas todos os seus esforços foram em vão, e após um reinado de vinte meses somente o Apóstata e Transgressor — assim a história estigmatizou — morreu de um ferimento no fígado que recebeu em batalha contra os persas. É dito que ele quando estava deitado morrendo, encheu sua mão com sangue de seu ferimento, e, jogando as gotas de sangue no ar como se Cristo estivesse diante dele, clamou com sua voz moribunda: "Tu conquistaste, Galileu!"

Os Sucessores de Juliano Abolem o Paganismo.
Os Imperadores que sucederam Juliano continuaram a política de Constantino o Grande, mas com o progressivo aumento da severidade contra o paganismo. Foi durante o reinado de Valentiniano I (A.D. 375), que a idolatria foi primeiramente caracterizada como "paganismus," isto é, a religião das aldeias, e desde então foi praticamente erradicada dos grandes centros.Graciano (A.D.383), considerou que havia chegado o tempo de despir a si próprio do título de Grande Alto Sacerdote, que Constantino o Grande havia retido, como tem sido dito, para não ofender as suscetibilidades da maioria de seus súditos; também foi Graciano, que ordenou a remoção do altar da Vitória que permanecia desde os velhos tempos no Senado Romano. No reinado de Teodósio I o Grande (A.D.395), a colossal estátua de Serapis em Alexandria foi derrubada e queimada, para o espanto dos seus adoradores que esperavam que a destruição da estátua fosse a precursora do fim do mundo; e ao mesmo tempo foram promulgadas leis que proibiam severamente a idolatria, o que forneceu a desculpa para Cristãos desorientiados, para bater com paus e machados em ídolos e idólatras. Sob Theodosius II (A.D. 450), certos Cristãos fanáticos em Alexandria, atacaram a filósofa Neoplatônica Hypatia, que era renomada por sua sabedoria, beleza e virtude, e a mataram, desfigurando assim, com mancha indelével as páginas da história Cristã, pois Hypatia era reverenciada até mesmo pelos Bispos Cristãos. A lista de violências contra o paganismo deve ser também acrescentada a supressão da Escola Filosófica de Atenas, sob Justiniano em A.D. 529. Esse era o último refúgio do paganismo e era frequentado até mesmo por grandes padres da Igreja, que reconheciam seu valor escolástico.

Cristianismo na Armênia e Ibéria.
Enquanto o cristianismo estava se espalhando dentro do Império Romano, viu ao mesmo tempo novos campos para conquista fora do Império; — na Ásia entre os Armênios, Iberos, Persas, Arabes e Hindus; na África entre os Abissínios e na Europa reconstruida entre tribos que tinham justamente aparecido pela primeira vez. Os Armênios receberam o Cristianismo principalmente de Gregório, que floresceu no século quatro e foi justamente chamado de o "Iluminador." Gregório, fugindo da ira do Rei Tiridates, que havia trucidado todo o seu lar, refugiou-se em Cesaréia na Capadócia, aonde ele foi levado para a fé Cristã. Retornando a sua terra natal, pregou Jesus com tal fervor que até mesmo o selvagem Tiridates se batizou com toda sua corte, e arrastou todos seus súditos atrás de si para o Cristianismo.O trabalho do iluminador foi continuado por Narses, Sahak e especialmente por Mesrop, que inventou o alfabeto armênio em A.D. 400 e traduziu a Sagrada Escritura, dando assim um primeiro impulso para a criação de uma admirável literatura armênia. Os Iberos e ou Georgianos , vizinhos dos armênios, foram evangelizados no século quatro A.D. por uma devota escrava armênia, por nome Nonna, a quem os Iberos ainda homenageiam como um apóstolo. É dito que uma certa criança ficou doente, e de acordo com o costume local, os pais a carregaram de casa em casa, na esperança de encontrar alguem com capacidade de cura que pudesse curá-la. Quando chegaram a casa de Nonna, ela orou a Cristo e curou a criança. Essa história espalhou-se e chegou ao palácio, onde a rainha também estava doente; e Nonna, chamada para lá, curou a rainha também, ganhando assim o povo por seus dirigentes.

Cristianismo na Pérsia, Arábia e Abissínia.
Parece ter havido um considerável número de Cristãos na Pérsia durante o século quatro com o Bispo de Seleucia e Ctesiphon como seus cabeças; pois como poderiamos de outra maneira contar com os vastos números que sofreram martírio pela fé durante as perseguições instigadas pelos dois Reis, Shapoor e Bahram? Infelizmente, porém, o Cristianismo não sobreviveu na Pérsia. A religião nacional da Pérsia era o Zoroastrianismo que admite dois deuses e tenta explicar através deles todos os fenômenos, tanto do bem quanto do mal; e eles naturalmente odiavam qualquer outra religião que lhes proporcionasse uma explicação diferente. Eram, alem disso, engajados constantemente em guerras com os Bizantinos, o que por um lado dava-lhes outra razão ainda para perseguir a religião dos seus inimigos mortais, e por outro lado fazia-os receberem de braços abertos vários heréticos Cristãos, que fossem adversários da religião oficial do Império Bizantino. Na Arábia também, o Cristianismo fez uma rápida aparição. Durante o período dos filhos de Constantino, o Grande era o Cristianismo pregado lá por monges e eremitas, mas foi finalmente extinto no século sete pelo advento do Mohamedismo, do qual trataremos mas completamente mais adiante. Cerca do ano 535, Cosmas Indicopleustes encontrou Cristãos na Índia que chamavam a si próprios de "Cristãos de Tomé," pleiteando terem primeiro recebido o Evangelho de tal Apóstolo. Na Abissínia, o Evangelho foi pregado pelo nobre Frumentius, que caiu na mão dos dos abissínios em A.D. 327. Depois, foi para Alexandria, onde foi ordenado Bispo por Atanásio o Grande, e retornou para continuar seu trabalho missionário na Abssínia.

Cristianismo e os Novos Povos do Ocidente.
No século quarto o Ocidente foi invadido por povos bárbaros do norte, conhecidos pelo termo comum de "germanos', cujas incursões devastaram a Europa. Os Ostrogoros foram os primeiros dentre eles a abraçar o Cristianismo graças, principalmente, aos esforços de Ulfilas o Capadócio (A.D. 388), que foi Bispo deles durante quarenta anos, durante os quais inventou o alfabeto gótico e traduziu as Escrituras. Dos ostrogoros o Cristianismo se espalhou para Visigôdos, que saquearam Roma em 410; para os vândalos, que em 439 estabeleceram um grande império no norte da África; e para os Lombardos que afloraram na Itália no século sexto; e para muitas outras tribos. Mas todas essas tribos receberam o Cristianismo na forma de Arianismo. Só os francos que se tornaram Cristãos em 496 sob Clóvis e sua mulher Cristã Clotilda, receberam a fé ortodoxa; e pouco a pouco, através da influência dos francos, as outras tribos abjuraram o erro ariano. Os Irlandeses, cuja religião era de natureza druídica, foram ganhos para o Cristianismo por São Patrick (A.D. 493), que ao morrer deixou uma grande quantidade de Igrejas e discípulos para continuar sua obra. Dois de seus discípulos, Columba e Columbanus, pregaram o Evangelho para os escoceses e para os suiços respectivamente. Uma grande progressão para o espalhamento do Cristianismo no Ocidente foi feito pelo Papa Gregório o Grande, que fez do monasticismo um orgão missionário, e em 597 mandou o monge Agostinho com seus quarenta companheiros para a Inglaterra, para evangelizar os anglo-saxões. Gregório o Grande é a mais vivida encarnação do Papado — daquele papado que levou ao zenith de sua glória por explorar toda anomalia política, e baseada na corrupção da Idade Média, somente para surgir novamente depois como um sistema mais compacto, despótico e militante do que antes.

4. Os Perigos da Heresia.

A Atitude da Igreja com os Heréticos.
Assim como a vida da Igreja de Cristo foi ameaçada de fora por fogo e espada, também foi ameaçada por dentro pelas heresias. A palavra "heresia" significa "escolha"; assim, os heréticos, não satisfeitos com a plena e impoluta verdade dos Evangelhos e desejando combinar a ideologia Cristã com outras estranhas a ela, escolheram aqui e ali o que lhes agradava e assim compuseram uma miscelânia de idéias conflitantes, com as quais subsistuiram a fé pura. A Igreja, como depositária da verdadeira fé Cristã apostólica, tomou nota desses erros; e reunindo seus representantes canônicos para concílios locais ou gerais, examinou escrupulosamente os assuntos em questão com base nas Sagradas Escrituras e na tradição apostólica, e declarou qual era a verdadeira fé e quais eram as heresias distorcidas. Devido ao fato de que muitos heréticos forjaram assim chamados "documentos sagrados" para suporte de seus erros e os incluiram na Sagrada Escritura, enquanto outros se referiram a tradições de sua própria invenção, a Igreja foi logo obrigada a acertar e definir o Canon das Sagradas Escrituras e a verdadeira tradição apostólica, que não eram transientes ou sectários, mas tem sido preservados "sempre, em todo lugar, por todos" que acreditam em Cristo. A igreja colheu outros benefícios, advindos de seus conflitos com as heresias, sendo forçada de um lado a melhorar seu sistema de governo de modo a conter mais efetivamente os heréticos; e do outro lado a aperfeiçoar sua pregação de sermões e sua salmodia, de modo a popularizar suas doutrinas ortodoxas, como os heréticos haviam feito para disseminar seus falsos ensinamentos.

Judeus Heréticos: Ebionitas, Nazarenos, Elkesaitas.
As primeiras heresias contra as quais a Igreja teve que lutar eram Judaicas como era natural pois o Cristianismo primeiro se espalhou em solo Judeu, e alguns dos prosélitos Judeus acharam difícil renunciar a seus velhos modos de pensar. Existiram três seitas principais de Judeus heréticos. Primeiramente os Ebonitas que insistiram no rito Judeu da circuncisão assim como contra o batismo Cristão, e rejeitaram toda Santa Escritura exceto o Pentateuco do Velho Testamento e o Evagelho de São Mateus no Novo, mas esse mesmo sendo mutilado para ser adptado ao gosto deles. Eles colocaram Cristo quase no nível de Moisés; e eram chamados Ebionitas — isto é, pobres, — porque tinham somente um pobre e baixo conceito de Jesus Cristo. Em segundo lugar, os Nazarenos, cujo credo era um pouco mais elevado que o dos Ebionitas; pois eles aceitavam a Biblia em sua totalidade, e ensinavam que Cristo havia nascido sobrenaturalmente, e era portanto maior do que os profetas, mas instiam na circuncisão à qual atribuiam validade eterna. Eles eram conhecidos como Nazarenos porque eles se consideravam os verdadeiros e originais seguidores do Nazareno; pois no início todos os Cristãos eram chamados de Nazarenos. E em terceiro lugar, os Elkesaitas assim chamados por ser seu lider Elkesai, que de um lado misturou Judaismo com Cristianismo, honrando os comandos da Lei como se eles fossem dogmas eternos e rejeitando da Biblia todos os livros que não combinassem com sua doutrina; e de outro lado mergulhados nas artes ocultas, jactavam-se de suas próprias Escrituras Sagradas, que, eles alegavam ter sido comunicadas a eles exclusivamente por Deus.

Judeus Heréticos: Ceríntios.
Outra seita de Judeus Heréticos foi a dos Ceríntios, cujo lider foi Ceríntio, um contemporâneo dos Apóstolos. É dito que São João Evangelista encontrou uma vez Ceríntio num banho público, para o qual ele havia ido para se lavar e imediatamente apressou-se em sair, clamando: "Voemos para fora desse lugar, antes que esse banho se despedace; pois Ceríntio está ai, o inimigo da verdade." Como todos os Judeus Heréticos, Ceríntio denunciou São Paulo como um inimigo da circuncisão, e rejeitou suas Epístolas. Seu ensinamento sobre o Salvador era curioso; pois ele afirmava que originalmente Jesus era um mero homem, o filho de José e Maria, mas quando ele foi batizado no Jordão, Cristo desceu sobre ele na forma de pomba e deu ao homem Jesus o poder de realizar of milagres de seu ministério público. Na Crucificação, Cristo e Jesus foram separados; Cristo ascendeu de novo ao Ceu, enquanto Jesus, abandonado à sua fragilidade humana, sofreu a morte na Cruz. Ceríntio é também tido por alguns como sendo o autor da heresia do Chiliasmo ou Milenarismo, uma falsa doutrina baseada num escrito do Salmista dizendo que mil anos à vista do Senhor não é mais do que um único dia. Dai ele (Ceríntio) deduziu que já que o mundo foi criado em seis dias, seguido pelo Sábado, ele então continuara a existir seis mil anos, após os quais vira um milênio de festa e delícias sensuais, que será a era Messiânica. Um tipo de milênio espiritual foi pregado por certos Padres Cristãos durante as perseguições, inspirados pela crença que Cristo regressaria logo, trazendo a salvação para eles. Mas a grande ilusão das imaginações fervilhou pelos sonhos materialísticos Judeus.

Gnósticos.
Enquanto as heresias Judaicas tentaram enxertar Cristianismo no Judaismo, os Gnósticos tentaram com uma estranha falta de julgamento e uma desenfreada imaginação, adulterar a Revelação divina com invenções na filosofia humana. As doutrinas desses heréticos, também, foram muitas e variadas, algumas delas (a dos Alexandrinos) sendo influenciada pela filosofia platônica, enquanto outras (a dos Sírios), foram baseadas no dualismo persa; mas certas características foram comuns a todos os Gnósticos. Acreditavam serem os receptores privilegiados de uma revelação especial repentina, que chamaram de "gnosis," ou conhecimento, e por meio da qual eram capazes de resolver o problema da vida. Desde que o mais difícil problema de todos é a existência do mal, imaginaram ter resolvido esse problema atribuindo-o à matéria, na qual as almas recaidas do mundo da luz são mantidas, cativas. Mas porque Deus, como é descrito nos Evangelhos, é um Deus de bondade, e não é possível que uma matéria maligna proceda de um Deus bom, eles foram levados à suposição da existência de dois Deuses, — o Deus do Novo Testamento, Que comandou o reino da luz, e o Deus do Velho Testamento, que criou a matéria e seria o "Demiurgo, ou o criador do universo. De acordo com os Gnósticos, portanto, matéria e a carne devem ser abominadas como criação do Deus do mal; e muitos deles submetem seus corpos a inauditas privações e tormentos, enquanto outros, ao contrário, degradam seu corpo com toda forma de vício para mostrar seu desprêzo pela carne. Cristo, na opinião da maioria dos Gnósticos, foi simplesmente uma emanação divina — um espírito mandado no mundo da luz para libertar as almas que estavam gemendo nas amarras da carne. Mas se Cristo foi um espírito, e pertenceu inteiramente ao reino da luz (assim argumentam os Gnósticos), sua conexão com a matéria teria sido totalmente impossível e incongruente. Cristo, então, não assumiu formal carnal; Deus e o homem não se uniram na pessoa do Salvador, e a alegada encarnação foi só uma "aparência," uma ilusão, uma ficção da imaginação dos observadores.

Maniqueus
Outra heresia baseada no dualismo persa foi o Maniqueísmo, que foi iniciado no terceiro século pelo persa Mani. Ele também acreditava na existência dos princípios, incriados e eternos, guerreando perpetuamente um ao outro; Deus, Senhor do reino da luz, e Satan, Senhor do reino das trevas. Satan, tentado pelo reino da luz, uma vez tentou entrar nele, e por isso Deus trouxe o homem pela Mãe da Vida e enviou-o a lutar contra os poderes das trevas. Mas os poderes das trevas, em sua luta com o homem, atacaram sua alma, e teriam destruido completamente o homem, se Deus não tivesse se apressado em resgatá-lo revestindo Cristo que habitava no sol, com um corpo imaginário e enviando-o para baixo, para a terra, onde por Seus ensinamentos conseguiu a redenção do homem. Mas, infelizmente, de acordo com os Maniqueus, os Galileus (isto é, os Apóstolos), interpretaram mal o ensinamento de Cristo, Que então mandou Mani, maior que os Apóstolos (pois ele era o confortador predito por Cristo), para desembaraçar a verdade do erro. Assim os Maniqueus rejeitaram todos os livros canônicos do Novo Testamento, substituindo-os por evangelhos e epístolas de sua própria invenção. Consideraram Mani e seus sucessores como representantes de Cristo, e apontaram dentre eles 12 professores e 72 bispos correspondentes aos 12 Apóstolos e 72 Discípulos do Senhor. Além disso, se dividiram em duas classes — os Ouvintes ou círculo externo, e os Iniciados ou círculo interno. Sobre esses últimos era imposta não só estrito celibato, mas também abstenção de comida de origem animal, e respeito escrupuloso pela vida de insetos e flores.

Antitrinitários.
Entre os heréticos que apareceram nos primeiros séculos do Cristianismo devem ser considerados os Antitrinitários dos segundo e terceiro séculos, que tentaram elucidar a sobrenatural doutrina da Santíssima Trindade por meio de raciocínio humano. O problema que eles colocaram para si próprios era tentar conciliar a doutrina da Trindade com o Monoteísmo Cristão. Alguns, como Teodotus o Curtidor e Paulo de Samosata, atribuiram divindade somente para o Pai, e delegaram o filho para o status de profeta, grandioso em verdade e único, mas um simples mortal que havia recebido inspiração e iluminação do alto. Outros, como Noetus de Esmirna e Sabelius, o Líbio, reconheceram uma única pessoa divina que se manifestava em diferentes formas de acordo com as diferentes necessidades do mundo, adotando durante a Criação a figura do Pai, na Redenção a do Filho, e durante a sua direção da Igreja, a figura do Espírito Santo. Essas opiniões individuais, que não tiveram nada em comum com a fé Cristã, foram condenadas esporadicamente pelos primeiros Padres, até que discussões mais violentas sobre a pessoa do Salvador impeliram a Igreja a interpretar claramente seu ensinamento em sucessivos Concílios Ecumênicos.

5. Os Primeiros Seis Concílios Ecumênicos.

Arianismo.
No início do século quarto, um certo presbítero de Alexandria, por nome Arius, um homem de estrita moralidade, mas mais ligado ao aprendizado profano que à verdade dos Evangelhos, pregou que Cristo foi criado por Deus como na ferramenta com a qual Ele poderia criar o universo; que Ele foi a primeira de todas as coisas criadas mas não havia existido eternamente; que houve um tempo em que Ele não era, e Ele então era inferior a Deus o Pai. Essas teorias platônicas chegaram ao conhecimento de seu Bispo, Alexandre, que reuniu um Sínodo local em Alexandria em A.D. 321, e condenou essas teorias como contrarias aos Evangelhos. Mas Arius, que acreditava que somente sua teoria sendo adotada, seria possível preservar o monoteismo o Cristianismo, não só continuou a manter suas opiniões pessoais, mas — por meio de hinos e outros métodos de popularização — disseminou suas idéias num círculo sempre crescente. Outros homens de igreja se juntaram a ele, e como a unidade da Igreja estava em perigo, para acalmar a mente dos homens e restaurar a paz entre eles, Constantino o Grande convocou em A.D. 325 em Nicéia, um grande Sínodo que teve a participação de representantes de todas as partes do mundo, e foi dessa maneira conhecido como Sínodo (ou Concílio) Ecumênico, ou Universal.

O Primeiro Sínodo Ecumênico.
Estiveram presentes nesse Sínodo muitos homens destacados, alguns famosos por seu conhecimento e virtude, alguns por sua vida ascética, e outros pelas marcas dos martírios que as perseguições deoclecianas haviam lhes infringido. Mas sob preparo teológico foram todos superados por Atanásio, o Grande, que era ainda somente um diácono do Bispo de Alexandria. Na base das Escrituras e Tradições Sagradas, ele demonstrou que o Filho de Deus, longe de ter sido criado pelo Pai, havia nascido Dele, de sua própria substância, antes de todos os tempos, e que consequentemente o Filho não difere em Sua natureza do Pai, mas forma com Ele uma única divindade. Praticamente todos os presentes aprovaram a tese de Atanásio, e a seguinte fórmula foi inserida no Credo: "Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho único de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos; Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro; gerado não criado, coessencial ao Pai; por Quem todas as coisas foram feitas." Esse Credo foi assinado por todos os Padres presentes, mais de trezentos em número, e foi determinado como a exata expressão da doutrina da Igreja sobre seu divino Fundador. Arius e dois de seus apoiadores que se recusaram a assinar o Credo foram mandados para o exílio.

O Segundo Sínodo da Igreja.
Infelizmente essa condenação oficial não impediu o Arianismo de continuar a perturbar a paz da Igreja. Depois de curto período, Arius conseguiu com o auxílio de poderosos amigos na côrte, obter sua chamada de volta do exílio, e até mesmo tramou o banimento de Atanásio, o líder do partido Ortodoxo, que tinha sido feito Bispo de Alexandria com a morte de Alexandre. Arius, a causa de toda perturbação, morreu em A.D. 336. Um novo partido foi então formado, cujos membros chamaram a si próprios de "Semi-Arianos" e procuraram reconciliar Arianos e Ortodoxos substituindo no Credo a palavra "homoousios"(isto é, de essência similar) pela palavra "homoiousios" (isto é, mesma essência ou coessencial). Mas outro partido levantou-se em oposição a esses mediadores, mantendo que Cristo, tendo nascido do Pai, não é nem "homoousios" nem "homoiousios," mas "anomoios," ou "diferente." Assim a Igreja esteve mais e mais partida por dissensões devidas parcialmente à teimosia de certos Bispos que desconsideraram suas assinaturas no Credo de Nicéia, mas particularmente devido à forte interferência da côrte imperial em disputas teológicas, pelos tirânicos imperadores Constantius (353-361) e Valens (364-378), que apoiaram os Arianos perseguindo o partido Ortodoxo impiedosamente. No final, no entanto, o Credo como feito em Nicéia durante o Sínodo, emergiu triunfante como e única doutrina que incorporava o espírito do Evangelho, e selado pela aprovação dos mais eminentes Padres da época, inclusos os três famosos Capadócios, Basílio o Grande, Gregório de Nyssa e Gregório de Nazianzo. Quando, portanto, o imperador Ortodoxo, Teodosius o Grande, ascendeu ao trono, imediatamente convocou um segundo Sínodo Ecumênico que se reuniu em Constantinopla em A.D. 381, e, confirmando as decisões do primeiro Sínodo Ortodoxo, pronunciou-as como sendo a visão Ortodoxa da Igreja Universal. Daí em diante, o Arianismo desapareceu, apesar de ter encontrado um refúgio temporário com os Gôdos, com já vimos, e com aas tribos bárbaras. O segundo Sínodo Ecumênico condenou também Macedônio, que ensinava que o Espírito Santo havia sido criado pelo Filho, do mesmo modo que, de acordo com os Arianos, o Filho havia sido criado pelo Pai. Foi, portanto, formalmente estabelecido no Credo que o Espírito Santo "procede do Pai e com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração e a mesma glória," partilhando da mesma divina essência e natureza.

O Terceiro Sínodo Ecumênico.
O segundo Sínodo Ecumênico afirmou não só a perfeita divindade de Cristo, mas também Sua perfeita humanidade, condenando a heresia do Apolinarianismo, que começou a se espalhar em A.D. 362. Essa heresia consistia na negação de uma alma "racional" no Logos encarnado, assegurando que o Deus-Homem tomou só a alma irracional e corpo material, tendo sua divindade em lugar da alma racional. Os Padres, protestaram contra isso, mantendo que o Logos encarnado, se não tivesse assumido completa humanidade, com sua alma racional, teria deixado sem cura nossa parte mais nobre; "Pois o que Ele não assumiu, Ele não curou." Esses foram os argumentos que os Padres no segundo Sínodo opuseram ao Apolinarianismo; mas eles não tinham ainda definido e cristalizado a idéia da maneira pela qual a completa divindade e a completa humanidade de Cristo foram unidas em Sua pessoa. Alguns mantinham que a relação fora extremamente próxima; outros que fora extremamente despreendida. Nestorius, o Arceobispo de Constantinopla, era dessa última opinião, e imaginou uma distinção tão aguda entre as duas naturezas em Cristo, que chegou eventualmente a reconhecer duas pessoas Nele, mantendo que Cristo, o Filho de Maria, era um, e Cristo, o Filho de Deus era outro; assim Maria deveria corretamente (na opinião de Nestorius) ser chamada de "Cristotokos" (isto é, Mãe de Cristo) e não "Teotokos" (isto é, Mãe de Deus). Para combater essa heresia, Theodosius II convocou para Êfeso em A.D. 431 o terceiro Sínodo Ecumênico, que afirmou que a Igreja confessa um Cristo, um Filho, um Senhor, que é ao mesmo tempo tanto Deus quanto Homem, que nasceu do Pai antes de todos os tempos, e encarnou na Virgem Maria no tempo determinado. Em seu orgulho Nestorius recusou-se a ceder à decisão unânime da Igreja, e preferiu se retirar em exílio, onde morreu em A.D. 440. Sorte similar aconteceu com seus apoiadores; perseguidos pelos ortodoxos, se refugiaram como os persas, que os receberam de braços abertos, com um gesto hostil para com o Império Bizantino.

O Quarto Sínodo Ecumênico.
Nestorius havia considerado as duas naturezas de Cristo tão distintas que ele considerou nelas duas pessoas separadas, unidas somente por uma ligação moral como é a criada, por exemplo, entre o homem e esposa, pelo casamento. No outro extremo, Eutychius e Dioscorus mantiveram que a união era tão próxima, que eles ensinavam que, depois da encarnação do Filho e Logos, não duas mas somente uma única natureza deveria ser mencionada; isto é, a divina, que teria ou absorvido em si a natureza humana, ou havia misturado e se fundido com ela. Foi para condenar este outro extremo de opinião, conhecido como Monofisismo, que o Quarto Sínodo Ecumênico reuniu-se em Calcedônia em A.D. 451, no reino da Imperatriz Pulcheria. Esse Sínodo emitiu um decreto que tanto reafirmou os pronunciamentos do Terceiro Sínodo, que o Senhor é um e o mesmo, perfeito em divindade, assim como em humanidade, e que duas naturezas existiram no Deus-Homem, como também estabeleceu que essas duas naturezas estiveram unidas na única pessoa do Logos, não só "sem distinção e sem separação," mas também "sem confusão nem mudança," uma natureza não sofrendo nem aniquilamento nem alteração pela outra.

O Quinto Sínodo Ecumênico.
As decisões do Sínodo de Calcedônia, não foram no entanto, aceitas universalmente. Os Armênios, considerando que o Decreto de Calcedônia versava sobre Nestorianismo, rejeitou-o em um Sínodo local que se reuniu em Etchmiadzin em 491. Os Coptas do Egito, seus vizinhos os Abissínios, e da mesma forma os Sírio-Jacobitas preferiram romper com a Igreja Católica e fundar comunidades cismáticas Monofisitas a admitir duas naturezas separadas em Cristo, — um doutrina que eles consideravam que chegaria a cortar em duas a pessoa do Deus-Homem e retornaram aos ensinamentos de Nestorius. De modo a enfatizar a diferença entre o reconhecimento de duas pessoas em Cristo, que era a opinião herética mantida por Nestorius, e o reconhecimento de duas naturezas em uma pessoa, que era o ensinamento Ortodoxo da Igreja Santa Católica Apostólica, o Imperador, Justiniano o Grande, seguindo o costume então estabelecido, convocou o Quinto Sínodo Ecumênico em Constantinopla em 553. Esse Sínodo condenou certos trabalhos de sabor Nestoriano, esperando com isso, conciliar os Monofisitas e persuadi-los a retornar à Igreja Católica.

O Sexto Sínodo Ecumênico.
Outro método foi seguido pelo Imperador Heraclius (611-641), que foi movido principalmente por considerações políticas e estava se empenhando por todos os meios em manter a ameaçada unidade de seu Império. Ele tentou reconciliar Monofisitas e Ortodoxos na base de "duas naturezas em Cristo, mas uma só atividade," ou, como depois segundo uma frase editada "duas naturezas em Cristo, mas uma só vontade." Essa solução de controversia, conhecida sob o nome de Monotelismo, não foi todavia aceita pelos teólogos Ortodoxos, que a pronunciaram como sendo contrária ao Evangelho e não parecia razoável. Se Cristo tinha duas naturezas, era inevitável que Ele tivesse também duas atividades — como Deus executando milagres, ressuscitando dos mortos, e subindo ao Céu; como homem, executando os atos comuns da vida diária. Similarmente, se Ele tinha duas naturezas, cada uma deveria ter sua vontade individual. Em 680, portanto, sob Constantino Pogonatus, o Sexto Sínodo Ecumênico se reuniu em Constantinopla. Seus membros condenaram o Monotelismo como heresia e definiram que como em Jesus Cristo existiram duas naturezas, não confundidas, não modificadas, inseparáveis e indivisíveis, assim também existiram Nele duas atividades naturais e duas vontades, que não disputaram uma com a outra, já que a humana subordinou-se para a poderosíssima vontade divina. Desse dia em diante somente uma pequena comunidade ainda adere ao Monotelismo: é a dos Maronitas do Líbano.

Pelagianismo e Agostianismo.
Controvérsias Cristológicas não foram os únicos assuntos tratados pelos Sínodos Ecumênicos citados até agora. Tocaram em outros assuntos, também, a respeito ou da fé ou da conduta e disciplina da Igreja. Digna de nota entre as questões de fé é o Pelagianismo, uma heresia que afetou mais o Ocidente, mas que foi condenada pelo Terceiro Sínodo Ecumênico em Éfeso, como inconsistente com os fatos existentes. Pelagius, um monge da Bretanha, que achou seu caminho para a África, negou o pecado original e manteve que a natureza humana tinha suficiente capacidade para o bem e para praticar virtudes por seus próprios poderes sem serem ajudados, atribuindo assim um papel secundário para a divina graça no trabalho da salvação, e a morte de Nosso Senhor na Cruz tinha tido um mero valor instrutivo como modelo de auto sacrifício para imitação pela humanidade. A falsa psicologia dessa doutrina foi exposta por Agostinho, Bispo de Hippo na África, o mais eminente professor da Igreja Ocidental, que levantou armas contra Pelágio, mas ele próprio foi longe demais para o outro extremo. Enquanto Pelágio ensinava que a alma humana era completamente livre da condição pecaminosa, Agostinho mantinha que era completamente corrupta, que o homem não contribuia em nada para sua própria salvação, e que a salvação era o trabalho de Deus sózinho, Que arbitrariamente predestinava um para a salvação, outro para a perdição. A Igreja rejeitou essa visão extremada, assim como tinha feito com a outra. O homem, espiritualmente não é nem totalmente são nem totalmente morto, ele é doente; e enquanto sua salvação é principalmente o produto da graça de Deus e da morte redentora do Salvador, sua vontade própria e esforço também operam de modo secundário.

6. Os Padres Mais Eminentes.

Os Padres Apostólicos.
O título de "Padres" é dado para aqueles homens notórios dos primeiros oito séculos da era Cristã que combinaram profundo aprendizado com uma vida santificada e perfeita pureza de fé, e que reforçaram outros na vida Cristã por suas palavras escritas ou faladas. Aqueles que tiveram todo tipo de conhecimento, mas cuja fé foi de certo modo imperfeita, são chamados de "professores," e não são intitulados com igual honra que a dos Padres, apesar deles terem contribuido com tudo que era humanamente possível. Os primeiros Padres foram os Padres Apostólicos, assim chamados porque eram os discípulos e companheiros de trabalho ou contemporâneos dos Apóstolos. Esses são Clemente Bispo de Roma (A.D.100) que trabalhou com o Apóstolo Paulo; Barnabas o Cipriota, que também pregou o Evangelho com Paulo, e que, diz a tradição, que foi apedrejado até a morte pelos Judeus em Salamis, Chipre; Inácio de Antioquia, cuja morte por martírio sob Trajano em 115 já foi mencionada; Policarpo de Esmirna, cujo martírio sob Marco Aurélio em 166 também foi mencionado; e mais dois ou três outros. Memórias escritas de todos esses homens sobreviveram, principalmente na forma de epístolas ocasionais para várias comunidades Cristãs. Elas formam um pequeno mas precioso volume; pois as obras dos Padres Apostólicos foram escritas imediatamente depois do Novo Testamento, e são inspiradas por um supremo amor e devoção ao Salvador.

Apologistas.
Os escritores que sucederam os Padres Apostólicos representam, como de fato foram, a adolescência da Literatura Cristã. Como sua característica comum fazem uma arrojada defesa da fé, daí serem chamados de Apologistas. Já mencionamos dois desses Apologistas: Quadratus, Bispo de Atenas, e o filósofo Ateniense, Aristides, pois ambos apresentaram ao Imperador Adriano, apologias ao Cristianismo por conta de sua perseguição injusta aos companheiros Cristãos. A eles devem ser acrescentados, o filósofo Justin que endereçou duas apologias a Marco Aurélio, sob quem foi martirizado em 166; o Ateniense, Atenágoras, que floresceu entre os anos 170-180, e endereçou uma "intercessão em nome dos Cristãos" aos Imperadores Marco Aurélio e Comodo; e Teófico de Antióquia (182), que submeteu uma exposição da fé Cristã para seu amigo pagão Autolycus. Todos os três apresentaram um sincero e detalhado relato das crenças dos Cristãos e do seu modo de vida, dando uma basta à falsas e infundadas acusações dos inimigos dos Cristãos, que eles se reuniam a noite para satisfazer-se em orgias e matar e comer crianças recém-nascidas. Justin especialmente foi um excelente apologista, e defendeu o Cristianismo não só contra os pagãos, mas também, em outro trabalho intitulado "Diálogo com Trifo," contra os Judeus. Sua vida foi uma incansável luta pela verdade; um após o outro, ele passou através de todos os sistemas de filosofia, e sentou com todos os homens ilustrados de sua época, sem encontrar satisfação para sua ânsia espiritual, até que finalmente encontrou paz no Cristianismo. Até o final de seus dias continuou a usar o manto de filósofo, convencido de que o Cristianismo era a única filosofia de vida infalível.

Representantes das Escolas da Ásia Menor e África.
Como uma árvore, cujos galhos se multiplicam e extendem seus ramos, o aprendizado Cristão teve muito pouco começo, mas agora começava a se alargar em várias Escolas, ou métodos de estudo e interpretação. Eram Escolas da Ásia Menor, da África, de Alexandria e de Antióquia. A principal característica da Escola da Ásia Menor era a devoção a uma primitiva e incorrupta ortodoxia da fé; a da Escola da África, a austera e prática natureza de seu código moral; a de Alexandria, um espírito especulativo, filosófico e alegórico; e a de Antióquia, a sóbria e literal interpretação da Santa Escritura. Um exemplo da Escola da Ásia menor é Irineu (A.D. 202), que, nascido na Ásia Menor, onde estudou com São Policarpo, mais tarde foi para a atual França e tornou-se Bispo de Lyons, onde foi martirizado. Seu trabalho mais importante é contra as heresias, no qual, como um fiel guardião da verdade, defende as doutrinas ortodoxas contra toda corrupção, e denuncia aqueles que divergem dela. Como representantes da Escola Africana, Tertuliano (A.D.220), um presbítero de Cartago, e Cipriano (A.D. 258), Bispo de Cartago, devem ser mencionados. O primeiro, que inventou a linguagem do Latim eclesiástico e sempre falou com desprêzo do aprendizado secular, foi o mais severo advogado da moralidade austera e foi desviado para o Montanismo por seu excessivo ascetismo. Cipriano, um tipo perfeito de pastor Cristão, foi inflexível em sua hostilidade para com aqueles que tinham traido a fé em tempo de perseguição, e foi decapitado por seus princípios sob Valeriano. Ambos nos deixaram ensaios, dogmáticos, éticos, interpretativos, ou ocasionais, nos quais sua maneira austera de viver é espelhada.
Representantes da Escola Alexandrina
A Escola Alexandrina foi fundada por Pantaenus e continuada por Clemente de Alexandria e Origenes. De acordo com essa Escola, o Cristianismo é a mais elevada forma de conhecimento, e o perfeito Cristão é o "gnóstico," isto é, aquele que não só crê, mas tem também o conhecimento e compreensão de sua fé. Esse ideal Clemente colocou diante de si mesmo em sua trilogia, Adress to the Greeks, The Tutor, e as Miscellanies, na qual ele gradualmente leva seu pupilo do paganismo para as alturas da perfeição Cristã. A vida de Clemente foi similar a de Justin; ele também, começou como um filósofo pagão, e mais tarde abraçou o Evangelho como a única filosofia satisfatória. Seus trabalhos são um tesouro da sabedoria grega; mas, mesmo grande como foi, ele foi ultrapassado em gênio, trabalho sistemático, e fertilidade por seu sucessor Origenes, que foi cognominado o Adamantino.

Orígenes.
Orígenes foi o filho de Leonidas o mártir, o qual, como já vimos, não temeu a morte por Cristo quando ainda era uma criança. Tem sido dito que ele escreveu mais livros do que um homem poderia ler durante sua vida inteira. Como um apologista, escreveu seu tratado Contra Celso, no qual refuta as vãs acusações desse formidável inimigo do Cristianismo. Como um escritor sobre dogmas, nos deixou seu trabalho sobre Os Princípios, o primeiro exemplo de dogmática Cristã. Como um comentador, compos longos comentários sobre quase todas as partes da Sagrada Escritura. Como crítico, trabalhou na Hexapla, na qual colocou em seis colunas paralelas o original e as traduções existentes até seus dias, de modo a determinar o texto original. Infelizmente, esse homem, cujo grande zêlo por Cristo levou-o até a Arábia para pregar o Evangelho, e que converteu Julia Mammaea, a mãe do Imperador Alexandre Severo, desviou-se em certos erros de opinião individual que fizeram com que gerações posteriores fossem hostis à sua memória. Mas apesar disso, a Origenes pertence a glória de ter lançado as bases de quase todos os ramos da Teologia, e de ter sido o mestre daqueles que vieram depois; pois muitos dos grandes Padres da Igreja foram educados por seus escritos. Sua morte foi consistente com sua vida, pois ele sucumbiu em A.D. 254 a ferimentos infrigidos a ele durante a perseguição deciana.

Atanásio.
À Escola Alexandrina também pertence Atanásio e os tres Capadócios; Basílio o Grande, Gregório de Nissa e Gregório Nazianzo, que nos trazem para a mais gloriosa época da Literatura da Igreja Grega. Foi a "Idade de Ouro," que produziu trabalhos espirituais de tal perfeição, eloquência, profundidade e originalidade, que não só eles existiram para permanecerem inultrapassáveis, mas existiram para servirem de padrão e modelos para a posteridaade. Atanásio (A.D.373), que era baixo de estatura mas poderoso em espírito, foi o mais destemido campeão da Ortodoxia, pela qual lutou por quarenta e cinco anos, e foi mandado dez vezes para o exílio. Existiram tempos em que ele pareceu estar abandonado por todos e lutando sozinho contra reis e pessoas; mas estava lutando pela verdade, e no final a verdade triunfou. No curso de sua problemática e espantosa vida, encontrou tempo tratados apropriados para seu tempo; para compor longas epístolas e apologias e para se devotar ao estudo das Sagradas Escrituras. Seus trabalhos são caracterizados por riqueza e profundidade de significados e por um severo método dialético; apesar de nem sempre serem polidos em estilo; pois atanásio estava constantemente em privações, e escreveu mais sobre seu joelho do que na quietude de um ambiente adequado.

Os Três Capadócios.
As batalhas enfrentadas pela Ortodoxia por Atanásio foram continuadas pelos três Capadócios. Basílio (A.D. 379), cuja mãe Emmelia, era uma mulher muito devotada, estudou filosofia em Atenas. Lá ele fez um amigo pelo resto da vida do seu colega-estudante. Gregório de Nazianzo, com quem se retirou, quando seus estudos filosóficos terminaram, para uma hermitage em Pontus, para estudar os trabalhos de Origenes, e para se preparar para uma carreira teológica. O aprendizado de Basílio e sua virtude logo o elevaram para o episcopado de Cesaréia, que durante longo periodo permaneceu sob seus cuidados pastorais. A ele é dado o crédito de ter fundado a primeira casa para pobres do mundo, chamada por seus comtemporâneos de "Basilias," aonde gastava tudo que recebia. Seu amor pela Ortodoxia levou-o a entrar em conflito com o Imperador Ariano Valeus, perante quem ele permaneceu impávido. Seus tratados interpretativos doutrinais e éticos, assim como suas cartas, brilham na fronteira da literatura mundial, e justificam o título concebido a ele "portador de luz do universo." Em suas homilias do Hexaemeron, ele mistura religião com ciência natural para a compreensão das pessoas; e seu conselho para os jovens sobre como aproveitar os escritos dos antigos escritores gregos é digno de estudo. Sua morte foi lamentada, não só por Cristãos, mas até mesmo por Judeus e pagãos. Seu irmão Gregório de Nyssa (A.D. 394), prima em suas obras mais como um filósofo especulativo e erudito do que como um moralista prático. Especulação filosófica também caracteriza o trabalho de Gregório de Nazinzo (A.D. 390), já mencionado como o amigo de Basílio, e a quem o povo nomeou "o Teólogo" por conta dos sermões sobre a divindade do Logos que pregou contra a heresia ariana na Igreja de Santa Anastácia em Constantinopla, para levar a corrente de opinião popular de volta para os canais da fé incorrupta. Tão popular Gregório se tornou naquele tempo, que Teodosius o Grande convidou-o para ser Arcebispo de Constantinopla, uma posição da qual ele logo se retirou quando se deu conta das perpétuas maquinações da qual ele era o centro. Poeta em sua poesia e seus sermões, Gregório era poeta também em sua vida, sendo o oposto ao seu prático e fleugmático amigo, Basílio.

Um Representante da Escola de Antióquia: Crisóstomo.
Se oa acima mencionados Padres são exemplo brilhantes da Escola Alexandrina de pensamento. a Escola de Antióquia é mui dignamente representada por João (A.D. 407) que por sua grande eloquência foi chamado de "boca-de-ouro," ou "Chrysostom" em grego. Seu pai foi o pagão Secundus; sua mãe, Anthousa, uma Cristã que enviuvou cedo na vida, e confiou a educação de João a Libanius, o mais famoso sofista da época. Tão grande era a devoção do menino ao aprendizado que quando perguntado pelos pagãos a quem ele deixaria como seu sucessor Libanius respondeu: "João, a menos que os Cristãos o roubem de nós." Mas João, que mal conheceu seu pai, seguiu a religião de sua mãe e foi batizado, tornando-se mais tarde um presbítero em Antióquia, onde fez sermões por muitos anos. Seu discurso era dourado, e sua vida, a vida de um Santo. Sua fama espalhou-se até a corte imperial na capital, para onde o rei Arcadius, atraiu-o com um ardil, e o persuadiu a tornar-se Arcebispo de Constantinopla, para grande alegria do povo. Mas João não era somente o protetor dos pobres e oprimidos; ele era um destemido censor do crime e corrupção nas altas rodas. Isso levantou a inimizade da Imperatriz Eudoxia, cuja conduta não estava acima de censura e com a assistência de outros pecadores ela tramou banir o santo homem para os confins da Armênia, onde eventualmente morreu no meio de neve, gelo e privações. "Glória a Deus por tudo," foram suas palavras quando moribundo. Crisóstomo foi o mais popular e prático dos grandes oradores gregos, e seus sermões, que ocupam dezoito grandes volumes, podem ainda hoje em dia, serem lidos com grande proveito e prazer. Ele não era somente um excelente psicólogo, que investigou fundo os males sociais do mundo, mas também um comentador que em sua interpretação da Sagrada Escritura seguiu o sóbrio e literal método que era a marca distintiva da escola de Antióquia.

Outros Padres.
A citação desses poucos nomes famosos não constituem nem um décimo do que deveria ser dito sobre esse assunto. Além dos Padres que mencionamos existem outros, destacados como historiadores (como Eusébio de Cesaréia e Socrates), como catequistas (como Cirilo de Jerusalém), como comentadores (como Teodoreto de Cyrus), ou como controversialistas (como Cirilo de Alexandria). Nem devemos esquecer os eminentes Padres Latinos do Ocidente, entre os quais Ambrósio, Jerome, e Agostinho brilham como estrelas de primeira grandeza. Mas tentamos meramente dar alguma idéia sobre aqueles homens excepcionais, que pelo esplendor de seus ensinamentos e moralidade adornaram a Igreja tanto nos periodos de suas vidas quanto posteriormente.

7. Vida Cristã e Louvação.

A Reforma Moral Trazida à Luz pelo Evangelho.
O Cristianismo não é somente uma revelação da verdade divina; é também uma inspiração para uma vida mais virtuosa. Eis porque o espalhamento dos princípios Cristãos foi usualmente seguido por uma mudança na moral devido ao triunfo da virtude sobre a natural corrupção do gênero humano. Uma melhoria na posição da mulher, a purificação do lar, a libertação dos escravos, a fundação de instituições filantrópicas, a abolição de lutas públicas entre gladiadores e com feras na arena, um sempre crescente simpático interesse pelos excluidos da sociedade — tudo isso foi fruto do Evangelho. "Vêde como eles se amam uns aos outros, e como cada um está pronto para se sacrificar por seus irmãos!" chamavam os pagãos, maravilhando-se com o amor Cristão. E até mesmo Libanius, tomando como exemplo a mãe de João Crisóstomo, falou de sua espantosa admiração pelas mulheres Cristãs. Era, acima de tudo, a coragem dos mártires, que seguiam para sua morte cantando como indo para uma festa, que espantava os pagãos; mas de uma vez, na verdade, os executores se tornaram Cristãos e seguiram os mártires para sua própria morte. Nem podemos esquecer a influência civilizadora do Cristianismo sobre povos inteiros, tais como os invasores que precipitaram-se sobre a Europa vindos do norte durante o século quarto, cujas selvagens e bárbaras energias foram subitamente domesticadas e amarradas aos trabalhos de paz.

O Joio no Meio do Trigo.
Mas trigo e joio crescem juntos, e hábitos antigos são difíceis de serem deixados de lado. A Igreja Cristã não esteve sem pecadores que ofereceram um chocante contraste com seus santos, e eram uma mancha na reputação Cristã. O mais grave de todos os males era a hipocresia daqueles que não praticavam a fé que professavam. Tais, nos tempos apostólicos, foram Ananias e Safira; nos tempos das perseguições, aqueles a quem o medo fazia com que negassem sua fé e entregavam aos perseguidores certificados de paganismo; e, durante os anos de paz, aqueles pseudo-Cristãos que posavam como Cristãos para conseguir favores reais. Quantos outros pecados eram abundantes entre Cristãos, especialmente em grandes centros como Alexandria, Constantinopla e Antióquia, tanto que podem ser vistos por qualquer um que leia os sermões dos Padres que denunciavam do púlpito as malignidades do seu tempo. As grandes damas eram acompanhadas, quando saiam, por multidões de serviçais mulheres para demonstrar sua riqueza; seus adornos eram caros, e elas, frequentemente usavam pinturas religiosas bordadas nos seus elaborados mantos. Mágicos, astrólogos e quiromantes dividiam a simpatia de muitos Cristãos que eram incapazes de abandonar suas antigas supertições. O povo tinha mania a tal ponto pelos espetáculos no hipódromo que até na Sexta-Feira Santa os ofícios da Catedral de Santa Sofia, eram perturbados pelos gritos vindos do hipódromo em Constantinopla. Atores desavergonhados desgraçavam o palco com espetáculos vís e licenciosos. Para coroar tudo, muitos bispos desonraram seus chamados por suas paixões, intrigas e conspirações. Foram bispos como esses que perseguiram Atanásio, forçaram Gregório o Teólogo a resignar, e tiveram sua parte no banimento de João Crisóstomo.

O Tratamento da Igreja para com os Pecadores.
A Igreja reconhecendo que o fermento trabalha mas lentamente, adotou uma atitude de perdão para com os pecadores, aconselhando arrependimento para todos eles, e só em raras ocasiões empregando medidas extremas contra provocadores de escândalo pervertidos e não arrependidos. Mesmo contra eles ela não fechava as portas da misericórdia, mas desenvolveu um sistema especial de disciplina para a assistência à eles. De um pecador que desejasse retornar ao rebanho, a Igreja exigia, primeiro uma pública confissão de seus pecados com todos ouvindo; segundo, que ele deveria se retirar da Igreja e seguir parte do ofício por detrás das grades do nartex; terceiro, que após um tempo determinado, poderia entrar na Igreja e louvar ajoelhando-se com o resto da congregação, mas sem o privilégio de partilhar da Santa Comunhão; e por último, quando ele havia passado por todos esses estágios de arrependimento, a Igreja o recebia de volta num dia determinado, trocando com ele o beijo do amor, admitindo-o à Santa Comunhão, e restaurando-o à sua antiga posição como um membro integral, gozando de todos seus privilégios. Essa foi a atividade da Igreja oficial para com os pecadores, baseada nas palavras de Nosso Senhor "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" (Lucas XV, 7). Mas os montanistas, entre os quais até Tertuliano foi listado nos seus últimos anos, pensavam e agiam de outra forma. Traçando sua origem ao turbulento e fanático falso profeta, Montanus, não admitiam arrependimento, e cortavam da Igreja todos os que após o batismo tinham caido no pecado como se tivessem tido o julgamento final, e além disso, qualquer um que recebesse o pecador era considerado corruptor do Cristianismo e um apóstata.

O Primeiro Eremita.
A decadência moral na qual o Império Romano mergulhou quando o Cristianismo apareceu, as impiedosas perseguições dirigidas pelos pagãos contra os Cristãos, e um desejo de louvar a Deus livremente e sem impecilhos, impeliram alguns dos mais ardentes seguidores do Evangelho a se retirarem de tal cruel e corrupta comunidade. Retirando-se para lugares desertos, pregavam a vida toda em celibato, e faziam de oração solitária e comunhão com o Senhor o objetivo e propósito de sua vida. Esses homens eram chamados de eremitas, monges, anacoretas e ascetas. O primeiro eremita mencionado na história é Antônio (A.D. 356), que em 270, quando tinha dezoito anos de idade, aconteceu ter ouvido na Igreja, em sua cidade natal de Alexandria, o texto do Evangelho; "se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens e dá-lo aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me" (Mateus 19:21). Ele imediatamente distribuiu o total de sua grande fortuna entre os pobres; e retirou-se para o deserto, onde passou sua vida toda, só aparecendo uma ou duas vezes em Alexandria, para pregar contra o Arianismo, e para converter multidões de idólatras ao Cristianismo. Sua vida foi relatada por seu amigo e admirador Atanásio o Grande. Um contemporâneo de Antônio foi Paulo (A.D. 340), que veio de Tebaida e a quem Antônio descobriu no deserto, onde esteve escondido por setenta anos.

O Espalhamento da Vida Monástica.
A princípio esses eremitas viveram sozinhos em suas celas ou cavernas, inteiramente cortados de seus companheiros. Logo, no entanto, Pachonius (A.D.348), um pupilo e seguidor de Antônio o Grande, fundou o sistema mais comunitário que é chamado de "coenobite" (cenobita em português). Reunindo os eremitas espalhados na Ilha de Tabena no Rio Nilo, impôs a eles uma regra comum de oração e jejum; e introduzindo formas adequadas de trabalho entre eles, tornou a vida deles, mais prática e interessante. O sistema de Paconius foi logo transplantado para a colina de Nitria no Egito por Ammon, para o deserto de Citia por Macário, para o deserto de Gaza por Hilário e para outros lugares por outros homens. Os grandes Padres eram admiradores da vida monástica que eles próprios tinham seguido por algum tempo, como a melhor preparação para seu ministério; e Basílio o Grande escreveu uma coleção de regras para a vida monástica que ainda são seguidas pelos monges da Igreja Oriental. No Ocidente, também, o monasticismo foi introduzido muito cedo, graças aos esforços de Ambrose, Jerome e Martim de Tours, mais foi reorganizado em 529 em bases inteiramente novas por Benedito, que fez dos monges não só cultivadores científicos do solo, mas os invisíveis copistas e guardiãos dos tesouros literários da antiguidade. Os Beneditinos são a glória da Igreja do Ocidente, que mais tarde produziu e ainda preserva outras ordens devotadas a trabalhos de utilidade pública. De tipo muito diferente foram certos extraordinários tipos de vida no qual o monasticismo Oriental regenerou, e dos quais o mais curioso foi o dos "Stilitas," passavam sua vida toda em uma barraca construída no topo de um pilar bem alto. No entanto, mesmo esses tinham seu uso, pois do alto de suas torres atraiam a atenção de centenas de pessoas semi-bárbaras, e as atraiam para a fé Cristã. Um dos mais conspícuos dos Stilitas foi Simeão (A.D. 422), que pregou o Evangelho dessa forma na Arábia.

Lugares de Louvação Pública.
Louvação que leva o fiél à relação e comunhão com Deus, forma um componente que é parte da vida moral. Nos primeiros tempos, os Cristãos se reuniam para louvar em casas particulares, onde recebiam os Santos Sacramentos e comiam juntos os assim chamados "agapes," ou festas de amor; durante as perseguições eles se refugiavam em esconderijos cavernas ou catacumbas. Mas quando as perseguições tiveram fim, começaram a se reunir para louvas em magníficas igrejas, que eram frequentemente construidas e adornadas por imperadores, como Constantino o Grande, que embelezou sua recém-construida capital com as igrejas dedicadas à Sabedoria de Deus (Santa Sofia), Paz de Deus e Poder de Deus, e cujo exemplo foi seguido por muitos dos seus sucessores. Na forma, os primeiros prédios para louvação pública eram quadrilaterais e oblongos, com o altar no lado leste e o pórtico no oeste, e eram conhecidas como "basílicas." Com o correr do tempo, foram acrescentadas asas em cada lado da basílica, e então o anterior prédio quadrangular tomoua aparência de uma cruz. Quando pela primeira vez Justiniano colocou um domo redondo sobre essa construção cruciforme, o verdadeiro estilo bizantino de arquitetura desabrochou, tal como vemos na bela igreja de Santa Sofia, construida por Anthemius em 537. Icones não eram desconhecidos desde os primeiros tempos, mas eles eram a princípio de caráter simbólico, como fica evidente nas catacumbas. Assim, por exemplo, uma pomba representava o Espírito Santo; uma âncora a esperança; um fênix a ressureição; um barco a Igreja; uma cesta com pães a Sagrada Comunhão; um peixe era pintado para representar criptograficamente porque cada letra da sua grafia (ictios) em grego era tomada como a inicial de um de seus atributos; assim:


ΙησουςJesus 

Χριστος
Cristo 

Θεου 
 de Deus

Υιος 
Filho 

Σωτηρ
— Salvaor


Depois, cenas das Escrituras começaram a aparecer na decoração da igreja, e os ícones de Cristo, da Virgem Maria e dos Santos. Alguns desses ícones foram feitos em mosaicos, e assim duraram indefinidamente; mas nenhuma estatua foi permitida nas igrejas.

Os Dias de Festas Mais Importantes.
O dia mais importante de louvação na semana era o Domingo, que desde os tempos apostólicos foi consagrado à memória da ressureição de Nosso Senhor. A festa mais importante do ano era a Páscoa, mais tarde rivalizada pelo dia de Natal, cuja celebração foi introduzida na igreja do Oriente pelo Ocidente durante o quarto século. A grande festa da Páscoa era precedida pelos quarenta dias da grande quaresma, mantidos em memória dos quarenta dias no deserto em jejum do Senhor, e durante esse período cada Cristão jejuava de acordo com suas forças, alguns até um maior e outros em um menor grau. A Ascenção e o dia de Pentecostes eram celebrados respectivamente quarenta e cinquenta dias depois da Páscoa. Mas durante os primeiros três séculos de Cristianismo, a Igreja não tinha definido o dia exato em que a Páscoa deveria ser celebrada. Como Nosso Senhor foi crucificado no dia 14 do mes Judeu de Nisan, numa sexta-feira, e ressuscitou no dia 16, um Domingo, algumas das Igrejas Cristãs insistiam em celebrar a Ressureição no dia 16 de Nisan, independente de ser um Domingo ou não; enquanto outras igrejas esperavam pelo primeiro Domingo depois do dia 16 de Nisan, a menos que o 16 caisse num Domingo. Para acertar essa diferença, o Padre apostólico Policarpo empreendeu a longa viagem para Roma em A.D. 155; mas o Papa, Aniceto, recusou-se a ceder, apesar de ter recebido Policarpo como um irmão e ter permitido que ele celebrasse a Liturgia junto consigo. A questão da Páscoa, com outras questões relativas à ordem da igreja, foram alertadas no primeiro Sínodo Ecumênico em Nicéia, que estabeleceu que todas as Igrejas deveriam celebrar a Páscoa no mesmo dia; ou seja, no primeiro Domingo depois da lua cheia depois do equinócio de primavera. (hemisfério norte: nota do tradutor).


Parte II
Tempos Medievais
(A.D. 700-1453)

8. O Espalhamento do Cristianismo Entre os Eslavos.

Sérvios, Croatas, Dálmatas e Eslavos na Grécia.
Apesar de embaraçado por vários obstáculos internos e externos, os quais trataremos nas próximas páginas, o Cristianismo continuou na Idade Média, a conquistar novos territórios. Os mais importantes desses para a Igreja Oriental foram os povos eslavonicos. Os primeiros a receber o Evangelho, tão cedo quanto o século sétimo, foram os sérvios. os croatas e os dálmatas, estabelecidos na Península dos Balkans, de quem os sérvios, pela graça de Deus, permaneceram Ortodoxos, enquanto que, os croatas e dálmatas, unindo-se com o Reino Húngaro, passaram para a jurisdição de Roma, e abraçaram os dogmas da Igreja Ocidental. Mais tarde, no século nono, o Cristianismo se espalhou por todas as tribos eslavônicas, que, acossados pelos Ávaros, pelo norte extravasaram pela Macedônia, Tessália, a Ilha principal da Grécia e Peloponeso do século sexto em diante, pondo em perigo não só o caráter nacional, mas também o Cristianismo dos países que eles invadiram; pois eram politeistas, e o politeismo há muito tinha morrido na Grécia, exceto na região de Taygetos, onde até o século nono os Maniatas ainda continuavam a adorar ídolos em suas casas nas montanhas. Mas os Imperadores Bizantinos Miguel III (842-867) e Basílio o Macedônio (867-886) mandaram seus generais para subjugar os invasores eslavos, que eram, alem disso, constantemente saqueados e enfraquecidos por epidemias continuadas, e gradualmente foram assimilados tanto em nacionalidade quanto em religião pelo ambiente Grego. Sob pressão do poderio bizantino, até os Maniatas de Taygetos, os descendentes dos antigos Espartanos, finalmente se renderam no Cristianismo; e idolatria deixou dai em diante de existir em solo Helênico.

Os Moravos.
Entre outras tribos Eslavônicas estavam os Moravios, que haviam se estabelecido em solo Alemão e cairam sob o domínio Alemão. Mas em 855, o rei deles, Rostislav, libertou-os do jugo Alemão e então apelou ao Imperador Bizantino Miguel III, que lhe enviasse pregadores Cristãos; foi então, que Miguel III, com a cooperação do Grande Patriarca Photius, mandou para a Morávia os dois famosos pregadores Cirilo e Metódio, gregos de Salônica que tinham praticado a vida monástica no Mosteiro de Polichronius em Constantinopla. Esses dois homens não só pregaram a Palavra de Deus entre os moravios, mas tambem traduziram as Escrituras e a Liturgia Bizantina para a língua eslava para o benefício da recém-fundada da Igreja Moravia, que colocaram sob a jurisdição eclesiástica do Patriarca de Constantinopla, de quem eram enviados. Infelizmente, em 867, Rotislav mudou de idéia, por razões políticas, e virou-se para a Igreja de Roma, que naqueles dias começara a aspirar ser o principal centro eclesiástico do Cristianismo. Os dois companheiros missionários foram então convocados para diante do Papa, e Cirilo permaneceu em Roma até sua morte, enquanto Metódio foi enviado para continuar seu trabalho como Arcebispo da Morávia. Enquanto Metódio viveu, lutou pela preservação da Escritura Eslavônica e da Liturgia Bizantina no uso da igreja. Após sua morte, no entanto, a Sé Romana aboliu ambas e substituiu-as pelas Latinas, desdenhosamente rejeitando a língua Eslavônica como "bárbara e profana."

Os Búlgaros.
Durante o século nono, também os búlgaros receberam o Cristianismo da mesma fonte Bizantina. Os búlgaros, uma tribo tártara, que havia tempos atrás vivido nas praias do Mar Cáspio, migrou dali no século quinto, e subindo o Rio Danúbio, estabeleceu-se permanentemente na parte norte da Península dos Balkans. Eles eram, no começo, um povo bárbaro de costumes selvagens, e até mesmo praticavam sacrifícios humanos; mas de 800 em diante eles começaram a progredir no caminho da iluminação, e sob a influência dos nativos eslavos, adotaram a língua eslavônica e a consciência da raça. Sua proximidade com o Império Bizantino não era de todo agradável aos bizantinos, a quem eles constantemente saqueavam; mas havia, no entanto, uma indubitável influência benéfica sobre os búlgaros por acostumá-los com a atmosfera do Cristianismo. O primeiro arauto do Cristianismo, para a Bulgária foi a irmã do Rei deles Boris, que havia sido iniciada nas crenças Cristãs enquanto esteve prisioneira em Constantinopla. Depois de 861, no entanto, o proprio Boris tornou-se o mais árduo e sistemático trabalhador pela Cristianização de seu povo, tendo sido persuadido a isso, de um lado, por uma temível peste da qual foi salvo pelas orações a Jesus Cristo, e de outro lado pela terrível impressão feita na sua mente por uma pintura do Juízo Final, que foi mostrada a ele pelo missionário Metódio.

A Conversão dos Búlgaros.
Boris anunciou para o Imperador Bizantino, Miguel III, sua intenção de ser batizado, e também informou a ele, que queria adotar o nome de Miguel no Batismo. Ele também implorou ao Imperador e ao Patriarca Photius que lhe enviassem padres Gregos; e tendo abraçado o Cristianismo com a ajuda da Corte Bizantina em 863, lutou com unhas e dentes com toda a oposição para tornar seus súditos Cristãos, também. Três anos depois, o medo de perder sua independência política, fez com que ele se afastasse dos seus vizinhos bizantinos e colocasse sua recém fundada Igreja sob a jurisdição da distante Roma. Mas quando os emissários Papais o encontraram e cairam sobre a recém plantada vinha como javalis (de acordo com a descrição do Santo Photius), Boris caiu em si se onde vinha o real perigo contra a liberdade, e em 869 retornou para a Igreja Mãe. Seu trabalho foi continuado por seus sucessores, dos quais o mais famoso foi o Tsar dos Búlgaros, Simeon, que floresceu no século décimo. Durante seu reinado, os búlgaros cultivaram o aprendizado, e a Igreja Búlgara gozou de total indenpendência com Ochrida como seu centro eclesiástico. Mas em 1018, o Imperador Bizantino Basílio o Bulgaroctonus seguiu suas vitórias militares sobre os búlgaros com a sujeição da Igreja Búlgara, ao Patriarcado de Constantinopla.

Os Russos.
Uma conquista muito maior para a Igreja Ortodoxa do Oriente foi a introdução e disseminação do Evangelho nos vastos territórios da Rússia, que teve lugar um século depois da conversão dos búlgaros. Esse importante evento foi precedido por várias tentativas feitas em diferentes tempos, a primeira nas quais deve ser reconhecida a tradicional visita de André o Apóstolo à Scythia, e sua pregação do Evangelho os Scythios, que foram os ancestrais dos russos. Mas essas sementes originais foram logo abafadas e por séculos os russos agarraram-se a sua adoração por Peroun, o deus do trovão. Por volta de meados do século nono, ouvimos falar de uma furiosa tempestade no Chifre de Ouro, e, retornando aterrorizados a Kiev, imploraram ao Imperador e ao Patriarca Photius, para que mandassem padres para batizá-los. Ainda outra tentativa foi feita mais tarde pela Rainha Mãe Olga, que, quando permaneceu em Constantinopla em 955, foi batizada pelo Patriarca Polieucto e decidiu retornar a seu país e evangeliza-lo ela própria. Mas ela também foi ricularizada, e foi deixado para o neto de Olga, Vladimir, receber divina inspiração e experimentar ele mesmo finalmente o título de "Isapóstolo" (igual aos Apóstolos) da Rússia.

A Conversão dos Russos.
Existe uma história ingênua que Vladimir, cansado do seu deus de madeira Peroun e querendo introduzir entre seu povo uma forma mais edificante de religião, convidou os representantes das principais religiões de seu tempo a aparecerem diante dele, para que pudesse escolher entre elas a mais desejável. Ele não se sentiu atraido pelos representantes do mohamedanismo, que proibia que se bebesse vodka; nem ficou ele mais satisfeito com as tentativas de persuasão do representante do judaísmo, cujos seguidores eram amaldiçoados e desterrados errantes, perseguidos por todos. Dispensou, também, o representante de Roma, com quem, ele dizia, seus ancestrais tinham sempre recusado cultivar relações. Mas quando o filósofo grego Constantino explicou para ele a fé Cristã Ortodoxa, reforçando seus eloquentes argumentos, mostrando a Vladimir uma pintura representando a segunda vinda de Nosso Senhor, como Metódio havia certa vez mostrado ao Rei dos Búlgaros, Vladimir não pôde mais conter-se, e, profundamente tocado, exclamou: "Bendito são os justos, e, de fato, miseráveis são os pecadores!" Para reforçar sua decisão, enviou uma embaixada oficial de Boyars (título antigo dos nobres da Rússia), a Costantinopla para estudar o assunto "in loco" e com seus próprios olhos. Eles foram, e assistiram uma Liturgia patriarcal celebrada na ingreja de Santa Sofia; e tão maravilhados ficaram com tudo que viram e ouviram que, no seu retorno para a Rússia, contaram para o seu rei, que quando eles estavam seguindo o Ofício Bizantino não sabiam se estavam na terra ou voavam a caminho do céu.

O Batismo de Vladimir e Seu Povo.
Vladimir então endereçou ao Imperador Bizantino, Basílio, uma mensagem onde implorava ao Imperador que concedesse a ele Vladimir sua irmã Ana em casamento, para ajudá-lo a carregar seu plano divino, e para enviar-lhe um bom número de padres para instruir e batizar o povo russo. Basílio, de boa vontade concordou com as propostas, e por um futuro reino de Deus na terra Ana sacrificou os palácios de Bizâncio pelo trono de um povo semi-bárbaro. Os russos amarraram seu deus de madeira Peroun ao rabo de um cavalo, e após arrastá-lo insultando-o, pelas ruas, atiraram-no num rio para mostrar que não tinham mais uso para o deus. As barrancas do rio Dnieper enxamearam-se com milhares de pessoas, Boyars (nobres) e moujiks (camponeses), que foram batizados com seu rei enquanto os padres de Constantinopla, permanecendo no meio do rio em cima de balsas, recitavam as orações de batismo. E no ano da graça de 988 a Rússia oficialmente, ainda que não completamente, abjurou a idolatria e entrou na comunidade de povo Cristãos.Vladimir morreu em 1015, deixando a continuação de seu trabalho para seus sucessores. O mais proeminente deles foi Yaroslav (1010-1054), que encorajando o aprendizado, construindo igrejas e criando um código de leis, conseguiu elevar seu país para uma condição mais condizente com a de uma nação Cristã.

Vicissitudes da Igreja Russa.
Não se deve, no entanto, ser suposto que os vastos territórios da Rússia foram subitamente transformados como se por mágica, nem que o Cristianismo foi capaz de estabelecer sua supremacia sem luta. Nas regiões no nordeste da Rússia, idolatria, suportada por advinhações de artes negras, apresentaram um impenetravel front para novas idéias. A supremacia mongol, que de 1224 a 1480 dominou tanto a Igreja quanto o Estado, foi um severo conjunto de tropeços para o progresso do Evangelho. Durante séculos, além disso, os Papas nunca cessaram de cobiçar a terra, e perseguiram seu objetivo de romanização enviando de tempo em tempo frades dominicanos e franciscanos, e outras cruzadas completas, como fez o Papa Inocente IV, que no meio do século XIII incitou o rei da Suécia a atacar a Rússia. Mas apesar de tudo, a fé ortodoxa tanto sobreviveu quanto prosperou. Isso foi devido de um lado à perseverança na fé ortodoxa dos Reis e Imperadores Russos, que seguiram os passos do santificado Vladimir, e de outro lado ao zelo dos prelados da Igreja Russa, a maioria dos quais foram por séculos enviados diretamente de Constantinopla.

9. Iconoclasmo e Outras Disputas.

Léo o Isauriano e Seu Programa de Reformas.
A primeira em data e importância das diferenças religiosas que perturbaram nossa Igreja na Idade Média foi a disputa iconoclastica, que espalhou-se por quase um século e meio. Léo o Isauriano (717-741), apesar de ser um bravo Imperador e homem patriótico, foi, infelizmente, ignorante na psicologia popular e apto a ser levado a extremos. Naquele tempo, o entusiasmo pela vida monástica estava drenando a comunidade de seus mais dignos cidadãos, e o povo dedicava grande parte de seu tempo a celebrar festividades de santos. Além disso, a multiplicação de imagens e outros objetos sagrados estava distorcendo o caráter espiritual do Cristianismo e trazendo sobre ele críticas tanto dos Mohamedanos quanto dos Judeus. Vendo tudo isso, Léo decidiu realizar reformas religiosas radicais começando com as imagens que parecia ser a necessidade mais urgente. Agindo assim, ele não estava inteiramente sem justificativa, mesmo de um ponto de vista Cristão; pois a ignorância trouxe para o uso dos ícones abusos que degradaram a natureza espiritual da religião Cristã e cheirava mais uma vez a idolatria. Ele esqueceu, no entanto, que as imagens são os livros dos iliteratos, que a arte de pintar sempre serviu para inspirar e perpetuar virtude; que o homem sempre necessitará de símbolos materiais, e que abuso deles não exclui seu uso prudente.

A Guerra Contra as Imagens.
Quando, portanto, Léo emitiu suas duas proclamações contra imagens em 726 e 730, a primeira ordenando que todas as imagens deveriam ser postas mais altas, e a segunda comandando sua total remoção, encontrou irritados com ele não só o povo, mas também homens de provada distinção em conhecimento e piedade; tais como Germanus, Patriarca de Constantinopla, que preferiu se aposentar a proceder a tais extremos, João Damasceno, que publicou três ardentes apologias pelo direito do uso de imagens, e o Papa de Roma, que protestou ao Imperador por carta. Mas infelizmente o Isauriano não acedeu nem ao conselho dos mais sábios que ele, nem à insurreição de seu povo, mas teimosamente levou avante seu plano de campanha contra as imagens. Mais infelizmente ainda, aqueles que executavam os comandos reais eram homens mal educados que cometeram atos de puro vandalismo. Assim aconteceu que preciosas obras de arte, que teriam sido o orgulho de qualquer galeria de arte, foram cruelmente jogadas nas chamas; valiosos manuscritos foram destruidos por conta das miniaturas que os adornavam; a Escola Ecumênica de Constantinopla foi queimada com sua esplêndida biblioteca de livros raros; e sangue Cristão foi derramado quando a imagem de Cristo estava sendo cortada fora do Portão de Bronze do Palácio Imperial. Por conta de um abuso, que deveria ter sido corrigido pela melhor educação do povo, todos esses abusos foram cometidos, e o estado foi dividido em dois campos ferozmente opostos: aqueles dos amantes de imagens e aquele dos destruidores de imagens.

O Sétimo Concílio Ecumênico.
Quando Constantino Copronymus (741-775) sucedeu seu pai, Léo, ele não só continuou com a mesma política de guerra contra as imagens, brutalmente cegando ou cortando os narizes de qualquer monge que desobedecesse seus decretos; mas também ultrapassou seu pai em presunção, convocando sob sua própria autoridade um assim chamado Concílio Ecumênico em 754, para condenar todos aqueles que tivessem opinião contrária. Mas esse concílio no qual estavam faltando os cinco Patriarcas do Cristianismo, só poderia clamar pouco por ecumenicidade; e apesar dos reis da dinastia Isauriana, com o apoio do exército e da corte, não pouparem esforço para conseguir seus propósitos, apesar de muitos cléricos estarem prontos a inclinar-se aos desejos de seus governantes, e o filho de Constantino, Léo IV, o Khazar (775-780) zelozamente carregou o trabalho iconoclástico de seu pai e de seu avô, no final a saudável consciência da Igreja prevaleceu. Em 787, sob a regência da Imperatriz Irene, viúva de Léo IV, com Tarasius como Patriarca, e com representantes convenientes dos outros patriarcados, o Sétimo Concílio Ecumênico se reuniu em Nicéia. Evitando qualquer extremo, esse concílio escolheu o caminho dourado e estabeleceu que a figura da Cruz e santas imagens fossem coloridas ou não, se fossem feitas em pedra ou de qualquer outro material, poderiam ser representadas em vasos, roupas, paredes ou madeiras, em casa ou em vias públicas; especialmente figuras de Cristo, da Virgem, anjos ou homens santos. Tais representações como foi definido, estimularam os espectadores a pensar nos originais, e, ainda que não pudessem nem devessem ser adorados porque adoração é devida somente a Deus (?at?e?a) mereceriam respeito e veneração (p??s????s??).

Domingo da Ortodoxia.
Mesmo depois da decisão do Sétimo Concílio Ecumênico, os Imperadores Bizantinos, Léo o Armênio (813-820), Miguel o Stammerer (820-829), e Theophilus (829-842), continuaram incessante guerra contra as imagens. Depois da morte do último, então, sua viúva Theodora, com seu cunhado Manuel, seu irmão Bardas e o Chanceler Theoctistus, constatando que somente o reconhecimento das decisões do Sétimo Concílio Ecumênico poderia trazer paz para o conturbado reino, convocaram um grande Concílio para Constantinopla no primeiro Domingo da Grande Quaresma de 842. Foi presidido pelo Patriarca Ecumênico Methodius, e declarou que o Decreto do Sétimo Concílio Ecumênico era determinante para todos, e sobre essa base os partidos opostos se reconciliariam. Com grande pompa, as imagens foram então carregadas de volta às igrejas, e os lugares de veneração pública finalmente recuperaram seus antigos adornos. Esse dia foi conhecido como "Domingo da Ortodoxia," e daí por diante apontado como festa anual. Protestos contra as imagens ainda continuaram, mas gradualmente se tornaram fracos e esporádicos, até que afinal desapareceram inteiramente.

Os Heréticos Paulicianos.
Durante a Idade Média, a Igreja Oriental foi perturbada não só pelos destruidores de imagens, mas também por vários outros heréticos, entre os quais os mais importantes foram os Paulicianos e os Bogomils. Os Paulicianos apareceram na Armênia durante o século sétimo, e sobreviveram como um sistema religioso até o século doze. Seu líder foi um certo Constantino que tomou sobre si o continuar o trabalho do Apóstolo Paulo, assim dando à heresia esse nome, e tentou reproduzir a atividade do Apóstolo com os Gentios dando a si próprio o nome de companheiro de trabalho de Paulo, Silvanus, e chamando os centros de sua heresia Macedônia, Achaia, Corinto, Colossae e assim por diante. Ele mantinha que somente ele e seus seguidores representavam a verdadeira igreja fundada por Jesus Cristo, enquanto todos os outros eram "Romanos" e não Cristãos. A base da heresia Pauliciana era o dualismo, ou a crença em dois deuses: o Deus Bom e o Príncipe desse Mundo, ou "Cosmocrator." Além disso, os Paulicianos ensinavam que o sacerdócio era universal, aceitando só o Novo Testamento como Escritura Sagrada e rejeitavam os ícones, a intercessão dos Santos, a vida monástica, e toda e qualquer forma de pompa e mistério na religião. Em 752 Constantino Copronymus transplantou os Paulicianos para a Trácia. Depois do seu tempo, foram impiedosamente perseguidos por Miguel Rangabe (811-813) e Léo o Armênio (813-820), que armou uma inquisição contra eles e assim forçou-os a retornar à Armênia, de onde eles fizeram constantes e destruidos ataques a territórios Bizantinos. João Zimiskas estabeleceu-os em torno de Philippopolis em 970 para defender as fronteiras do Império, mas de 1118 para diante Alexis Commenus decidiu exterminá-los por persuasão e força.

Os Heréticos Bogomilos.
Os Bogomilos, ou Amados de Deus, apareceram na Bulgária no século XII, e foram mais ativos nessa região. O cabeça dessa seita era Basílio, a quem em 1119 Alexis Commenus prendeu e tentou fazer com que ele revelasse os segredos de sua heresia. Achando, entretanto, que violência não seria útil, o Imperador mudou suas táticas, e tratou Basílio como um amigo e companheiro de mesa até que o silêncio de Basílio foi quebrado e revelou todos os seus mistérios. Então, as cortinas subitamente se abriram e o Patriarca apareceu com o Senado para setenciar Basílio à morte na estaca. A conduta de Alexis esteve longe de ser honrada; mas alguma desculpa deve ser dada a ele pelo fato de que a população estava enraivecida com os Bogomilos e que condenando seu líder às chamas, Alexis ao menos resgatou seus seguidores das mãos da turba. Mas fogo não consegue queimar heresia, e mais de um século depois ainda eram encontrados Bogomilos, no mais das vezes na verdade, escondidos sob um gôrro de monge. Os Bogomilos limitavam a Sagrada Escritura aos livros do Novo Testamento, aos Profetas e os Salmos, e o único sacramento que reconheciam era o Batismo pelo Espírito, e não pela água. Eles, também, acreditavam que dois princípios governavam o mundo: Cristo de um lado, e do outro lado Satanael.

10. O Começo do Grande Cisma.

Governo da Igreja.
Apesar de todas as diferenças locais de língua, nacionalidade e forma de louvação, a Igreja Cristã teve sucesso através de oito séculos em manter absoluta unidade. No século nove, entretanto, Oriente e Ocidente começaram ter rumos separados, até que no século onze a separação entre eles tornou-se um fato estabelecido e permanente. As causas desse infeliz cisma, que dividiu o corpo da Igreja em dois, foram várias e numerosas, e aparecerão no tempo oportuno; mas principal entre elas esteve o espírito de dominação que gradualmente inflamou Roma e causou que ela aspirasse a suprema soberania sobre todas as Igrejas em todas as partes do mundo. Para que, no entanto, essa materia seja melhor entendida, devemos primeiro dizer algo sobre a forma original de governo da Igreja pela Igreja, e como os Papas tentaram usurpar os reinos do governo.

Govêrno da Igreja Durante os Três Primeiros Séculos.
Durante os três primeiros séculos, a mais alta autoridade eclesiástica foi vestida pelos bispos locais, que continuaram o trabalho dos Apóstolos como seus imediatos sucessores. Não só eles ensinavam seu rebanho leigo, e comandavam seus subordinados clericais; eles também mantinham controle atento sobre o ensinamento de doutrina Cristã corrompida e a pureza moral daqueles sobre seus cuidados. Muito cedo, no entanto, uma certa distinção começou a acontecer entre os bispos. Alguns deles tinham assento em capitais das provincias romanas; outros em cidades que tinham recebido o Evangelho diretamente dos Apóstolos, e por disseminarem imediatamente o Evangelho entre as cidades vizinhas e vilarejos, tinham se tornado "metropolis" ou igreja mãe no sentido Cristão. Assim começaram a surgir Metropolitas, que tinham assento nos grandes centros do Império Romano e gozavam de previlégios maiores que os dos bispos que os circundavam. Eles eram os governadores das sés eclesiásticas, as quais coincidiam totalmente com as províncias políticas. Como Metropolitas, sagravam os bispos das cidades-filhas; quando surgia a ocasião, convocavam Sínodos, nos quais bispos e clérigos de alto nível tomavam parte; e, presidindo as reuniões, eram responsáveis por emitir as decisões necessárias. Entre os Metropolitas naqueles tempos, três vieram a ser particularmente distinguidos por terem seus assentos nas três maiores cidades do Império: — os Metropolitas de Roma, Alexandria e Antióquia que eram naqueles dias proeminentes e entre esses três, o Metropolita de Roma gozava de um certo tipo de precedência honorária, não porque tivesse jurisdição sobre os outros Metropolitas, que eram todos governantes independentes em suas próprias sés e responsáveis somente pelos Sínodos locais, mas sim porque Roma era naquele tempo, a capital política do mundo.

Govêrno da Igreja Depois de Constantino o Grande.
Esse era o estado dos assuntos da Igreja, antes de Constantino o Grande; mas nos anos que se seguiram a seu reinado a pressão de problemas mais sérios forçou a Igreja a reorganizar seu sistema de governo para linhas mais abrangentes. Como Constantino havia dividido seu reino em várias dioceses políticas, a Igreja, obrigada a adaptar as esferas eclesiásticas às esferas políticas, foi dividida em dioceses eclesiásticas correspondentes às dioceses políticas; cada diocese eclesiástica sendo a partir de então governada por um Arcebispo. Assim, nesse período, o Arcebispo de Alexandria exercia a supervisão suprema sobre os assuntos eclesiásticos da diocese do Egito; o Arcebispo de Antióquia sobre a diocese do Oriente; o Arcebispo de Éfeso sobre a diocese da Ásia; o Arcebispo de Cesaréa sobre a diocese de Pontus; o Arcebispo de Heraclea sobre a diocese da Trácia; Arcebispo de Salônica sobre a diocese do Ilíricun Oriental, e o Arcebispo de Roma continuou a controlar os assuntos de Italia central e do sul. O título de "Patriarca" não era ainda conhecido, pois ele somente entrou em uso em 451.

Os Cincos Patriarcas.
Antes de Constantino o Grande, Bizâncio era um insignificante episcopado sob o comando do Metropolita de Heraclea. Mas a partir do momento que a assim renomeada Constantinopla suplantou a velha Roma como capital do Império, era completamente natural que ela viesse a ser, também, o mais importante arcebispado do império; e o Quarto Concílio Ecumênico declarou coerentemente que o Arcebispo de Constantinopla foi intitulado com igual reverência à do Arcebispo de Roma, "porque Constantinopla é a cidade do rei." Pela mesma razão — porque, por assim dizer, a outrora insignificante cidade de Bizâncio foi elevada à condição de capital do mundo ao mesmo tempo que a antiga cidade de Roma estava decrescendo em direção à insignificância — não foi contraditório ao então existente estado dos assuntos o fato de em 587 o Imperador Justiniano conceder ao Arcebispo de Constantinopla, João o Jesuador, o título honorífico de "Ecumênico," que seus sucessores tem mantido desde então. Com o correr do tempo, a autoridade administrativa dos Arcebispos de Éfeso e Cesarea tornaram-se subordinadas ao Arcebispo de Constantinopla, e Salonica ficou sobre o comando de Roma; e em 431 o episcopado de Jerusalém, foi promovido ao nível de centro eclesiástico independente, como uma marca de reverência para com a Cidade Santa que havia sido o berço do Cristianismo no seu nascimento. Assim, em meados do século quinto, existiram no mundo Cristão cinco governantes eclesiásticos supremos, que então começaram a receber o título de "Patriarcas": — nominalmente, os Arcebispos de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antióquia e Jerusalém. Mas no século sétimo as ferozes incursões do Mohamedanismo ao Egito, Síria e Palestina diminuiram a importância dos três últimos Patriarcados citados e os restringiram de todos os modos. Daí em diante, por conseguinte, duas cabeças eclesiásticas permaneceram supremas no Cristianismo; no Ocidente o Primado da Velha Roma, cuja autoridade era firmemente crescente; e no Oriente o Primado da Nova Roma, ou Constantinopla, que estava lutando para manter sua independência eclesiástica.

A Ambição dos Papas de Roma.
Apesar de sua posição exaltada e seu impressionante título de "Patriarca Ecumênico," o Patriarca de Constantinopla exercia uma autoridade que era restrita de muitas maneiras e nunca foi capaz de ambicionar a suprema autoridade sobre o mundo todo. A glória política de seu trono foi obscurecida pela origem apostólica ou pela renovada santidade de outras cidades do oriente, e sua liberdade era cortada e não pouco pelo Imperador Bizantino, que convocava os concílios, e às vezes, até mesmo ele próprio emitia Decretos de Fé, indicava o Patriarca, e constantemente interferia nos assuntos eclesiásticos. A posição do Papa, no entanto, era completamente diferente. Roma era a única Igreja Apostólica do Ocidente, e era, por isso, olhada reverentemente pelos Cristãos da Itália, Gália, Espanha, África e até alem. O Imperador, cujo trono estava então no Oriente, estava muito longe para ingerir-se nos assuntos da Igreja de Roma, e cabeças da Igreja Oriental, perseguidos por Imperadores heréticos, como foi o caso por exemplo de Atanásio, procuravam refúgio com os Papas. Até o passado histórico de Roma, uma vez mandatária no mundo todo, alimentava no coração dos Papas ambições despóticas e imperialistas. Assim, desde os primeiros tempos, vemos atitudes arrogantes dos Papas para com seus companheiros-bispos, como quando o Papa Vítor (193-202), tentou impor o costume romano de celebrar a Páscoa a Polycrates, Bispo de Éfeso, e foi repreendido por Irineu de Lyons; ou quando Estevão (257-259), convocou o Bispo Cipriano de Cartago para concordar com a prática romana em relação ao Batismo de heréticos, quando então foi publicamente censurado por Firmiciano da Capadócia. Apesar de todos os protestos, no entanto, os Papas nunca falharam em tirar vantagem de qualquer circunstância que pudesse colaborar com o objetivo de sujeição de outros bispos, até que, tendo reunido todas as Igrejas Ocidentais sob sua autoridade, eles julgaram o momento oportuno para invadir as Igrejas do Oriente. Encontraram um pretexto para sua intenção nas disputas e lutas domésticas em Constantinopla durante o século nono.

A Pretensão do Papa Nicolau em Se Tornar o Árbitro do Oriente.
Tendo algumas razões de insatisfação com o Patriarca Inácio, o Imperador Bizantino Miguel III (842-867) e seu tio e colega Bardas, depuseram-no e apontaram em seu lugar um homem cuja virtude, sabedoria e competência eram reconhecidas universalmente — o chefe da Secretaria de Estado, Photius. Os que apoiavam Inácio, ao invés de aceitar a situação para a manutenção da paz na Igreja, apelaram a Roma, reclamando da injustiça feita a eles. Nicolau I, que era o Papa na ocasião, foi o mais ambicioso de todos os Papas; e para manter o não-evangélico princípio da supremacia papal, não mostrou nenhum escrúpulo em usar certos documentos falsos, quais sejam, as decretais forjadas que apareceram mais ou menos naquele tempo. Vendo uma oportunidade favorável para intervir nos assuntos do Oriente, Nicolau indicou a si próprio como juiz da pendência entre as duas partes conflitantes usando sua própria autoridade. Declarou que o trono de Constantinopla legalmente pertencia a Inácio, e rejeitou a eleição de Photius de um lado porque tinha sido realizada sem seu apoio, e de outro lado porque ela tinha elevado em uma única semana, um mero leigo à condição de Arcebispo. Aceitando essas reclamações, o Papa passou por cima do fato de que seu pretenso direito de supervisão geral nunca fora reconhecido em lugar nenhum, de que Photius tinha o apoio não só da corte, mas tambem da maioria do clero e da população; e que Ambrósio, Farasio, Nicéforo e outros líderes da Igreja, no passado tinham todos eles sido eleitos bispos diretamente a partir da condição de leigos.

Photius como Defensor da Independência de Seu Trono.
Quando então, os delegados do Papa chegaram em Constantinopla e tomaram parte no Sínodo em 861 por consenso comum de partidários de Inácio e de Photius, foram forçados pela lógica dos fatos a dar seus julgamentos a favor de Photius e a admitir que o existente estado de assuntos era tanto correto como legal. Nicolau, furioso com o fato do pessoal do oriente não ter se submetido como escravos à suas decisões arbitrárias, convocou um Sínodo de seus partidários em Roma em 863, e excomungou o Patriarca de Constantinopla. Vendo, no entanto, que os bizantinos não tomaram conhecimento de seu comportamento não razoável, ele virou sua atenção para a jovem Igreja da Bulgária, que tinha sido fundada há muito pouco tempo através das atividades do próprio Photius, e tentou separá-la de sua Igreja-Mãe. Foi então que Photius, lutando valentemente pela liberdade do Cristianismo Oriental, enviou para os Patriarcas do Oriente, em 867, sua famosa carta encíclica, denunciando o Papa por corromper a fé ao inserir no Credo a palavra "filioque," que era então desconhecida até mesmo na antiga Roma; por readministrar o Crisma aos Cristãos Búlgaros, sob o pretexto de que eles tinham previamente sido batizados por padres casados de Constantinopla; por tiranização das Igrejas Orientais; e pela escandalosa interferência em disputas fora de sua própria jurisdição.

O Assim Chamado Oitavo Concílio Ecumênico e Suas Denúncias.
Infelizmente para Constantinopla, o assunto não parou aí. Basílio, o Macedônio, um jovem cavalariço que tinha sido criado para ser colega e filho adotado do Imperador Miguel, matou esse último em 867 e proclamou a si próprio Imperador no lugar dele. Para se vingar de Photius, que tinha se recusado a lhe administrar os sacramentos depois de seu feito homicida, Basílio então depos Photius de seu trono e trouxe de volta Inácio, entrando em relações com o Papa na tentativa de assegurar para si a posição ilegal adquirida. O Papa Adriano II, que em orgulho e ambição era muito pouco inferior a seu predecessor, agarrou o momento psicológico para extrair de Basílio, como preço da benevolência romana, a condenação oficial de Photius, seu arqui-inimigo, por um grande Sínodo. Basílio consentiu, e em 869 o grande Sínodo foi reunido, com coerção e persuasão exercidas sobre os bispos. Os representantes do Papa no Sínodo triunfaram na votação. O Papa foi reconhecido como "supremo e absoluto cabeça de todas as Igrejas, superior até mesmo aos Concílios ecumênicos"; Photius foi anatematizado e degredado como "patricida e um novo Judas"; e a Igreja Oriental pagou um alto preço pelos pecados da corte e pela obstinação dos partidarios de Inácio. Mas não demorou muito para que ambos os partidos retomassem seu bom senso, constatando os perigos aos quais estavam expostos diante do despotismo romano; e partidários de Inácio e de Photius rapidamente deram-se as mãos novamente. E num grande Sínodo reunido em Constantinopla em 879, unanimamente denunciaram o servil e forçado Sínodo de 869, o qual ainda é chamado de "Oitavo Concílio Ecumênico" pela Igreja Ocidental e que reconheceu como plenamente justificado o varonil arrazoado feito contra o Papado pelo grande Patriarca e Confessor, Photius, graças a quem a Igreja Oriental conseguiu preservar intacta tanto a fé quanto a liberdade.

11. O Completamento do Grande Cisma.

Miguel Cerulário e Leão IX.
Com o anátema pronunciado contra Photius pelos delegados papais no falso Sínodo de 869, e com o categórico repúdio desse falso Sínodo pelo Oriente em 879, um resfriamento ocorreu nas relações entre as Igrejas Ortodoxa e Ocidental, mas não existiu ainda um cisma formal. E não ocorreu esse cisma até 1054, quando Miguel Cerulário era Patriarca de Constantinopla e Leão IX Papa de Roma, e então ocorreu um fato que tornou o cisma algo estabelecido e as duas Igrejas tornaram-se irremediavelmente separadas. Cerulário havia escrito uma carta ao Bispo João de Trania na Itália, enumerando as inovações introduzidas pela Igreja Romana, e rogando a ele que desse a essa carta uma grande divulgação para que a verdade pudesse prevalecer. A carta recebeu de fato uma grande publicidade e chegou particularmente ao conhecimento do Papa Leão IX, que mandou a seu autor uma resposta muito aguda, severamente recriminando-o por pretender censurar uma igreja que nunca antes havia sido censurada por ninguém. O Imperador de Constantinopla, Constantino Monomachus, que tinha necessidade do Papa para proteger seus interesses políticos na Itália, que estavam ameaçados, mandou ao Papa uma resposta extremamente conciliatória, pedindo que o mesmo enviasse seus delegados para estudar a situação tendo porem em vista a restauração de relações fraternas. O Papa, na verdade, mandou o Cardeal Humberto, mas aparentemente numa missão longe de ser pacífica. Pois quando o Cardeal chegou em Constantinopla, não só se comportou com grande insolência para com o Patriarca, como também se dirigiu para a Igreja de Santa Sofia onde depositou sobre o altar uma bula de excomunhão contra a Igreja Oriental, estigmatizando-a como repositária de todas as heresias do passado, e então precipitadamente desapareceu. Quando o Patriarca ouviu o que tinha acontecido, ele também emitiu uma sentença de excomunhão contra a Igreja Ocidental, que os outros Patriarcas assinaram conjuntamente. Assim a separação entre as duas Igrejas tornou-se completa.

As Cruzadas.
Desde então, várias circunstâncias infelizes contribuiram para tornar essa separação permanente. A mais terrível de todas foram as cruzadas, que apesar de parecerem, quando olhadas do ocidente, heróicos empreendimentos inspirados pelo sagrado zêlo em libertar a Terra Santa, foram para o oriente nada menos do que um flagelo e uma calamidade. Os Cruzados, que representaram um estágio inferior de civilização e foram inflamados contra os Ortodoxos por intolerância e fanatismo, saquearam, picharam, profanaram e destruiram tudo por toda parte e deixaram vívidas marcas de sua horrorosa passagem. Nas Ilhas Iônicas e no Mar Egeu, eles depuseram os bispos Ortodoxos, e forçaram o clero grego a se submeter a bispos latinos. Em Chipre, como veremos mais adiante, amarraram os monges Ortodoxos a rabos de cavalo, e fizeram com que esses galopassem até a morte dos monges. Em Salônica eles fizeram orgias. Particularmente em Constantinopla foram cometidos ultrajes pelas forças da Quarta Cruzada liderada por Baldvino. Eles desonraram velhos e meninas; jogaram o Santo Sacramento no meio das ruas, e conduziram burros para dentro da Igreja de Santa Sofia para carregar os tesouros sagrados da igreja; ralharam o altar cravejado de diamantes e puseram uma prostituta a dançar e cantar sobre o trono do Patriarca para ultrajar os mais santos sentimentos da Igreja Oriental. Os Patriarcas de Antióquia e Jerusalém, aterrorizados com essas ferozes invasões, foram obrigados a abandonar suas dioceses na Síria e Palestina e procurar refúgio no Império Bizantino. O Cristianismo Oriental não poderá nunca esquecer o comportamento desses europeus bárbaros, que por seus saques e pilhagens e por seus sessenta anos de tirânico desgoverno em Constantinopla (1204-1261) prepararam o caminho para a destruição do Império Bizantino e apressaram sua queda.

Imperadores Levados pela Necessidade de Favorecer a Reunião.
Apesar de tudo isso, os Imperadores Bizantinos continuaram até o fim a implorar a amizade de Roma, de quem eles ainda esperavam receber apoio militar em suas guerras contra os infiéis, apesar dessa política ser sempre radicalmente contrariada pelo profundo sentimento antipapal de seu povo. Entre os muitos de tais imperadores que não mencionamos está Miguel Paleologo, que tornou-se mestre de Constantinopla em 1261 após tomar o trono e arrancar os olhos do sucessor legítimo, — feitos pelos quais foi excomungado pelo Patriarca e odiado por seu povo. Temendo uma nova invasão de seu império pelo ocidente, e desejando fazer com o que o Papa se tornasse partidário de sua causa, Miguel não só entrou em correspondência com Urbano II, adulando-o, dirigindo-se a ele como "cabeça da Igreja," mas até mesmo enviou delegados ao Concílio Geral Latino em Lyons em 1274, onde assinaram um acordo de reunião na base da supremacia papaz. Apesar de mais tarde Miguel ter mudado de atitude, por não ter recebido de Roma a esperada assistência militar pela qual ele tinha sacrificado suas convicções religiosas, tinha incorrido na hostilidade de seu povo como um traidor da fé, e quando ele morreu nenhuma só alma esteve presente no seu funeral. Um Imperador similar foi Andronicus III, que em 1339 mandou o arquimandrita Calabres Barlaam ao Papa Benedito XII em Auignon, então a sede dos Papas, quando Osman estava marchando para Constantinopla. Mas a embaixada falhou, e no seu retorno Barlaam encontrou tal impopularidade em Constantinopla que foi obrigado a deixar a cidade e retirar-se para a Itália, aonde se juntou à Igreja Romana. Outro Imperador desse tipo foi João V paleólogo que, em 1369, fez uma visita pessoal a Roma e prometeu a ele a completa submissão da Igreja Oriental. Ele até beijou os pés do Papa segundo cronistas latinos; isso porque nessa época Murad tinha feito a si senhor da maior parte da Península Balkanica, e havia lançado seu campo em Adrianópolis, às portas da capital bizantina. Todos esses avanços humilhantes, provaram, no entanto, serem inúteis porque eles de maneira nenhuma expressaram a verdadeira opinião do povo.

João VII Paleólogo em Ferrara.
A última e mais trágica tentativa de reunir as duas Igrejas, que falhou tão tristemente quanto as anteriores, foi feita por João VII Paleólogo, penúltimo Imperador do então sucumbente Império Bizantino. Acompanhado pelo idoso Patriarca José, por Marcos de Éfeso, Bessarion de Nicéia, George Escolário, George Gemistus e outras proeminentes figuras da Igreja e do Estado, João viajou com despesas pagas pelo Papa para o Sínodo reunido em Ferrara em 1438, ostensivamente para chegar a algum entendimento sobre a reunião das Igrejas com o Papa Eugenio IV, mas na verdade para encontrar os dirigentes ocidentais e apelar a eles como companheiros-Cristãos por ajuda militar para salvar o que restava de seu Império. Mas apesar das muitas promessas do Papa, não recebeu ajuda militar. Tudo que ele e seus seguidores receberam foi uma abundância de insultos e humilhações, sob cuja pressão, foi persuadido a assinar o que significava a perda de liberdade da Igreja Oriental.

A Falsa União de Florença.
Para dificultar a retirada dos gregos, o Papa transferiu o Sínodo para Florença, e para forçá-los a se submeterem, ele até mesmo reteve o dinheiro que havia prometido para as despesas deles, de tal forma que foram obrigados a vender suas vestimentas para obter comida. O infeliz Patriarca José (que estava destinado a morrer naquela terra inamistosa), no seu primeiro encontro foi solicitado a inclinar-se como um escravo diante do arrogante Papa e beijar seu pé. Sómente o indomitável Marcos de Éfeso permaneceu inabalável, e silenciou os latinos pela força de sua eloquência e seu másculo comportamento. Finalmente, em 6 de julho de 1439, a assim chamada "união" foi proclamada e sob a pressão do Imperador, para quem o único ponto importante era a perseguição do Estado, os representantes da Igreja Oriental, com a única exceção de Marcos, assinaram um documento formal reconhecendo o Papa como chefe supremo do Cristianismo, aceitando a doutrina da dupla precessão do Espírito Santo,o purgatório, o uso de pão não fermentado na comunhão, e todas as outras inovações não evangélicas da Igreja Romana.

As Consequências da Falsa União.
No entanto, quando esses homens que tinham sido forçados a assinar tal documento, retornaram num pesaroso apuro a Constantinopla, encontraram esperando-os um povo hostil, horrorizado por ter sabido o que tinha acontecido, e que os rejeitou como traidores. O Imperador, necessariamente perseguindo sua política de amizade com o Papa, indicou para o Patriarcado um clérigo que compartilhava suas opiniões, Metrophanes; mas o povo insultuosamente apelidou-o de "Metrophonus" (matricida) para demonstrar sua aversão pela escolha real. Bessarion de Nicéia, que era a favor da união e simpatizante da política do Imperador, foi obrigado a deixar o trono e procurar refúgio na Itália, onde o Papa o recompensou com o cardinalato. O valente Marcos, foi recebido pelos bizantinos com grandes honras e aclamado como campeão da ortodoxia. Para acalmar a excitação do povo, Metrophanes foi deposto, e um novo Patriarca escolhido, Atanásio, um homem de reconhecidos princípios Ortodoxos. E em 1451 um Sínodo, que foi reunido em Constantinopla e com a presença de todos os Patriarcas da Igreja Oriental, denunciou e formalmente rejeitou o falso Sínodo de Florença como o produto de trapaça, violência e opressão. Tão grande era a repugnância do povo por qualquer medida de avanço em direção a tirânica Igreja de Roma, que, quando alguns dias antes da queda de Constantinopla, o último Imperador Bizantino, Constantino XII Paleólogo, permitiu que padres romanos celebrassem missa na Catedral de Santa Sofia, a população levantou-se em fúria e exigiu a re-consagração da Igreja para lavar essa mancha sacrílega. A Ortodoxia havia sofrido muito com o Papa e seus orgãos; e o dizer de Notaras que "o turbante turco é preferível à mitra latina," expressa vividamente a convicção que os perigos da latinização eram para ser mais temidos que os perigos do Mohamedanismo. A Ortodoxia foi bastante ferida mas não esmagada sob o jugo turco. Mas não se passaram muitos anos antes que os Cristãos Ortodoxos, no sul da Itália e outros locais, que tinham reconhecido a supremacia do Papa, fossem absorvidos pela Igreja Romana.

12. A Escravização da Igreja do Oriente pelo Mohamedanismo.

O Fundador do Mohamedanismo.
O Mohamedanismo fez sua primeira aparição durante o sétimo século e deveria por isso ter sido comentado antes. Pareceu, no entanto, mais apropriado discutir o assunto na seção que trata dos tempos medievais, já que foi então que suas desastrosas consequências tornaram-se totalmente aparentes, e culminaram com a sujeição das antigas Igrejas do Oriente a mandatários de outra fé. O Mohamedanismo deve sua origem a Mohamed, um pobre pastor dotado de um profundo sentido religioso e com o poder de ter visões. A condição miserável da Arábia, pobre esparsamente povoada por tribos que estiveram sempre lutando uma com as outras e cuja religião havia degenerado nas mais baixa forma de politeísmo, a adoração de plantas e pedras inspiraram Mohamed (Maomé) com a elevada ambição de unir seus compatriotas nas amarras de uma religião mais nobre e faze-los com que seguissem para a conquista do mundo. Graças as atividades de uns poucos monges e missionários de Bizâncio, o Cristianismo não era de todo desconhecido na Arábia; o judaísmo também havia deixado lá algumas marcas na esteira das idas e vindas de mercadores judeus. Mohamed tomou o que havia ouvido desses dois credos e, fazendo disso a base de seu ensinamento, construiu dai um sistema religioso, o qual primeiro começou a pregar no estreito círculo de sua própria família.

A Hégira.
No entanto, quando Mohamed emergiu em 622 na privacidade de sua família, para se apresentar a um público maior como um mensageiro de Deus e para pregar sua nova religião abertamente em Meca, o povo de Meca levantou-se ameaçadoramente contra ele e procurou matá-lo. Ele foi obrigado a montar num dromedário, e procurar refúgio em Medina, que foi a primeira cidade a abraçar de todo o coração sua doutrina e a cerrar fileira a seu lado. Os mohamedanistas por essa razão consideram o ano da fuga de Mohamed ou "Hégira" como o primeiro ano de seu calendário religioso, como nós consideramos nossa era a partir do ano de nascimento do Nosso Salvador. De Medina, Mohamed lançou-se com seus seguidores para subjugar Meca e gradualmente tornou-se vitorioso em toda a Arábia, que ele inspirou com fervor religioso e daí conduziu a conquistas políticas. Ele acreditava estar cumprindo uma missão divina, e até imaginava, às vezes, que recebia comando do Céu, trazido a ele por anjos; ele tinha, além disso, uma crença inabalável no destino do Islã, sua nova religião, como um poder mundial. Vejamos quais eram os princípios dessa nova religião.

Os Sistemas Dogmático e Ético do Mohamedanismo.
O Mohamedanismo tem sua fé baseada na crença de que não há outro Deus senão Alá. Nos primeiros tempos ele mandou vários mensageiros para a terra, tais como Enoch, Abrahão, Moisés e Jesus. Mas o maior de todos os seus profetas foi Mohamed, o Consolador previsto nos Evangelhos, que veio por último para realizar tudo que os anteriores não tinham realizado. Segundo o Islã, os Judeus distorceram o ensinamento de Moisés por darem pouca importância a ele; os Cristãos distorceram os ensinamentos de Jesus por desvalorizarem-no; e seria então a obrigação de todo bom Islamita, forçar tanto os Judeus quanto os Cristãos a renunciar a seus erros e seguir a única e verdadeira fé revelada por Alá a Mohamed, o maior de todos os profetas. A Santíssima Trindade não esxiste, nem Deus tornou-se homem, pois não existiu necessidade de expiação entre Deus e o Homem. O mundo seria governado por um implacável destino; contra o qual o homem seria impotente. Alá seria misericordioso com os Islamitas depois da morte, e os estabeleceria numa terra onde jorraria leite, mel e manteiga, e onde seriam esperados por belas mulheres; mas pecadores e infiéis estariam destinados a um terrível inferno. Seria consequência portanto, que o maior dos possíveis pecados seria permanecer fora do Islã, enquanto a grande virtude seria converter todos quantos fossem possíveis para a fé; daí quem caisse em guerras contra os infiéis teria o melhor lugar no Paraíso. As outras obrigações do bom muçulmano eram cerimoniais, consistindo no lavar as mãos, jejuar e santa peregrinação para Kaaka em Meca, o mais antigo templo dos árabes. O Mohamedanismo não experimentou algo mais profundo do que isso, deixando os males da escravidão e poligamia não condenados. Tais foram as doutrinas de Mohamed que foram escritas em peles por seus seguidores após sua morte, e compuseram o livro sagrado do Mohamedanismo, o Corão.

O Islã como Poder Conquistador.
Mohamed morreu em 632, e seu trabalho, segundo seu próprio comando, foi continuado por seus sucessores, os califas. Abu Bekr (632-634) conquistou Damasco; Omar (634-643) invadiu a Pérsia, completou a conquista da Síria e colocou sob sua sujeição a Palestina e o Egito; e Otman (643-665) finalmente dominou a Pérsia e conquistou quase todo Norte da Àfrica. Depois deles, Muaviah sitiou Constantinopla por terra e mar por sete anos (672-678), e só foi impedido de capturá-la nessa época pelo valente Imperador de Bizâncio, Constantino Pogonatus, que queimou a frota islâmica por meio do "fogo líquido" inventado pelo engenheiro grego Callinicus. Mas mesmo depois desse desastre os árabes rapidamente recuperaram seu zêlo vitorioso; e, em 711, estabelecidos nas praias do norte da África, se lançaram pelo estreito de Gibraltar para a Espanha e avançaram direto para a França, onde o bravo general Franco, Charles Martel; finalmente derrotou-os na famosa batalha de Poitiers, em 732, exatamente cem anos depois da morte de Mohamed. Por justiça, no entanto, precisamos lembrar que não foi Charles Martel sozinho que salvou a Europa da maré invasora do Islamismo por derrotar uma única parte das forças árabes. Deve-se em grande parte isso, aos Imperadores Bizantinos, Heráclio, Constans e Constantino Pogonatus por terem por cem anos batalhado contra o terrível inimigo cegando a afiada lâmina do seu ataque.

A Sujeição dos Patriarcados de Jerusalém, Antióquia e Alexandria.
O Islamismo com todos os seus eventos, reduziu severamente os contornos do Cristianismo Oriental e privou-o de belas províncias; os de há muito famosos Patriarcados de Jerusalém, Antióquia e Alexandria, que cairam sob os árabes tão cedo quanto o sétimo século, perderam sua antiga glória e vitalidade. Durante o cerco de Jerusalém por Omar, Sofrônio, o prudente Patriarca, encabeçou uma delegação ao encontro do califa e entregou a cidade a ele em termos favoráveis evitando assim a sua destruição. Omar recebeu-o generosamente, e permitiu aos Cristãos manter os seus Sagrados Santuários sem serem molestados sob a única condição de pagarem o "haratsi" ou "imposto de capital." Mas na Síria e outros lugares o "haratsi" não foi considerado suficiente, e aqueles que não mudaram a sua fé foram forçados a se submeter a todo tipo de humilhação. Não lhes era permitido montar um cavalo; a construção de Igrejas, procissões públicas, toque de sinos, e colocação de cruz nos sepulcros, tudo isso era proibido; e eram impedidos de manter posições oficiais. Infelizmente a conquista Islâmica da Síria e Egito foi facilitada pelas grandes disputas religiosas no sétimo século, que estavam grassando nessas provincias nessa época. Nestorianos, Coptas e Jacobitas eram consumidos por tal ódio pelos Cristãos Ortodoxos da região, a quem eles chamavam de " Melquitas" ou "Realistas" (do Rei), que eles saudaram o advento do governo islâmico como uma libertação.

O Cêrco de Constantinopla por Mohamed II.
Por sete séculos Constantinopla permaneceu firme como a rocha da Europa Cristã, na qual a maré irresistível do Islamismo batia em vão. Mas até ela estava destinada a cair afinal, exausta, na fatal terça-feira, 29 de maio de 1453. O fundador do islamismo tinha previsto que um dia "a grande cidade, cercada em dois lados pelo mar e em um pela terra," cairia nas mãos de seus seguidores. Essa profecia foi cumprida não pelos árabes, mas pelos turcos, que apareceram das profundezas da Ásia cêrca de 1050, e após receberem o Islã pelos árabes, absorveram-os politicamente, e eles próprios tomaram a missão de espalhar o Islã além fronteiras. O Império Bizantino estava na época da queda em trágica posição, após ter batalhado por mil anos com inimigos bárbaros de todos os lados. Os sessenta anos de governo latino em Constantinopla tinha minado seriamente suas bases; e as contínuas invasões turcas tinham reduzido o Império por todos os lados reduzindo-o a um reino de humildes dimensões. Mohamed II, que era apelidado de "o conquistador," cercou a capital com um excército fanático de 250.000 homens, enquanto os soldados Cristãos reunidos em torno do último Imperador, Constantino Paleólogo, escassamente chegava a 7000. Mesmo assim, Constantino foi ousado o suficiente para dar uma digna resposta ao seu poderoso inimigo que pedia uma rendição pacífica da cidade. "Dar a cidade para ti não está em meu poder, nem no poder de nemhum homem que habita aqui; pois temos um acordo e todos nós preferimos morrer, e não pouparemos nossas vidas."

As Últimas Horas de Constantinopla.
Quando Constantino constatou que a destruição era finalmente inevitável, colocava si e a sua cidade nas mãos de Deus e preparou-se para morrer uma morte Cristã. Ele primeiro ordenou que uma litania deveria ser cantada através da cidade toda; e bispos, padres, monges, homens, mulheres e crianças, todos se juntaram a procissão chorando e clamando: "Senhor, tem piedade e salva a Tua herança!" Então, Constantino dirigiu aos homens que estavam ao redor dele, nobres e comovedoras palavras, incentivando-os a enfrentar a morte com a coragem dos mártires; ao que todos clamavam com uma só voz: "Sim, morramos pela fé em Cristo e pela terra de nossos pais." O Imperador foi para Santa Sofia para tomar sua última comunhão; então, subindo ao portão de Romanus, começou a dirigir a desesperada defesa. Num momento de entusiasmo ele gritou: "Vitória, vitória! Deus está lutando de nosso lado!" Mas foi subitamente cercado pelo inimigo e caiu morto, desaparecendo por debaixo da pilha de corpos. Logo depois, a cidade estava sendo saqueada. Os homens eram degolados, e as jovens eram levadas em cativeiro; os Vasos Sagrados eram usados como copos comuns para as selvagens orgias dos turcos vitoriosos; e o conquistador cavalgou arrogantemente para dentro da famosa por toda a parte Catedral de Santa Sofia, para ajoelhar-se no altar e transformá-la numa mesquita muçulmana.

O Significado da Queda de Constantinopla.
A queda de Constantinopla, marcou o colapso do último balvarte do Cristianismo Oriental e sua civilização. Outras províncias rapidamente compartilharam seu destino; a Sérvia caiu em 1459, o Peloponeso em 1459, Trebizond em 1461, Bósnia em 1463, Albânia em 1467 e Herzegovina em 1483. Esse evento histórico teve grandes consequências, e ensinou importantes lições. Do ponto de vista patriótico, a queda de Constantinopla foi uma façanha heróica, revivendo as antigas glórias de Termópilas; pois mais uma vez um pequeno bando de gregos enfrentou um litígio fatal com inimigo inumerável, com a certeza de que estavam enfrentando a morte. Do ponto de vista internacional, a queda de Constantinopla abriu um poço de vida intelectual para a Europa; pois eruditos fugitivos de Constantinopla assentaram-se no Ocidente e semearam as sementes da Renascença e da Reforma. E do ponto-de-vista religioso, no qual nós certamente estamos principalmente interessados, a queda de Constantinopla causou mais manifestação de fervor religioso mais forte possível, que nunca deixou de confortar nossos ancestrais nem quando o inimigo estava irrompendo na cidade, nem quando eles (ancestrais), estavam curvados debaixo do jugo do conquistador. Grande foi a queda deles, mas também grande sua esperança consoladora. No momento em que os turcos entraram na Catedral de Santa Sofia, (assim diz uma tradição popular largamente espalhada), a Divina Liturgia estava sendo celebrada, e os padres chocados em horror foram congelados como mármore em seus lugares. Mas um dia chegará quando a bela cidade será destiuida ao Cristianismo; e então os padres de mármore terão vida novamente e terminarão sua Liturgia interrompida.

13. Cartas Medievais.

Características da Teologia Medieval.
O nascimento e desenvolvimento da Literatura Cristã, teve lugar nos tempos antigos, e particularmente no quarto e quinto séculos, a idade dourada da Teologia. Tomando emprestado do declinante Helenismo sua linguagem, filosofia, regras de retórica e métrica poética, o Cristianismo juntou, como corpo e alma, o ensinamento do Evangelho com a expressão grega, produzindo daí aquelas obras primas dos grandes Padres, cujo profundo ensinamento só era rivalizado pelo brilhantismo e originalidade de seu estilo. Mas durante a Idade Média a posição mudou. O Progresso deu lugar à estagnação; e imitação substitui sua arrojada e não amarrada originalidade. Nos tempos antigos, os escritores da Igreja seguiam o método platônico de investigar idéias; agora, adotaram o meio aristoteliano, juntando o conhecimento passado acumulado e classificando-o com cuidado. A interpretação das Escrituras consiste agora (na Idade Média), em citações dos trabalhos dos padres, arranjadas sinoticamente. A dogmática foi construida na base da autoridade patrística. A eloquência no púlpito modelou-se nos chocantes sermões dos padres, sem contudo recapturar seu fogo. os grandes historiadores da Igreja, Eusébios, Sócrates e Teodoreto, foram sucedidos por meros cronistas, que costuram juntos em suas histórias eventos eclesiásticos e políticos; ou por compiladores de lendas, que usavam a edificação do povo muito mais que a preservação da verdade histórica. Só a Teologia Polêmica teve progresso na Idade Média graças às lutas da Igreja contra as heresias, e particularmente contra Roma. O misticismo amarrou-se na mente eclesiástica, e era visto por trás da mais simples manifestação de símbolos de louvação divinos de significado muito maior. Falando genericamente, o período medieval não foi criativo; ele agiu, no entanto, como guardião de uma antiga soma de pensamentos, que ele transmitiu para a posteridade. Aqui estão, em ordem cronológica, seus principais representantes.

Teologia Durante as Disputas Iconoclásticas.
O período das disputas iconoclásticas (700-850), ocorreu no mais destrutivo período de aprendizado sagrado, que era demandado principalmente pelos monges. Mesmo assim, certos escritores destacaram-se durante esse período, e entre eles principalmente João de Damasco e Teodoro de Studium. João Damasceno (+ 760) era um homem notável por seu profundo aprendizado e conhecimento da língua grega. Vivendo na junção dos tempos antigo e medieval, ele incorporou o primeiro por sua abrangente erudição, e introduziu o segundo por seu dom de método; ele é frequentemente considerado como o último dos grandes Padres Gregos. João Damasceno viveu sob os Imperadores Iconoclastas, Léo o Isauriano e Constantino Copronymus, e morreu no mosteiro de São Sabas na palestina. O trabalho pelo qual ele é principalmente lembrado é em Defesa das Imagens, no qual ele defende seu uso com argumentos lógicos e persuasivos; mas não foi sómente um controversialista. Ele se distinguiu como um dogmatista com sua Exposição da Fé Ortodoxa; como um apologista por sua defesa do Cristianismo contra o Islamismo; como pregador dos que dão testemunho da sua eloquência os sermões que sobreviveram; e como poeta e himnógrafo pelos trabalhos que ainda são cantados em nossa Igreja hoje em dia e pelos quais foi cognominado "Chrysorroas." Teodoro de Studium (+ 826), que floresceu sob os Imperadores Iconoclásticos Léo o Armênio e Miguel o Gago, por quem ele foi açoitado, acorrentado e mandado para o exílio, era o aristocrático abade do famoso Mosteiro de Studium em Constantinopla, e manejou com igual sucesso tanto o báculo de bispo quanto a pena do erudito. Seus catecismos, epístolas, sermões e poemas, que foram preservados para nós, ilustram sua erudição.

Teologia Sob os Imperadores Macedônios: Photius.
A era Iconoclástica foi seguida pela era da dinastia Macedônica (850-1054), — um período de renascimento literário no Império Bizantino, durante o qual mesmo os Imperadores tais como Léo o Sábio, (+ 911) e Constantino Porfirogênito (+ 959), se devotaram às letras, e compuseram entre outras coisas hinos eclesiásticos e sermões. À frente desses personagens se coloca a mais famosa figura, Photius (+ 891), que dominou todos seus contemporâneos como um tesouro de saber e uma enciclopédia de conhecimento; cujo julgamento era igual à sua erudição, e cuja piedade só era rivalizada por seu amor pela independência, de forma que até mesmo seus inimigos eram relutantemente forçados a admirá-lo. Seu conhecimento multifacetado mostra-se claramente em seu Myrionbiblon, no qual ele faz críticas perfeitas sobre cerca de trezentas obras — históricas, geográficas, filosóficas, literárias, matemáticas, retóricas, médicas e especialmente teológicas — que ele leu em vários períodos, e das quais muitas estariam inteiramente perdidas para nós se ele não tivesse mantido esse registro delas. Seu preparo teológico é exemplificado por sua Anphiloquia, dirigida ao Bispo de Cyzicus Amphilocus; e que contem a solução de mais de oitocentas dificuldades que o Bispo havia submetido a ele; por suas Epístolas, que são de grande importância teológica, assim como histórica; e por seu tratado sobre a Mistagogia do Espírito Santo. E sua experiência em assuntos legais por sua edição de um lado da Syntagma da Lei Canônica, e de outro lado pelo Nomocanon, que contém as leis imperiais em sua relação com a Lei Sagrada ou Canônica. Também hinos eclesiásticos foram escritos por esse grande prelado, cujo nome brilha como um pilar de fogo nos anais da Igreja Medieval.

Teologia Sob os Imperadores Macedônios Depois de Photius.
Depois de Photius, alguns outros escritores da Igreja são dignos de menção. Simeão Metafrastes, que viveu durante o século décimo, foi encarregado pelo Imperador Constantino Porphyrogênito de preparar, com o material que tinha sido acumulado durante séculos, uma edição revisada e mais crítica das vidas de Santos, para o uso e edificação do povo. Ecumenius de Tricca, também no século décimo, anotou os Atos, as Epístolas e o Livro da Revelação (Apocalipse) com base nos comentários dos primeiros Padres. Simeão, o décimo primeiro abade do Mosteiro de São Mamas em Constantinopla, agradou tanto seus comtemporâneos com seus capítulos de misticismo prático e sua extensa atividade literária, que eles o cognominaram de "Novo Teólogo." Nicetas Stethatus, um pupilo desse mesmo Simeão, que mais tarde tornou-se abade do famoso Mosteiro de Studium, empregou sua pena principalmente na denúncia das inovações latinas, e seus trabalhos foram enviados para a Itália com a carta com censuras do Patriarca Miguel Cerulário, que serviu como pretexto para completar o cisma entre as duas Igrejas em 1054.

Teologia Sob a Dinastia Comnena.
A era dos Comnenos (1054-1250) durante a qual não só homens, mas também mulheres, devotaram-se à literatura, seguindo o exemplo de Eudokia, filha de Isaac Comnenus, e Anna, filha de Alexis I, foi outro período de atividade teológica, e viu o surgimento de muitos homens destacados: — Miguel Psellus (+ 1100), que ensinou filosofia na Academia de Constantinopla durante o reinado de Constantino Monomachus, era um homem de grande e variada cultura, a quem seus comtemporâneos, com seu característico exagêro na concessão de títulos pomposos, congnominaram de "o maior de todos os filósofos." Nicetas de Serres, que floresceu cerca de 1077, com pos-comentários baseados nas interpretações dos primeiros Padres, sobre o Livro de Jó, Evangelho de São Mateus e Primeira Epístola aos Corintios. Theophilact, Arcebispo de Ochrida na Bulgária desde 1076, foi outro brilhante comentador das Escrituras, e anotou quase todo o Novo Testamento alem de algumas partes do Velho. Ele também nos deixou cento e trinta cartas, nas quais ele lamenta as ainda não civilizadas condições de sua diocese no estrangeiro. Euthymius Zigabenus que escreveu no começo do século doze sob Alexis Comnenus, foi outro brilhante comentador, e nos deixou excelentes interpretações dos Salmos dos Evangelhos e das Epístolas. Sob instrução de Alexis, ele também compilou, da riqueza de material já disponível, sua Panoplia Dogmática, um trabalho destinado a ser uma arma para a Ortodoxia contra qualquer tipo de heresia. Nicholas de Methone (+ 1155), é o autor de um trabalho tanto inteligente quanto atrativo sobre o desenvolvimento e elementos teológicos no ensinamento de Proclus I o Platonista, onde ele compara princípios Platônicos e Cristãos e demonstra a incomparável superioridade desses últimos. Eustathius, Arcebispo de Salônica desde 1175, estava presente quando Salônica caiu em mãos dos Normandos em 1185, e deixou sua vívida descrição do saque da cidade. Ele era tanto teólogo quanto erudito e autor de preciosos comentários sobre Homero e Píndaro; pastor e patriota, e um entusiasmado reformador do monasticismo degenerado. Dois destacados canonistas tambem floresceram durante esse período: João Zonaras e Theodoro Balsamon. Esses dois homens publicaram durante o século doze coleções de Leis Canônicas com comentários importantes.

Teologia Sob a Dinastia Paleóloga.
Durante o último período da história Bizantina, o dos Paleólogos (1250-1453), apareceu um certo número de escritores que merecem alguma menção. Nicephorus Vlemmides (século treze), castigou severamente os erros da Igreja Romana tanto em palavra quanto por escrito. Constantino Armenopulos no século quatorze, produziu uma sinopse do Nomocanon compilado por Photius. Gregório Palamas (+ 1360), o destacado Metropolita de Salônica, devotou sua pena principalmente para defender os Hesicastas do Monte Athos contra os ataques de Barlaam, mas é tambem o autor de outros trabalhos, entre os quais o diálogo entre a alma e o corpo que é bem digno de ser lido. Nicolas Cabasilas, que sucedeu Gregório como Metropolita de Salônica, foi um grande amante e expoente da Teologia Mística, como é demonstrado pelo seu comentário sobre a Liturgia e particularmente pelo seu belo livro a respeito da vida de Cristo. Macárius de Philadelfia (+ 1350) anotou o Livro da Genesis, e os Evangelhos de São Mateus e São Lucas. Simeão de Salônica (+ 1429) é uma autoridade em assuntos litúrgicos, apesar de, como todos os outros escritores de seu tempo, ele segue o método místico e alegórico de interpretação. Marcos Eugenicus de Éfeso (+ 1449), distinguiu-se em Florença acima de todos os seus companheiros por seu caráter indômito e por sua recusa em assinar o que seria o Ato de União, o que despontou tanto o Papa que, sabendo disso gritou: "Então não terminamos nada!" Os escritos de Marcos são principalmente dirigidos contra o Papa. Finalmente, mencionemos Silvestre Syropulos, que também estava presente em Florença, e que nos deixou um relato honesto e de cortar o coração de tudo que ele testemunhou lá, editado posteriormente sob o título: A verdadeira história de uma falsa união.

14. Vida Cristã e Louvação.

As Condições Morais.
A moralidade da vida medieval foi desfigurada por muitas cicatrizes. Muitos Cristãos limitaram sua virttude às formas exteriores, e consideraram que o atendimento de festas e dias santos, peregrinação a famosos santuários, a veneração de ícones milagrosos, e cerimonias similares eram o suficiente para justificá-los no seu chamamento Cristão. Os Imperadores foram muitas vezes os piores pecadores nesse aspecto. Miguel III, apelidado de o bêbado, que tratava tudo que fosse santo e sagrado com escarnio, estava, no entanto, constantemente apresentando maravilhosas ofertas votivas em Santa Sofia. E Basílio, o Macedônio, que assassinou Miguel III para pegar o trono para si próprio, construiu Igrejas, para tornar propício o Arcanjo Miguel, que na sua morte carregaria sua alma e a levaria para o julgamento. Cegar e mutilar pessoas eram ocorrências comuns nos palácios naqueles dias. E ainda assim esses reis consideravam-se ungidos por Deus para serem os líderes e governantes absolutos de seu povo, — uma convicção que foi responsável por sua perpétua interferência nos assuntos da Igreja. Eram eles que negociavam com Roma, contra a vontade de todo seu povo; eles é que convocavam Sínodos e condenavam heréticos; e eles é que arbitrariamente elegiam e depunham os Patriarcas. "Eu te fiz, assim eu também te quebrarei," foram as palavras de um certo Imperador para um Patriarca que tinha perdido o favor real.

O Reverso da Medalha.
Não se deve, no entanto, supor do que acabou de ser dito que a Idade Média foi um período de trevas sem trégua, no qual virtude era algo desconhecido. A fé viva no coração do povo, apesar de frequentemente dormente, ficava evidente nas fervorosas orações e súplicas durante seus revezes políticos, e nas gerais e passionais litanias oradas em tempos de terremotos, pestilência e outras calamidades que tais. Que essa fé, além disso, não estava morta e estéril fica provado pela existência de intituições de todo tipo de socorro e apoio aos pobres e orfãos, sob os cuidados diretos da Igreja. E se, de um lado, a interferência do estado em assuntos eclesiásticos marcou um abuso de poder, revela de outro lado o grande interesse tido pela religião naquele tempo, quando a idéia de uma estado sem religião era inconcebível, e além disso até mesmo Imperadores Bizantinos eram, às vezes, hábeis teólogos. Nem deve ser esquecido que, apesar de algumas cabeças da Igreja terem se submetido por fraqueza à vontades imperiais, não deixaram de existir destemidos prelados que valentemente defenderam a independência de sua igreja e, como outros Natans, reprendiam os governantes por seus erros. Patriarcas tais como Germanus, Photius, Nicolas o Místico e Arsênio, são as jóias mais brilhantes da Igreja Ortodoxa.

O Progresso do Monasticismo.
Os monges continuaram como antes a levar uma vida austera. Eles praticavam a oração e o jejum, devotavam-se à literatura sagrada, particularmente sob os Imperadores Iconoclásticos e Macedônios, e eram frequentemente chamados a preencher as mais altas funções da Igreja. João Damasceno, Teodoro de Studium, Methodius, Cirilo, Nicetas Stethatus, Nicephorus Vlemmides, eram todos membros de ordens monásticas, das quais o zêlo e devotado ensinamento deles são dignos ornamentos. Muitos novos centros de vida monástica surgiram nesse período. O Mosteiro dos Insones, de Studium, de Peribleptus, e outros, foram todos fundados em Constantinopla; a ilha de Patmos viu o estabelecimento do Mosteiro do Teólogo, e a Grécia o do Mega Spelaion. Esse período também viu o surgimento do Athos, cujo primeiro abade, João Colobus, recebeu em 867 como presente toda península de Athos do Imperador Basílio, o Macedônio. Em 960, sob Nicephorus Phokas, o venerável Atanásio construiu o Mosteiro de "Megale lavra" no Monte Athos, e criou uma regra monástica que dividiu a vida dos monges entre trabalho e oração. Com o correr do tempo, os Mosteiros fundados no Monte Athos ou "Santa Montanha," como era chamado, vieram a ser divididos em "cenobíticos" e "idiorritinos." No primeiro, todos os monges viviam sob uma regra comum não só de oração mas também de dieta; enquanto no outro, os monges eram livres para preparar sua comida em suas próprias celas. À parte desses monges que levavam uma vida comunitária sujeita a uma regra definida, ainda existiram muitos eremitas que levavam uma vida de completo isolamento cortado de todos seus companheiros.

A Degeneração da Vida Monástica.
O Monaticismo, no entanto, que tinha aumentado tão grandemente a sua espera, logo começou a dar justificativas para seus críticos. Ele tinha, inchado desordenadamente seus quadros. Adequados ou não para a vida monástica, centenas de homens estavam constantemente se juntando a eles, muitos dos quais tinham o único objetivo de evitar suas responsabilidades sociais e obrigações nacionais. Tendo renunciado ao mundo, era seu dever dai para frente permanecer no Mosteiro. Mas muitos circulavam nas cidades, envolvidos com assuntos mundanos, usavam longos cabelos frizados para ficarem ondulados como era a moda mundana, e rivalizavam com os mais frívolos mundanistas em paradas ostentatórias. Outros eram completamente ignorantes, e inimigos fanáticos do aprendizado; e então chegou o tempo em que monges preparados intelectual e espiritualmente eram mais a exceção do que a regra. Falando genericamente, o relato sobre o monasticismo que nos foi deixado por seu entusiástico admirador, Eustathius de Salônica, revela não pouca corrupção entre os monges; e é essa corrupção que explica certas variedades curiosas de vida monástica, às quais Eustathius também se refere. Alguns desses novidadeiros monges adotaram a peculiar característica de viverem nus; alguns nunca lavavam seus pés; e outros estavam permanentemente imundos. Alguns mantinham um silêncio inquebrantável; ou viviam toda sua vida no tôpo de árvores ou pilares; e outros finalmente enterravam-se vivos na terra. Outros ainda segundo Choniates, chamavam a si próprio de "suplicantes"; e, seguindo o exemplo de Moisés e Mirian depois de cruzarem o Mar Vermelho; passavam a hora de divina louvação dançando com as monjas para a louvação e glória do Senhor.

Igrejas e Ícones.
A Idade Média viu um aumento enorme na construção de locais de louvação, que providenciaram uma saida adequada para o sentimento religioso do povo, sem no entanto, melhorar do ponto-de-vista arquitetônico a magnífica conquista de Justiniano na Igreja de Santa Sofia. A única diferença e inovação foi com respeito ao telhado e ao exterior da igreja. Enquanto no tempo de Justiniano um único domo semi-circular tinha sido considerado suficiente para ser o telhado de todo o prédio da igreja, os arquitetos na Idade Média preferiram construir ao redor do domo central alguns domos menores, sustentando cada um deles numa base poligonal como para dar a aparência de uma multi-facetada lanterna. A atenção para com a ornamentação, também, que anteriormente tinha se concentrado no interior da igreja, começou então a se extender também a parte exterior, onde a beleza foi definida com a colocação criteriosa de tijolos coloridos. Os brilhantes mas caros trabalhos em mosaico dentro da igreja foi substituido por uma decoração mais barata de "frescos" pintados com cores líquidas. A representação simbólica ou desapareceu inteiramente, ou foi confinada a símbolos em baixo relevo na madeira abaixo das pinturas sagradas da iconostase. A Iconografia Bizantina cresceu austera, descomprometida e, como era, estranha às vaidades desse mundo, expirando uma lição de santidade sobrehumana. Os iconoclastas cairam sobre ela barbaramente, e muito poucas obras sobreviveram, exceto algumas nos mosteiros do Monte Athos particularmente. No entanto, tomando essas tantas em conjunto com as miniaturas encontradas em manuscritos, o conjunto é suficiente para provar que o criticismo levantado contra a Hagiografia Bizantina não é justificado de maneira alguma. O Monte Athos e Salônica foram os principais centros artísticos do Cristianismo medieval no oriente; e daí, é dito, veio o grande artista do século treze, Manuel Panselenus, cujas regras para pintar são ainda observadas hoje em dia pelos artistas sacros de nossa Igreja. Estátuas nunca foram permitidas nas Igrejas Ortodoxas; mas outras artes plásticas foram brilhantemente cultivadas como baixo-relêvo em madeira, ourivesaria, trabalho com enamel e bordado.

Cerimônias e Sacramentos.
Os teólogos ainda não haviam concordado com o número de Sacramentos. João Damasceno, em seu trabalho sobre a fé ortodoxa, menciona dois, que são na verdade os mais essenciais — Batismo e Santa Eucaristia; Nicolas Babasilas refere-se a três, — Batismo, Crisma e Eucaristia; e Teodoro de Studium a seis, — Batismo, Crisma, Eucaristia, Ordenação, Iniciação em uma ordem monástica, e os ritos de sepultamento. Foi só no século quinze que o grande liturgista Simeão de Salônica primeiro ensinou que existem sete Sacramentos, quais sejam, — Batismo, Crisma, Eucaristia, Arrependimento, Ordenação, Matrimônio e Unção; e desde então essa conta de Sacramentos tem sido aceita pela Igreja até hoje. O rito de Batismo sempre foi realizado com tripla imersão e emerção em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O Crisma é realizado com unção com o Santo Óleo. A Santa Eucaristia sempre foi celebrada com pão fermentado, pois o uso de pão não fermentado, habitual para os Armênios, Jacobitas e Católicos Romanos, foi e continua sendo estritamente proibido para os Ortodoxos; e apesar dos fiéis Ortodoxos continuarem a receber na comunhão as duas formas, parece que foi do século doze em diante que aconteceu a prática de usar uma colher para a congregação leiga, enquanto o direito de comunhão diretamente do cálice foi reservado para o clero. A confissão dos pecados para um pai espiritual foi considerada uma preliminar essencial para o arrependimento, que foi por isso chamado de "confissão," e sempre foi uma preparação necessária para a Santa Comunhão; as penitências que eram impostas para aqueles cujos pecados eram particularmente graves, não eram para punição, mas para ajudar na recuperação espiritual. O matrimônio era opcional para o clero, mas os mais altos cargos da Igreja só podiam ser ocupados por clero não casado. A dissolução do casamento normalmente só ocorria pela morte se um dos conjuges, após o que o sobrevivente poderia casar uma segunda e terceira vez, mas nunca uma quarta vez. E a cerimônia de Unção desenvolveu-se de uma simples unção com óleo, após orações adequadas que tivessem sido oferecidas para a restauração da saude, em uma rica e imponente cerimônia, consistindo em sete partes e realizada por sete padres.

Hinologia Sagrada.
O alongamento do calendário da Igreja pela criação de novas festas e dias santos do Senhor, da Virgem Maria e dos Santos, foi seguido por um enriquecimento do Hinário da Igreja, nos quais as pessoas e eventos comemorados eram exaltados. É agradável lembrar que, a idade de ouro da Poesia Sagrada foi no começo da Idade Média, e quase coincide com o período Iconoclástico. Os primeiros séculos do Cristianismo foram gastos na tentativa de libertar a Hinologia Cristã das amarras do modelo clássico; pois, com poucas exceções, todos os poetas Cristãos, nessa época, compunham seus poemas de acordo com a métrica e linguagem de Homero, Píndaro ou Anacreon. Muitos anos se passaram antes que as antigas formas de prosódia dessem lugar a métricas baseadas na acentuação de palavras, e a ininteligível linguagem de Homero e Píndaro foi substituida por uma nova língua que era tanto popular quanto harmoniosa. Essa reforma encontrou seu mais perfeito expoente em Romano o Melodo, que em algumas vezes é dito, ter vivido no século oitavo e algumas vezes ter vivido ainda mais cedo. A tradição diz sim que, dormindo num dia de Natal, a Virgem lhe apareceu num sonho e, oferecendo a ele um pergaminho de papel, e incitou-o a come-lo. Quando ele fez isso, saboreou um gosto mais doce do que mel; e, levantando cheio de entusiasmo, dirigiu-se para o púlpito e começou a cantar diante de toda a congregação: "Hoje a Virgem dá a luz o eterno e a terra é uma gruta para o inacessível."
Devotando-se daí em diante a escrever hinos, ele tornou-se o Orfeu da Igreja; pois inspiração poética, fertilidade de imaginação, flexibilidade de estilo e simplicidade de linguagem em tal feliz combinação, não são encontradas em nenhum outro poeta eclesiástico. Em torno do nome de Romano, com quem a poesia bizantina encontrou o seu mais perfeito florescimento, revoam outros tais como os de Andreas de Creta (+ 732), Germano de Constantinopla (+ 734), Cosmas o Cantor (+ 760), Theofanes Graptus (+ 818), Theodoro de Studium (+ 826), Metodius de Constantinopla (+ 846), e outros; e existiram até Imperadores tais como Justiniano, Léo o Sábio, Constantino Porphyrogenitus e Teodoro Lascaris, que aspiraram compor hinos para a Igreja; mais nenhum desses nomes citados excedeu ou igualou Romano. A princípio os próprios poetas punham música em seus poemas ensinando a melodia para seus pupilos. Mas mais tarde, João Damasceno (+ 780), que se distinguiu tanto em hinografia quanto em teologia, inventou o sistema de anotação musical, e transmitiu para seus sucessores um registro escrito dos oito modos musicais (ou tons musicais) com os quais os hinos variados da Igreja eram cantados. Ele foi então compor o seu Oktoechus, que contem poemas divididos de acordo com o tom em que eles devem ser cantados. Deve ser notado aqui que a hinologia da Igreja Oriental nunca fez uso do órgão, apesar do órgão ser uma invenção grega, muito usado no hipódromo e nos palácios de Bizâncio, e introduzido daí no ocidente durante o reinado de Constantino Copronymus.


Parte III
(A.D. 1453 — 1930)
Tempos Modernos

15. A Noite de Opressão e o Raiar da Liberdade.

As Promessas do Conquistador para Scholarius.
No dia da queda de Constantinopla, seu conquistador Mohamed II (1430-1481) agiu para com os Cristãos como um tigre sedento de sangue; mais tarde, no entanto, ele mudou sua atitude, e começou a bajula-los com promessas. Alguns dizem que ele esperava com isso reter em seu Império os trabalhadores qualificados que o proveriam com as taxas necessárias; outros pensam que ele queria isolá-los completamente da influência européia; e outros, ainda, tem a visão mais provável que ele estava simplesmente cumprindo com certas injunções do Corão, que permitiam a medida de auto-governo para membros de comunidades monoteistas, contanto que eles pagassem uma taxa tributária. Tendo sabido que o trono patriarcal estava vago, ele ordenou então que um homem compatível fosse eleito para o posto; e quando soube que Gennadius Scholarius havia sido escolhido e apareceu diante dele, o Conquistador o recebeu favoravelmente, vestiu-o com uma preciosa capa, pôs um báculo pastoral em sua mão, e presenteou-o com mil florins e um cavalo branco. "Dirige teu rebanho em paz," ele disse, "e goze de nossa amizade," e mantenha todos os privilégios de teus predecessores." Daí em diante, de acordo com as ordens claras de Mohamed II, o Patriarca Ortodoxo deveria continuar suas obrigações com seu clero atendente, não molestado e isento de taxas; foi deixada em sua posse as Igrejas Cristãs, foi permitido que se celebrasse livremente todas as cerimônias da louvação Cristã, e era esperado ao mesmo tempo que supervisionasse os assuntos domésticos de seu povo. Os mesmos previlégios foram concedidos pelo Conquistador ao Patriarca Ortodoxo de Jerusalem em 1455, quando ele reconheceu e confirmou os direitos da raça grega sobre os Sagrados Santuários.

A Violação pelo Conquistador de Suas Promessas.
Infelizmente, no entanto, o fanatismo com o qual os governantes islâmicos estavam imbuidos, fez com que fosse impossível para eles respeitar as promessas feitas por eles por necessidade e prudente astúcia. O próprio Conquistador, que pouco antes havia reconhecido as igrejas Cristãs como locais de louvação para seus súditos Cristãos (com a exceção de Santa Sofia, da qual ele tinha se apropriado desde o começo), rapidamente mudou de idéia, e transformou doze das mais bonitas igrejas em mesquitas islâmicas. Quando, além disso, após um rápido periodo de tempo, Gennadius se aposentou do Patriarcado, Mohamed, esquecendo de sua promessa de insenção de tributo, extraiu a cada eleição de novo patriarca uma soma de dinheiro conhecida como "peskesi," que aumentava a cada nova eleição; de tal modo que na primeira a soma foi de mil peças de ouro, e subiu para duas mil e quinhentas em 1475 na eleição do Patriarca Rafael, que, não sendo capaz de juntar essa grande soma, foi deposto e mandado em grilhões para as ruas para pedir caridade aos passantes. Pois mesmo contra a pessoa do Patriarca a violência de Mohamed não conheceu limites; testemunha, entre outros exemplos, seu comportamento com o Patriarca Joasaph (1464-1466), a quem ele insultou cortando sua barba porque ele havia se recusado a confirmar um casamento ilegal, enquanto ao mesmo tempo ele cortou o nariz do primeiro-capelão do Patriarca. O Conquistador, além disso, organizava sistematicamente o abominável sistema de rapto de crianças que deve sua origem ao Sultão Orchan no ano de 1328. Cada quatro anos os oficiais turcos marchavam pelas provincias, e de cada dez familias Cristãs em uma era escolhida uma criança com não mais de sete anos, que eles carregavam para Constantinopla, educavam no fanatismo islâmico em uma instituição especialmente criada para esse propósito, e então a colocavam no temível regimento militar dos Janizarios. Assim, de carne e sangue Cristãos eram feitos os mais mortíferos inimigos do Cristianismo, que dirigiam suas espadas contra seus próprios pais e irmãos.

A Pia Questão Perguntada por Selim I.
Todos os sucessores do Conquistador igualaram-no em ferocidade, e alguns, na verdade, ultrapassaram-no. Selim I (1512-1530), submeteu ao mufti a questão se seria mais proveitoso para sua alma por o mundo inteiro em sujeição, ou converter o seu Império todo ao Islã. Quando lhe foi dito que esse último evento seria mais aceitável por Alá, ele instigou uma feroz perseguição contra os Cristãos seus súditos, comandando que seu Grã Vizir transformasse todas as igrejas que haviam sido deixadas para os Cristãos pelo Conquistador em mesquitas; e para matar todos os Cristãos que não mudassem de fé. Mas o Grã Vizir, que felizmente era de uma disposição mais suave que seu chefe, comunicou secretamente o decreto do sultão ao Patriarca Theoleptus, que se apresentou diante do sultão, trazendo como testemunhas três idosos Janizarios, que haviam estado presentes na queda de Constantinopla, apelou pelos previlégios prometidos pelo Conquistador, e assim conseguiu evitar que o fanático rancor do tirano realizasse sua mais violenta ameaça. Ele não foi, no entanto, capaz de salvar todas as Igrejas; pois tais belas e majestosas construções, disseram os conselheiros do Sultão, não deveriam ser usadas para adoração de ídolos. Entre as poucas igrejas que escaparam naquele tempo, estava a de "Pammakaristos," para onde o Patriarca foi transferido, após a destruição da Igreja dos Santos Apóstolos, que havia sucedido Santa Sofia. Mas em 1586 a igreja de Pammakaristos, também, foi tomada pelas ferozes hordas de Murad III e transformada em mesquita; e após remover de lugar para lugar, o Patriarca Ortodoxo finalmente estabeleceu-a no ano de 1600 na igreja de São George, no distrito de Phanari, onde tem permanecido até os dias de hoje.

Pesquesi, Haratsi, Rapto de Crianças e Conversão Forçada ao Islã.
Os sofrimentos da igreja sob o jugo turco não estiveram limitados meramente à perda de locais de celebração. O "pesquesi" cobrado a cada eleição patriarcal continuou a crescer, chegando a quantia de 4.600 peças deo ouro; e como trocas frequentes de Patriarca significavam para a voracidade turca, pagamentos mais frequentes de "pesquesi," trocas forçadas tornaram-se tão numerosas que durante um único período de oitenta anos (1620-1702), não menos de cinquenta patriarcas ascenderam os degraus do trono Patriarcal. Pois que valor, aos olhos do Sultão, poderia ser fixada a uma cabeça da nação grega de quem a própria vida estava constantemente em risco? Murad IV em 1638, fez afogarem o Patriarca, Cirilo Lucas, no Bósforo. Mohamed IV, nos anos 1651 e 1657 respectivamente, fez com que os Patriarcas Parthenius II e Parthenius III fossem enforcados. Qualquer coisa que acontecesse na capital tinha seu elo nas províncias. Um tributo em dinheiro foi exigido pelos governantes na indicação de cada Metropolita, tal como era em cada eleição Patriarcal, e a vida de um bispo não estava mais segura que a do Patriarca. Enquanto isso, o "haratsi," ou imposto de capital, que cada Cristão súdito tinha que pagar pelo previlégio de continuar a ter sua cabeça sobre seus ombros, também aumentava. O rapto de crianças, aquele faminto minotauro, crescia com mais frequencia; não mais cada quatro anos, como no tempo do Conquistador, mas a cada ano as crianças eram então coletadas, e não abaixo de sete anos, mas abaixo de 15 anos. Existiam orgias e conversões forçadas ao Islã às expensas dos súditos Cristãos. De acordo com Meletius Pegas, só no Egito trinta mil Cristãos tiveram suas línguas cortadas, para que os pais não transmitissem a fé Cristã a seus filhos e de acordo com Montealbani, que viajou pela Albânia em 1625, não havia um só dos Cristãos remanascentes cujo filho ou irmão ou algum outro parente que não tivesse se tornado islamita. Em 1620, o número de Cristãos na Albânia era de 350.000. Em 1650, eles se reduziram a 50.000 — isto é, a um sétimo do seu número anterior.

As Primeiras Luzes na Melhoria da Raça Subjugada.
Dias mais toleráveis começaram a clarear para os súditos Cristãos na Turquia, a partir do momento em que Pedro o Grande (1682-1725), Imperador do livre e Ortodoxo país da Rússia, começou, ao perseguir uma política definida cujo objetivo final era a remoção da capital russa para Constantinopla, a tomar sob sua proteção aqueles Cristãos que estavam gemendo sob o jugo estrangeiro. Essa política, após Pedro o Grande, foi seguida por seus sucessores, entre outros por Catarina II, que incitou com muitas promessas aos gregos a se rebelarem contra os turcos em 1770, somente para depois abandoná-los à espada vingativa desses últimos. O direito de intervenção da Rússia em nome dos Cristãos na Turquia foi reconhecido em todos os eventos dos Poderes Europeus, que confirmaram esse direito em 1774 pelo Tratado de Kainartzik. Além do interesse tido pela Rússia pelos Cristãos oprimidos, que foi um fator importante na melhoria de condições desses Cristãos, os Phanariotes também contribuiram para esse resultado. Esses homens eram gregos que viviam no distrito de Phanari, onde o Patriarca estava assentado, e que, destacados por sua inteligência, polidez, cultura européia, e conhecimento de línguas, eram frequentemente colocados pelo Sultão em altas posições, como as de secretário, intérprete, conselheiro particular, ou até mesmo governador de uma das províncias turcas de Walachia e Moldavia. Assim, com o melhor de suas habilidades, encontravam oportunidades de influenciar os Sultões, e interceder com eles em nome dos seus menos afortunados companheiros gregos-Cristãos.

A Revolução Grega.
Em 25 de março de 1821, na Hagia Laura, o Arcebispo de Antiga Patras, Germanus levantou a bandeira da rebelião contra os turcos, carregando o dístico de "Liberdade ou Morte," e toda Grécia do continente, com o Peloponeso e as Ilhas Aegeans, levantou-se para uma guerra desigual. Esse evento, que tocou o coração de pessoas sensíveis no Ocidente, correspondentemente enraiveceu o Sultão, que jurou vingança contra os revolucionários. A primeira vítima de sua ira foi o culto e ascético Patriarca de Constantinopla Gregório V, que em 22 de abril, dia de Páscoa daquele mesmo ano, foi enforcado nos portões do Patriarcado, e seu corpo morto, depois de ter sido arrastado pelas ruas de Constantinopla pela multidão, foi finalmente lançado ao mar. Depois dele, os Metropolitas de Éfeso, Calcedônia, Derki, Salônica e Adrianópolis, foram todos mortos de modo similar em várias localidades da cidade de sete colinas. O Grande Logotheto, Estevão Mavrogenes, foi decapitado, e o Grande Intérprete da Frota, Nicolas Mourouzes, foi degolado com seu irmão. Não só em Constantinopla, mas em Adrianópolis, Larissa, Chipre, Creta e também em outros lugares. O sangue de muitos veneráveis bispos foi derramado, ás vezes até mesmo sobre o Santo Altar. Mas após sete anos de guerra, o pequeno país, a Grécia, conquistou sua independência.

Hatti Serif e Hatti Houmayoun.
O estabelecimento de um reino da Grécia independente pelo protocolo de Londres em 1830, e a simultânea proclamação da semi-independência da Servia e Montenegro, foram seguidas em 1839 pela publicação pelos turcos de um documento conhecido como "Hatti Serif," que deu garantia de segurança pela vida, honra e propriedades de todo súdito turco, independente de sua religião. Depois da terrível guerra da Criméia de 1854, a Turquia emitiu em 1856 outra declaração, o "Hatti Houmayoun," que proclamou completa igualdade religiosa e civil, aboliu a taxação dos Patriarcas e bispos, removeu todas as restrições sobre a construção de igrejas e escolas Cristãs, recomendou a montagem de comitês consistindo de membros do clero e leigos para examinar questões não estritamente eclesiasticas em escôpo, e providenciar o estabelecimento de tribunais mistos nos quais membros de outras religiões sentariam junto com islâmicos. Mas tudo isso era uma mera representação encenada pelos turcos para enganar os Poderes Ocidentais, cujas frequentes intervenções, os turcos ressentiam amargamente, pois eles nutriam um implacável ódio contra todos os Cristãos, e isso foi provado, pelos periódicos e metódicos atentados para exterminar todos os seguidores do Evangelho, o que eles nunca deixaram de organizar. Em 1860, o massacre dos Druses no Líbano e Damasco resultou em milhares de vítimas. Em 1876, 1885 e 1896, centenas de milhares de armênios foram massacrados em Constantinopla e em outras partes do Império Otomano; e no litoral e no interior da Ásia Menor, em 1922, a carnificina de armênios e nativos gregos, que haviam se estabelecido ali desde os tempos de Homero, somou milhões. Entretanto, os povos ortodoxos da Grécia, Servia, Romênia, Bulgária, Albânia e das Ilhas do Mediterrâneo, que por séculos foram atormentados sob o jugo turco, estão agora gozando do grande dom da liberdade; e por isso, finalmente, nossas graças são devidas a Deus.

16. Os Quatro Mais Antigos Patriarcados e Chipre.

O Patriarcado de Constantinopla.
O Patriarcado de Constantinopla, que tinha devido anteriormente sua superioridade sobre os outros Patriarcas meramente pela significância histórica da cidade, assumiu uma importancia muito maior após a queda de Constantinopla, por conta dos previlégios eclesiásticos e civis concedidos a ele pelos turcos. Em teoria e em princípio, o Patriarca de Constantinopla tem o direito de resumir em sua pessoa e representar perante o Sultão a raça Ortodoxa toda, cujo líder nacional ele foi levado a ser; para zelar pela sua vida espiritual; para zelar por suas igrejas e mosteiros; acertar disputas familiares dentro de seu rebanho; confirmar testamentos e conceder divórcios. Além disso, como os outros três tronos patriarcais do Oriente estavam situados longe do Sultão que ficava na capital e os tres estavam em estado muito sofrível, o Patriarca de Constantinopla com frequência tomou a defesa dos seus interesses também diante da Sublime Porta, não por um desejo despótico de atropelar as liberdades deles, mas por um espírito fraterno de preocupação por seus irmãos mais fracos. A função do Patriarca Ecumênico, meio civil, meio eclesiástica era indicada até pela sua vestimenta, que era similar aquela dos Imperadores Bizantinos, e pela Águia de duas cabeças pintada em seu "encolplion" e no seu sêlo.

O Sistema de Govêrno.
Durante os três primeiros séculos depois da queda de Constantinopla, o Patriarca teve a cooperação de dois corpos administrativos; quais sejam: o "Santo Sínodo," que era composto de Bispos e deliberava sobre os mais importantes assuntos, e o "Conselho Eclesiástico" que consistia em funcionários e tratava de assuntos mais simples. Mas em 1763, durante o patriarcado de Samuel I, esse sistema de governo da igreja foi substituído pelo sistema senatorial, conhecido como "Gerontismos." Doze bispos, por assim dizer, escolhidos entre os mais próximos de Constantinopla, estavam continuamente atendendo o Patriarca, permanentemente assistindo-o no trabalho de governo, e representando todos os seus companheiros-bispos. De um ponto-de-vista, esse sistema era bom, porque, através da longa experiência e contato frequente com os governantes, ele treinava um grupo de homens para ficarem conhecendo os perigos que os cercavam e compreendendo os métodos pelos quais esses perigos poderiam ser evitados. Ele tinha, no entanto, a grande desvantagem de que com o correr do tempo o desempenho desses "anciãos" tornava-se arbitrário, visto que toda autoridade estava em suas mãos. Cem anos depois de sua instituição, portanto, o sistema de gerontismos foi abolido, e um novo sistema administrativo, melhor adaptado aos requerimentos modernos foi introduzido pelos "Regulamentos Gerais" gerado em 1862. Por esses regulamentos, os assuntos do Patriarca eram divididos em os puramente "espirituais," ou seja, aqueles que envolviam fé e moral, e os "materiais," que envolviam a supervisão de escolas, o controle das contas, a propriedade dos mosteiros, a execução de testamentos e outras matérias similares. O cuidado com os assuntos espirituais foi confiado ao "Santo Sínodo," que era composto de doze bispos do trono ecumênico, eleitos em rodizio para que seus membros fossem constantemente renovados, todos os bispos em turno tomando parte na administração; enquanto para tratar os assuntos materiais, um "Concílio Misto" foi criado, onde quatro bispos do "Santo Sínodo" sentavam juntos com oito eminentes leigos, devidamente escolhidos pelo povo.

A Área de Jurisdição.
Foi particularmente durante o século dezoito que a área sujeita à jurisdição do Patriarcado Ecumênico atingiu maiores extensões. Nessa época estavam dependentes dele cerca de cem Metropolitas, Arcebispos e Bispos, que tinham assento na Trácia, Macedônia, Epirus, Albânia, Grécia, as Ilhas Iônicas, Montenegro, Sérvia, Bulgária, Moldavia e Walachia, Hungria e a região chamada de "Pequena Rússia", a qual marcava o limite da autoridade do Patriarca; pois apesar da Metrópole de Moscou ter sido promovida ao nível de um independente e auto-suficiente centro eclesiástico russo no século dezesseis, Kiev o centro do Arcebispado da Pequena Rússia, ainda continuou a reconhecer o Patriarca de Constantinopla como seu líder espiritual. As circunstâncias desesperadoras contribuiram para a extensão da esfera de autoridade do Patriarca. Búlgaros, Sérvios, Vlachos, Albaneses e outros povos estavam sendo esmagados pelos todo-poderosos turcos, e necessitavam de proteção para que eles salvassem pelo menos a sua fé; e que outro refúgio eles tinham que não o Patriarcado Ecumênico? Assim, em 1766 e 1767, sob o já mencionado Patriarca Samuel, o Arcebispo de Ipek e Ochrida, que eram naquele tempo os centros eclesiásticos das igrejas na Sérvia e da Bulgária respectivamente, foram espontaneamente ao Patriarca Ecumênico, solicitando que ele os tomasse sob sua autoridade. Esta era a vasta extensão do Patriarcado de Constantinopla durante o século dezoito. Mas a independência política, que do começo do século dezenove em diante começou a ser gozada pela Grécia, Sérvia, Romênia, Bulgária e por último a Albânia, tambem resultou na emancipação desses países da autoridade eclesiástica do Patriarcado. Consequentemente, e particularmente depois da total erradicação do Cristianismo pelos Kemalistas da terra das "Sete Estrelas do Apocalipse," — as fronteiras desse Patriarcado, primeiro em nível e autoridade, foram significativamente reduzidas.

A Luta do Patriarcado pela Manutenção dos Seus Previlégios.
Durante anos recentes, todos os esforços do Patriarca de Constantinopla tem sido dirigidos para a manutenção daqueles previlégios que eram a única garantia de sua existência continuava sob dirigentes de outra fé, os quais, apesar de reconhecerem esses previlégios desde o início de acordo com os ensinamentos do corão, nunca cessaram de cometer traiçoeiros ataques contra eles. Sob o Sultão havia, esse grande inimigo e açougueiro dos Cristãos, esses atentados contra as liberdades do Patriarcado alcançaram sua mais formidável dimensão, e foi no seu reinado, no ano de 1883, que a famosa "questão dos previlégios" começou. Patriarcas cheios de dons como Joaquim III, Joaquim IV, e Dionísio V, exauriram suas preciosas energias em defesa desses previlégios. Ás vezes, de fato, a valente resistência deles, conseguiu fazer frente à onda de violência turca, como quando, por exemplo, em 1891, Dionísio V proclamou estado de perseguição contra a Igreja, e fechou todas as igrejas até que a Porta rendeu-se; mas os turcos nunca abandonaram a política de erradicar o Cristianismo do seu Império, nem sob o despótico governo de Hamid, nem sob os pseudo-constitucionais governadores novos turcos que o sucederam, até que finalmente Kemal, encontrando a Europa Cristã em estado de exaustão como resultado da recente guerra mundial, tomou a vantagem da oportunidade para continuar a velha política com uma ferocidade sem paralelo.

O Patriarca de Alexandria.
Segundo em hierarquia depois do Patriarcado de Constantinopla vemo de Alexandria, que foi muito ilustre durante os poucos primeiros séculos do Cristianismo, mas declinou tão miseravelmente depois das disputas monofisitas e o surgimento do Islamismo que no começo do século dezessete seu total de igrejas não passava de três. Quase que a única ocupação de seu Patriarca, que tinha seu assento no Cairo sempre que não era forçado a procurar abrigo sob a asa protetora do Patriarca de Constantinopla, era implorar ajuda financeira necessária para contrapor o Patriarcado contra os perigos gêmeos do Islamismo e da heresia. Assim, quando Cyril Lucar era o Patriarca de Alexandria, enviou o seu Logothete Máximo em 1608 para implorar por ajuda material dos Cristãos Ortodoxos de toda a parte. O Patriarca Samuel Capasules dirigiu-se em 1712 à Rainha Anna da Inglaterra, e em 1717 ao Imperador Pedro o Grande da Rússia. Similarmente em 1763 o Patriarca Mateus implorou a ajuda da Imperatriz Catarina II da Rússia e do seu filho Paulo; pois quando ele tornou-se Patriarca de Alexandria, "ele encontrou a igreja em grande desordem tanto interna quanto externamente; as igrejas delapidadas, os pobres angustiados e não visitados, o trono profundamente endividado, os Cristãos sem pastoreio e hesitantes em sua fé, as ovelhas pastando lado a lado com cabras e lobos, de maneira que esses últimos com frequência apanhavam as ovelhas, e os padres levando uma vida descuidada." Felizmente a partir dos dias de Mehmet Ali Pasha (1806-1848) em diante, as condições começaram a melhorar. Mercadores gregos começaram a descer para o Egito, e vigorosas comunidades gregas foram fundadas em Alexandria, Cairo, Porto Said, Suez e outros lugares. Dias mais radiosos brilharam para essa Igreja, especialmente depois que ela ficou sob o comando de Patriarcas energéticos como Sophrorius (1870-1899), Photius (1900-1925), e Meletius Metaxakis (1926-today), sob os quais os débitos do Patriarcado foram liquidados, igrejas foram construídas, escolas multiplicadas, organizações de caridade foram desenvolvidas, e vida nova foi infundida na Ortodoxia na África. Hoje a sede do Patriarcado é Alexandria, onde em torno do Patriarca reune-se seu Sínodo, composto de sete Metropolitas. O Patriarcado abarca mais de oitenta igrejas, a maioria das quais está no Egito, enquanto outras estão espalhadas pela Núbia, Abissínia, Tunísia e Transvaal. Evidência concreta de sua abundante vitalidade por suas revistas científicas, seus brilhantes oradores, sua imprensa, seu seminário, seus orfanatos, escolas e outras instituições filantrópicas.

O Patriarcado de Antióquia
O Patriarcado de Antióquia, também, teve que enfrentar muitas tempestades. Depois de sua anterior florescente Ortodoxia ter sofrido penosamente pela heresia monofisita durante o século sexto, depois de ter sido subjugado pelos invasores islâmicos no século sétimo, estava ainda destinada a sofrer ainda maiores males nas mãos dos Papistas, a quem as cruzadas estabeleceram na Síria, e que desalojaram o clero Ortodoxo. Quando os Papistas foram expulsos pelos mamelucos em 1268, o clero Ortodoxo foi recolocado em suas posições; mas de 1700 para a frente, a propaganda Catolico Romana reapareceu na Síria, mais vigorosa e melhor organizada do que antes, e por meio de suas escolas, universidades, ordens monásticas e protetores políticos influentes, continuou a levar avante seu trabalho de conversão. O espalhamento da Unia no Trono de Antióquia tambem foi ajudado por certos prelados latinizadores, tais como Cirilo III, que usurpou o Patriarcado em 1724, e cujas atividades foram combatidas com zêlo apostólico por legítimo rival Silvestre (1724-1766) por meio de visitas, cartas encíclicas, sermões, trabalhos escritos e escolas. A luta de Silvestre em defesa da Ortodoxia foi continuada por seus sucessores, Daniel (+ 1791), Anthemius (+1813), Serafim (+ 1823) e Metodius (+ 18500. Depois dos Papistas, os Protestantes cairam sobre o desafortunado Patriarcado: e depois dos Protestantes, os russos pan-eslavistas que, disfarçando seus objetivos políticos sob a máscara da defesa da Ortodoxia, começaram a semear dissenção entre os Sírios Ortodoxos e seus pastores Gregos. Assim incitados, os sírios de língua árabe dispensaram seus Metropolitas de língua Grega; e desrespeitando as regras da lei canônica e os protestos dos três outros Patriarcados, elegeram como Patriarca de Antióquia Meletius (1899-1906), que completou a arabização da Igreja da qual João Crisóstomo e João Damasceno tinham sido as estrelas mais brilhantes. Os Cristãos Ortodoxos da Síria não são, no entanto, no fundo inimigos dos gregos; e o encerramento da campanha pan-eslavista entre os árabes foi suficiente para ser retomado entre Cristãos gregos e árabes os mais fraternais sentimentos. Hoje em dia esse Patriarcado tem sua sede em Damasco, de onde foi removido em 1269, e abarca cerca de doze Metropolitas.

O Patriarcado de Jerusalém.
O Patriarcado de Jerusalém, cuja sede é, e sempre foi em Jerusalém, tem a diferente característica de sempres ter constituído uma Irmandade Monástica, com o Patriarca como seu abade, e com a vocação especial de vigiar e guardar os Sagrados Santuários da Terra Santa. O Patriarca é assistido em seu trabalho pelo Santo Sínodo, consistindo em doze bispos titulares e sete arquimandritas. A vida desse Patriarcado tem sido uma luta incessante pela manutenção de sua posição previlegiada contra rivais poderosos e numerosos. A Irmandade de Jerusalém pode rastrear seus direitos sobre os Sagrados Santuários até o tempo de Constantino o Grande, quando os Santuários foram estabelecidos pela primeira vez; e ele pode tambem pleitear como prova adicional desses direitos, o reconhecimento deles pelo Califa Omar no século sétimo. Mas do tempo das cruzadas em diante, a Igreja Católica Romana, tambem começou a pleitear direitos sobre os Santuários; e no tempo do Sultão Selim I (1512-1520) tanto ela quanto outras igrejas, por meio de grandes pagamentos aos turcos e o apoio de protetores poderosos, conseguiram clandestinamente adquirir certos previlégios, apesar de nossa Igreja ainda permanecer na posse do maior número de Santuários. Como se inimigos externos não fossem suficientes, apareceu em 1855 a Sociedade Russo Palestina, com o ostensivo propósito de fundar igrejas, escolas, hospedarias e palácios episcopais e assim elevar a posição e reputação da Ortodoxia, mas com a intenção secreta de conseguir a russificação da Palestina. Mas a Irmandade do Santo Sepulcro continuou, no entanto, a desempenhar suas funções e a manter sua cobiçada posição. A manutenção e adorno dos Sagrados Santuários por séculos; a distribuição regular de donativos aos nativos indigentes; a manutenção de escolas, hospitais, hospedarias e impressão de publicações; a reconstrução em 1810 da Igreja da Ressureição que tinha sido destruída por fogo; a manutenção da excelente "Escola Teóloga da Cruz" durante seus longos anos de valioso serviço; — tudo isso, e muitas outras despesas inevitáveis carregou a Irmandade do Santo Sepulcro com débitos opressivos, apesar do povo grego nunca falhar em mandar sua contribuição em dinheiro para a Irmandade. Ultimamente, no entanto, uma certa ordem foi restabelecida nos assuntos financeiros da Igreja de Jerusalém, indicando tambem uma maior atenção aos assuntos espirituais.

A Igreja de Chipre.
A Igreja de Chipre, como os quatro mais antigos Patriarcados, pode tambem proclamar sua grande antiguidade. Fundada no ano 45 pelos Apóstolos Paulo e Barnabas, e numerando entre seus membros, santos como Espiridião e Epiphânio, ela garantiu o previlégio de autonomia no Terceiro Concílio Ecumênico, que proibiu o Arcebispo de Antióquia de interferir nos assuntos de Chipre. Infelizmente, em 1191, Ricardo Coração de Leão tomou posse da Ilha e vendeu-a para os Cavaleiros do Templo; e daí para frente os infelizes cipriotas, sob o jugo dos fanáticos Católico-Romanos Lusinhanos, passaram por todo tipo de sofrimento pela manutenção de sua liberdade nacional e religiosa. Não só os invasores templarios transformaram a maioria deles em servos, como alem disso o Papa impos a eles um Arcebispo Romano, a quem os bispos Ortodoxos eram obrigados a jurar o compromisso de lealdade. Em 1231, na presença do Português Pelágio, o representante do Papa Honório III, os Treze Santos Padres foram martirizados tendo sido condenados como heréticos por não aceitar as inovações da Igreja Romana. Eles foram primeiro amarrados a rabos de cavalos e arrastados sobre pedras e a seguir queimados junto com os animais, de modo a tornar impossível a coleta de seus ossos. A ocupação veneziana da Ilha em 1489 foi simplesmente a substituição da velha tirania por uma nova; e a única faceta redentora da conquista turca que se seguiu em 1571 foi que ela jogou para fora da Iha todos os intrusos romanos. O coroamento da fericidade turca foi o estrangulamento em Nicosia do Arcebispo de Chipre, Cipriano, dos Metropolitas de Paphos, Kition e Kyrenia, e de outros cipriotas notáveis, pelo governador turco sedento de sangue Kuchuk Mechmet, durante o primeiro ano da Revolução Grega (1821). Em 1878, Chipre foi tomada pela Grã-Bretanha, de onde havia vindo o seu primeiro conquistador, Ricardo Coração de Leão. Mas os duzentos e cinquenta mil Ortodoxos gregos dessa illha martirizada, que constituem quatro-quintos da população total, nunca porão seus pensamentos em coisas mais elevadas até que eles estejam livres da dominação estrangeira, e retornem mais uma vez aos cuidados de sua terra-mãe natural.

17. Rússia, Grécia, Sérvia, Romênia, Bulgária e Síria.

Outras Igrejas Ortodoxas.
A Igreja Ortodoxa Oriental e Apostólica que engloba um total de duzentos e cinquenta milhões de almas no mundo de hoje, não é representada somente pelos quatro mais antigos Patriarcados e pela Igreja Grega Ortodoxa de Chipre. Pela graça de Deus, ela é tambem representada por varias igrejas locais e independentes.; nomeadamente, as Igrejas da Rússia, Grécia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Síria, Polônia e Georgia, junto com as Igrejas autônomas da Finlândia, Tchecoslovaquia, Estônia e América; e as Igrejas de Diáspora na Europa. Nem devemos nos esquecer dos Ortodoxos Gregos da Dodekanesia e da Albânia. É impossível no presente trabalho, tratar da história de todas essas igrejas. Alguma coisa, no entanto, deve ser dita sobre as cinco primeiras que são as mais importantes dentre elas.

A Igreja da Rússia nos Tempos Modernos.
Seja quando tinha seu quartel general em Kiev, no seu começo, com Vladimir, para onde ela foi em 1229, ou em Moscou, como aconteceu em 1328, a Igreja da Rússia nunca cessou de considerar como sua cabeça espiritual o Patriarca de Constantinopla, de quem ela recebeu o Cristianismo. É verdade que quando em 1588 o Patriarca de Constantinopla, Jeremias II, visitou a Rússia para implorar auxílio financeiro, ele proclamou essa filha crescida de sua Igreja, independente, e reconheceu o Metropolita de Moscou como o quinto Patriarca da Igreja do Oriente. Mas seja porque ele considerou que essa situação concentraria uma perigosa quantidade de poder nas mãos do Patriarca Russo, ou seja, por outras razões mais políticas, Pedro o Grande silenciosamente a suprimiu em 1721; e com a cooperação do grande teólogo russo Procopovicius, montou um Sínodo Administrativo Permanente, comunicando essa mudança aos Patriarcas do Oriente, todos os quais aceitaram o fato. Pedro o Grande tambem trabalhou para a melhoria do clero fundando escolas clericais e reformando mosteiros. Seu exemplo foi seguido por Catarina II e pelos Tsares que a sucederam, em cujo tempo a Igreja Russa gozou da posse de quatro Academias Teológicas muito importantes e de numerosos seminários e conseguiu não só cumprir suas obrigações para com seus membros, como tambem sustentar florescentes missões entre os israelitas, tártaros e japoneses. Infelizmente, desde a recente guerra mundial, todas essas promissoras esperanças foram cortadas pelos bolchevistas, que depois de derrubar o Trono Tsarista, agora icubem a si próprios com a idéia de que eles são capazes de derrubar o Trono de Deus. No tempo presente, o ateísmo é o culto oficial da Rússia Soviética. Cristãos são perseguidos simplesmente por serem Cristãos. Igrejas construídas magnificamente tem sido transformadas em clubes, salas de música, cinemas e teatros. Icones de inimitável beleza, pintados por Publioff ou Stroganoff, que viveram nos séculos quinze de dezessete respectivamente, são vendidos para o exterior ou publicamente queimados nas praças. Aqueles que permaneceram devotos, e que ainda estão ligados aos modos de vida de seus pais, vivem em sua maior parte no exílio, enquanto muitos outros ou foram mortos ou estão desfalecendo nas prisões. No anos de 1918, 1919 e 1920 somente, vinte e seis bispos e seis mil, setecentos e cinquenta padres foram martirizados pelos bolchevistas, deixando de lado uma outra conta de milhares ou milhões de outras vítimas. O bolchevismo é baseado no princípio materialista e ligado a terra do comunismo; enquanto o Evangelho nos exorta a seguir coisas mais elevadas e mais espirituais. "Religião e Comunismo" — diz Bukharim — "conflitam um com o outro tanto em teoria como na prática... guerra até a morte contra qualquer forma de religião!" E o outro escritor acrescenta: "A simpatia e amor Cristão são contrários às nossas crenças. Consequentemente, a única sociedade oficial na Rússia é a dos ateístas," sob cuja inspiração, acrescentamos, dez mil clubes anti-religiosos executam seu trabalho através das vastas extensões da Rússia, tolamente procurando trasnformar a natureza humana apagando a luz inextinguível de seus instintos religiosos. Não existe a menor dúvida que a última solução dessa vasta tragédia será, como sempre foi no passado, o triunfo da Cruz. Mas o emaranhado conluio que precederá esse triunfo será amargo de verdade para os lutadores Ortodoxos Russos, que clamam por nossas orações.

A Igreja da Grécia nos Tempos Modernos.
A Igreja da Grécia, que igualmente sofreu enormemente sob a tirania turca, entrou em um novo estágio de sua vida desde o dia em que ela se livrou daquele pesado jugo. A bandeira da Revolução recebeu a benção do clero grego, membros do clero se destacaram como líderes militares; e membros do clero, de novo sentaram no primeiro concílio nacional da Nova Grécia. Desde os tempos de Léo o Isauriano (714-741), a Igreja dessas regiões eram uma dependência do Patriarcado Ecumênico, com o qual estavam organicamente juntas. Mas os líderes da Revolução consideraram que sua independência política da Turquia não estaria completa a menos que fosse acompanhada por emancipação eclesiástica. Daí, na Assembléia Geral de Nauplion em 1833, e na proclamação da constituição sob o Rei Otto em 1844, os representantes da nação declararam que, apesar da Igreja da Grécia ter permanecido e permanecerá sempre unida com a Grande Igreja de Constantinopla em questões de dogma, ela a partir de então gozaria de completa autonomia em questões de governo. Em grande parte eles estavam certos; pois os limites eclesiásticos sempre se conformaram aos limites políticos, e um país livre deve ter uma Igreja livre. Mas por um longo período o Patriarcado Ecumênico não concedeu. Ele via a propriedade da Igreja sendo quebrada ostensivamente para suprir as necessidades da Igreja, mas na verdade para ser malbaratada pelos leigos. Ele temia que a separação administrativa da Igreja da Grécia, pudesse ser tomada como um precedente por outros povos dos Balkans que não estavam ainda preparados para auto-governo; e ele estava particularmente apreensivo que os conselheiros protestantes do Rei Otto fossem introduzir no jovem estado da Grécia formas de governo contrárias aos princípios Ortodoxos. No fim, no entanto, ele cedeu, e emitiu em 1850 o Tomo Sinótico sobre a emancipação da Igreja da Grécia, declarando seu direito ao auto-governo. Nos anos que se seguiram a revolução, os limites da Igreja da Grécia, assim como os da própria nação restringiram-se. Mas em 1863, as Ilhas Iônicas foram unidas à Pátria-mãe; em 1878, Tessalônica e parte do Epirus; em 1913 a Macedônia do Sul, Creta e algumas Ilhas do Mar Egeu; e em 1922, a Trácia Ocidental. Como resultado desses vários aumentos no território nacional, os limites da Igreja da Grécia tambem foram aumentados, às custas da diminuição dos limites do Patriarcado Ecumênico, em cuja jurisdição essas áreas estiveram por séculos. Hoje em dia, a Igreja da Grécia inclui cerca de oitenta Metrópoles das quais trinta de três pertenciam à Grécia pré-guerra, enquanto quarenta e sete foram acrescentadas depois da guerra. Ela é governada por um Sínodo duplo: o "Sínodo Periódico," que se reune uma vez por ano em Atenas e inclui todos os bispos, e o "Sínodo Permanente," que consiste de oito bispos e que trata dos assuntos do dia-a-dia. Ambos os sínodos são presididos pelo Arcebispo de Atenas, que tambem tem o título de "Arcebispo de Toda a Grécia." A Igreja da Grécia enfrenta muitos problemas. Seus bispos são todos homens de educação erudita, e financeirametne independentes; mas seus padres com frequência estão necessitados de melhor educação e meios financeiros. Escolas teológicas e clericais na verdade existem; mas como o presbiterado é um chamado quase sem pagamento, seus estudantes usualmente dirigem-se para outras profissões. O povo é ligado à fé Ortodoxa, a qual, no entanto, é continuamente minada por propaganda estrangeira; e apesar da Ortodoxia ser considerada a religião oficial do Estado da Grécia, os dirigentes do país assistem passivamente à má administração das propriedades eclesiásticas e mantem a Igreja em sujeição. Contra todos esses males, a Igreja da Grécia está trabalhando duplo. A posição do clero está melhorando gradualmente; sermões são procurados muito mais; a imprensa está crescendo; instituições de caridade estão sendo fundadas; e a vida religiosa está progredindo tanto na teoria quanto na prática.

A Igreja da Sérvia nos Tempos Modernos.
O desenrolar da história da Igreja da Sérvia tem um ponto comum com o da Igreja Grega: ela sofreu e cresceu com a nação. Um período de grande glória existiu para ela em meados do século quatorze quando o grande príncipe sérvio, Estevão Dushan, tomando a vantagem dos problemas internos do Império Bizantino, extendeu suas conquistas do Danúbio, ao Mar Egeu e Mar Adriático; e aspirando estabelecer sua capital em Constantinopla, chamou a si próprio "Tsar e Imperador dos Sérvios e Gregos." Nesse período, a Igreja Sérvia gozava de completa independência, que lhe havia sido concedida em 1221, quando o Imperador Bizantino Theodoro Lascaris e o Patriarca Ecumênico Germano, reconheceram o Arcebispo de Ipek como a cabeça eclesiástica dos sérvios. Mas dias de escravidão, logo vieram para os sérvios tambem; e o mesmo Mohamed II que havia destruído o Império Bizantino, logo depois conquistou os territórios sérvios. Três séculos mais tarde, quando os sérvios haviam feito tudo o que era possível para melhorar sua condição, eles finalmente viraram-se para o Patriarcado Ecumênico em 1766, e requisitaram ao então Patriarca Samuel para tomá-los sob seus cuidados protetores. Assim, as províncias sérvia de Ipek, Prizren, Skoplie, Belgrado, etc., fizeram parte no século dezoito da jurisdição do Patriarcado de Constantinopla, até que a Sérvia levantou-se de novo contra os turcos sob Karageorgevitch e Ovrenovitch em 1817 e gradualmente conseguiu sua independência. Um dos resultados dessa independência foi uma medida de emancipação da Igreja Sérvia do Patriarcado Ecumênico, concedida pelo Tomo Sinódico de 1831. Mas a emancipação da igreja ainda não estava completa; pois bispos sérvios ainda frequentemente recebiam sua sagração de Constantinopla, e o Metropolita de Belgrado, que foi indicado como chefe da Igreja Sérvia, apesar de eleito pelos dirigentes da Sérvia, era confirmado em seu posto pelo Patriarcado Ecumênico. Esse período de transição chegou ao fim pelo Tomo Sinódico de 1879, pelo qual o Patriarca de Constantinopla reconheceu a Igreja da Sérvia como totalmente independente e irmã auto-governante no completo sentido da expressão. Desde a guerra dos Balkans e da Europa, a Sérvia de hoje tornou-se um país extenso, incorporando não só o Norte da Macedônia e uma parte considerável da Albânia, como tambem uma grande parte da Austria; e foi alem disso juntado a Montenegro, cujo dirigente, chamado de "Vladika," combinou em sua pessoa os cargos supremos da Igreja e do Estado, sendo ao mesmo tempo Rei e Bispo. Hoje em dia Yugoslávia, ou Slavia do Sul, nome pelo qual o Reino de Sérvios, Croatas e Eslovenos é conhecido, contem cerca de trinta Metrópoles e Episcopados na cabeça dos quais se coloca o Patriarca de Belgrado; pois desde 1922 a Igreja Ortodoxa da Sérvia foi elevada à categoria de Patriarcado. Essa Igreja, tambem, é governada por dois Sínodos, anual e permanente, ambos presididos pelo Patriarca Sérvio.

A Igreja da Romênia nos Tempos Modernos.
Outro país Ortodoxo cujas fronteiras foram notavelmente alargadas pelas guerras recentes é a Romênia. Os romênos apareceram pela primeira vez nos Balkans durante o século doze, e eram chamados Vlachs por seus comtemporâneos. Descendentes dos antigos colonizadores romanos e falando uma língua latina, eles constituem o único povo de origem romana que não reconhece a Igreja Católico-Romana. De início, se juntaram com os seus vizinhos búlgaros para formar o Vlachobúlgaro Império, e lançaram guerra contra o Império Bizantino, mesmo estando submetidos à influência cultural deste. Mais tarde, porem, os Vlachs e Búlgaros se separaram, devido às suas diferenças tanto de origem quanto de língua. A dependência da Igreja da Romênia do Patriarcado Ecumênico durante o período da dominação turca é evidente e atestada pelos catálogos da época, na qual as províncias romenas são enumeradas entre as que estão sujeitas ao Patriarcado. Na verdade, certas cidades da história romena como Bucareste, Jassy e outras desenvolveram-se em centros de cultura grega, graças as grandes colonias gregas estabelecidas lá antes da Revolução Grega, e graças aos gregos Phanariotes que do século dezessete em diante foram mandados para lá pelos Sultões como governadores dessas regiões. Quando pelo Tratado de 1856 a Romenia conquistou sua independência política, o Príncipe Couza, seguindo exemplo das Igrejas da Rússia e da Grécia, procurou retirar a Igreja da Romênia inteiramente da jurisdição do Patriarcado Ecumênico e introduzir uma nova ordem nos assuntos em harmonia, como ele pensou, com as necessidades dos tempos modernos. As leis reformistas de Couza passaram pelo Parlamento Romeno em 1864 e 1865. Por um longo período, no entanto, o Patriarcado Ecumênico resistiu a essa mudança; primeiro, porque, na nova legislação havia a tendência da Igreja ser colocada em subservência do estado, e segundo porque no ardor de sua reforma Couza confiscou todas as mais ricas propriedades tidas na Romênia pelo Monte Athos, Sinai e Santo Sepulcro, sem nem compensar seus proprietários nem usá-las para propósitos eclesiásticos. Finalmente em 1885, sob o Patriarcado de Joaquim IV, a Grande Igreja publicou o Tomo Sinótico, no qual a Igreja do Reino da Romênia (pois a Romênia tinha sido tornada em um reino em 1881) foi legalmente proclamada uma independente e auto-governada Igreja-Irmã. Ainda existiram fricções ocasionais entre a Romênia e a Igreja-Mãe, como na questão dos Coutsovlachs da Macedônia, a quem a Romênia insistiu em tratar como romenos, apesar do desejo deles de pertencer ao Patriarcado Ecumênico, cujo destino eles tinham compartilhado por séculos. É de se esperar, no entanto, que essa dificuldade tambem venha a ser resolvida pelas novas fronteiras determinadas pela Guerra Mundial. Hoje em dia, a Igreja Ortodoxa da Romênia inclui vinte e oito Metropolitas, Bispos e Bispos assistentes, eleitos por uma assembléia geral de bispos e membros das câmaras Baixa e Alta do Parlamento. É governada por um Sínodo Periódico que se reune sob a presidência do Patriarca de Bucareste; pois a Igreja da Romênia, como a da Sérvia, foi elevada ao nível de Patriarcado em 1925 por conta do grande aumento no tamanho do reino.

A Igreja da Bulgária nos Tempos Modernos.
O forte sentimento de patriotismo característico das Igrejas Ortodoxas Locais, tem frequentemente levado-as a entrarem em colisão uma com as outras. Daí surgiu a questão Coutsovlach referida a pouco, as intrigas Paneslavistas na Palestina e em outros lugares, e a longa, e sanguinolenta disputa causada pela rivalidade nos Balkans durante os anos de desgoverno turco, quando a religião foi usada como um pretexto para a criação ou extensão de direitos políticos. Todas essas alterações são penosas para o coração ortodoxo; mas nenhuma mais penosa do que o modo irregular pelo qual a Igreja da Bulgária procurou sua emancipação do Patriarcado, de cuja proteção ela gozou em tempos mais perturbados. Era perfeitamente natural que a liberação da Grécia, Sérvia e Romênia do jugo turco viesse a acender a chama da Bulgária independente. Mas enquanto os outros povos dos Balkans, tinham primeiro ganho sua liberdade política e depois a independência eclesiástica, os búlgaros reverteram o processo, e perseguiram a independência eclesiástica com terrorismo e dinamite como meio para suas conquistas políticas. Apesar de um dos principais princípios da Lei Canônica ser o de que dois líderes da Igreja Ortodoxa de igual nível, nunca poderão existir lado a lado no mesmo lugar, em 1870, pela autoridade de um turco incendiário, os búlgaros deliberadamente criaram um exarcado em Constantinopla, como a suprema cabeça da nação búlgara e rival e igual ao Patriarca Ecumênico. O Patriarcado procedeu de modo a fazer todas as concessões possíveis. Ele permitiu o uso da língua búlgara em todas as escolas da Bulgária; mandou bispos búlgaros para a Bulgária; e aceitou o estabelecimento do exarcado búlgaro exclusivamente para a nação búlgara, com a única ressalva de que ele em público deveria comemorar o nome do Patriarca (nos ofícios). Mas os búlgaros não aceitaram nenhum compromisso com seu olho na Macedônia e Trácia, sonhavam com um grande império búlgaro extendendo-se tão longe quanto o Mar Egeu e o Adriático, e incorporando uma população mista de gregos, sérvios, albaneses e vlachos, com sua capital em Constantinopla. Queriam que eles e seu exarcado governassem não só em regiões puramente búlgaras, mas em territórios mistos tambem assim como em territórios estrangeiros, de modo que por meio de seus comissariados pudessem marcar todo Balkans com uma impressão búlgara e assim preparar o caminho para a nova cosmogonia que estava se aproximando. Era impossível para a Igreja Mãe aceitar essa situação. Convocando então um grande Sínodo em Constantinopla em 1872, com a presença de cinquenta membros sob a chefia do Patriarca Anthimus VI, a Igreja Mãe excomungou os búlgaros por causar um cisma no corpo eclesiástico da Ortodoxia por sua subserviência aos interesses políticos, procedimento não consoante com o Evangelho. Daí para frente, as relações entre o Patriarcado e o Exarcado Búlgaro tornaram-se desgastadas e frágeis. A responsabilidade toda do episódio, no entanto, não deve ser considerada só da Bulgária; pois, por trás dela, o pan-eslavismo russo estava oculto, maquinando para fazer da Bulgária uma ponte para a conquista de Constantinopla e a russificação dos Balkans. A recente guerra mundial pôs um fim nas ambições russas. A Bulgária agora é um reino dentro dos seus limites naturais. O novo mundo balkânico foi criado, e a Macedônia definitivamente tem sua porção. Não há dúvida que, já que as causas de fricção foram removidas, as relações entre a Bulgária e o Patriarcado serão regularizadas e restauradas logo, para satisfação de todos que desejam ver a Igreja Ortodoxa Oriental como um corpo único, compacto e imponente.

A Igreja da Síria.
É bem sabido que foi em Antióquia que os seguidores de Cristo foram chamados pela primeira vez de Cristãos. A Igreja da Antioquia foi fundada pelo Apóstolo Paulo que lá chefiou a Igreja por sete anos de 37 a 44 A.D. Nos primeiros tempos Cristãos, Antioquia era a cidade mais rica de toda Síria e os Cristãos de lá ajudaram muitas outras comunidades nascentes de Cristãos. Um Concílio ocorrido em Antioquia no ano de 341, emitiu vinte e cinco Canons que tratavam de assuntos eclesiásticos e cujos preceitos foram observados tanto pela Igreja do Oriente quanto a do Ocidente. São João Crisóstomo, o mais eloquente pregador de todo Cristianismo, nasceu em Antioquia e começou sua carreira religiosa lá. Durante seu tempo, Antioquia era uma cidade de 200.000 habitantes e era chamada de Atenas do oriente. Antioquia tornou-se a capital da diocese de Anatólia quando o Império Bizantino foi dividido em prefeituras por Constantino o Grande. Assim, toda a Síria foi incluida na jurisdição de Antioquia. No século sete, a Síria foi invadida pelos Árabes mas os invasores deram aos Cristãos liberdade pessoal e religiosa. Damasco foi proclamada a capital da Síria e de todo o Império Árabe. O Patriarca foi solicitado a mudar sua residência de Antioquia para Damasco aonde o Patriarca ainda está até hoje. Devido a dominação pelo islamismo do século sete ao século onze, a Igreja de Antioquia tornou-se praticamente isolada das outras Igrejas Ortodoxas Orientais. Do fim do século onze ao começo do século quatorze, a Síria junto com a Palestina, esteve sob o domínio dos Cruzados. Durante esse período os Patriarcas de Antioquia e Jerusalém viveram em exílio em Constantinopla. No começo do século quatorze, os cruzados foram expulsos da Síria e um regime islâmico foi novamente estabelecido. Mais tarde, no século dezessete, disputas internas na Igreja de Antioquia causaram uma divisão na população com alguns tornando-se Uniatas Romanos. Por um longo período de tempo, o Patriarca de Antioquia e seus Metropolitas foram eleitos em Constantinopla. Agora, eles são tirados da população nativa e são eleitos pela Hierarquia do Trono Patriarcal de Antioquia. Sob o Patriarca estão quatorze dioceses cada uma encabeçada por um bispo.

(A seção acima, "A Igreja da Síria," é reprodução do livro "Faith of Our Fathers," por Rev. Leonid Soroka e Stan W. Carlson).

18. Ortodoxia na América.

Igreja Albanesa.
A Igreja Albanesa na América foi organizada pelo Dr. Fan S. Noli em Boston em 1908. Padre Noli foi ordenado em 1908 pelo Metropolita Russo Platon e eleito bispo por seu povo. Como foi mencionado, Bispo Noli retornou à Albania para liderar a luta de seu país pela liberdade. Quando seu trabalho na Albania foi interrompido, passou um período de tempo organizando congregações albanesas em outros países da Europa.
Bispo Noli retornou para os Estados Unidos em 1930 para reassumir a liderança da Igreja Ortodoxa Albanesa da América e no presente é o bispo da Igreja. Há treze Igrejas Ortodoxas Albanesas nos Estados Unidos, com a Catedral localizada em Boston. A Igreja Ortodoxa Albanesa na América é completamente auto-governada com nenhuma conexão ou igreja do exterior.

Igreja Búlgara.
A primeira Igreja Ortodoxa Búlgara na América foi construída em Madison, Illinois, em 1907. A imigração búlgara para os Estados Unidos cresceu muito depois de 1903, com a maioria dos Cristãos Ortodoxos Búlgaros assistindo ofícios nas Igrejas Ortodoxas Russas.
Em 1922 a Missão Ortodoxa Búlgara do Santo Sínodo da Bulgária, começou tentativas para organizar os búlgaros. Em janeiro de 1938, foi estabelecido um episcopado nos Estados Unidos com o Arcebispo Andrey, o presente cabeça das igrejas búlgaras, indicado em julho de 1938.
Existem agora vinte e três paróquias organizadas da Igreja Ortodoxa Búlgara nos Estados Unidos, com mais duas no Canadá. Existem tambem quinze comunidades que ainda não estão constituidas como paróquias. A Catedral está localizada em Nova York e a jurisdição do Metropolita inclui Américas do Norte, do Sul e Austrália.

Igreja Grega.
As fundações da primeira Igreja Ortodoxa Grega no Novo Mundo, América, foram lançadas no ano de 1866 em Nova Orleans.
Na verdade isso foi quatro anos antes do efetivo começo da imigração para as Américas dos primeiros Cristãos Ortodoxos Gregos. Ainda antes dos primeiros povos imigrantes de 1870 porem os pés na nova terra, essa primeira pequena igreja existiu em Nova Orleans como resultado da esperança de alguns poucos mercadores gregos residentes nessa cidade. Os gregos tem um forte sentimento pela religião de seus antepassados e, com o tempo passando, com a imigração crescendo, as igrejas nasceram rapidamente em várias áreas das Américas. Nesse período a jurisdição dessas comunidades de Cristãos gregos veio a ficar com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Padres eram enviados da terra-mãe para as igrejas do novo mundo.
Março de 1908, o Patriarcado Ecumênico, encabeçado pelo Patriarca Joaquim III, transferiu a jurisdição espiritual das Igrejas Ortodoxas Gregas "no exterior" para o Santo Sínodo da Igreja da Grécia. Isto foi mantido pelos dez anos seguintes para muita desvantagem das comunidades na América — desvantagem porque não havia líder religioso presente, em solo americano, para providenciar a necessária organização numa área espalhada de muitas comunidades crescentes.
Felizmente, Meletios Metaxakis, Metropolita de Atenas, visitando os Estados Unidos em 1918, viu que a necessidade de um líder religioso era indispensável justo ali, não no país-mãe. Começou imediatamente a organizar as Igrejas Ortodoxas Gregas nas Américas estabelecendo o conclave sinódico em 20 de outubro de 1918, com o Bispo Alexander Rodostolou como Supervisor Sinódico.
O Metropolita de Atenas, Meletios voltou para a Grécia, mas regressou à América em três anos para continuar a organização da igreja. Isso era fevereiro de 1921. Enquanto ainda residindo na América, em 25 de novembro daquele ano, foi elevado par ao posto de Patriarca Ecumênico de Constantinopla como Meletios IV. No mês de janeiro de 1922, ele chegou em Constantinopla.
Lá em sua nova posição, por um Ato Sinódico em 1? de março, revogou o Decreto Patriarcal de 1908. Assim todas as comunidades gregas no exterior foram postas diretamente sob o Patriarcado Ecumênico e foram removidas da dependência do Santo Sínodo da Grécia. Em 11 de maio de 1922, ele declarou a Igreja da América uma Arquidiocese. Colocou o Bispo Alexander Rodostolou como Arcebispo das Américas do Norte e do Sul, com três Episcopados: — Boston, Chicago e São Francisco. Isso foi progresso. Existiram embaraços para agilizar o progresso entre 1922 e 1930. Durante esse período eventos políticos na Grécia dividiram os gregos na América. As comunidades tornaram-se divididas eclesiasticamente pois para um Cristão Ortodoxo, o âmago de sua vida é sua igreja. Felizmente, a necessidade de unidade religiosa e concordia foi conseguida a tempo. o recém eleito Patriarca de Constantinopla Photius II tomou o encargo da eliminação da discórdia.
O Metropolita de Corinto Damaskinos foi enviado para a América em maio de 1930 com o propósito de temporariamente governar as comunidades gregas na América e estabelecer a ordem. Durante o mesmo ano, o Arcebispo Alexander e os Bispos Philaretos de Chicago e Joaquim de Boston, patiram para a Grécia onde foram indicados como Metropolitas.
Em 20 de agosto desse mesmo importante ano, o Metropolita Athenagoras de Kerkyra foi eleito Arcebispo da América, chegando em Nova York em 24 de fevereiro de 1931. Dois dias depois, 26 de fevereiro foi entronado na Igreja de São Eleftherios em Nova York. Enquanto isso, o Metropolita Damaskinos tendo cumprido sua missão de restabelecer a ordem, voltou para casa.
Nos anos seguintes, existiram outras mudanças eclesiásticas. Em 1949 o Arcebispo Athenagoras havia servido como líder da Igreja Ortodoxa Grega na América por dezoito anos, um bem amado e importante batalhador pela fé. Ele deixou a posição ao ser indicado Patriarca de Constantinopla.
O Reverendíssimo Miguel, Metropolita de Corinto, veio nesse tempo servir como Arcebispo das Américas do Norte e do Sul, pois, no Santo Sínodo de 11 de outubro de 1949, ele havia sido eleito para essa função. O Arcebispo Miguel é agora assistido pelos Bispos Germano Nyssa, Atenágoras de Elaia, Ezequiel de Nazianzo, Demetrio de Olimpo, Germanos de Constancia, Polyefktos de Tropaiou e Irenaios de Abydus para a América do Sul.
Sob a jurisdição da Arquidiocese Grega das Américas do Norte e Sul, há o seguinte: todas as comunidades gregas nos Estados Unidos, Canadá, Ilhas Bahamas, Cuba, México, República do Panamá, Argentina, Brasil e Uruguai. As 357 comunidades estão agora bem organizadas e existem mais de 400 padres servindo a elas.
As comunidades sustentam escolas paroquiais, escolas dominicais e instalações da Greek Orthodox Youth of America (GOYA) ou Juventude Ortodoxa Grega na América. Três-quartos das comunidades tem escolas gregas à tarde, escolas dominicais, ensaios de coral e sociedades de senhoras caridosas. Mais da metade tem clube de jovens afiliados à GOYA e os Olympians (Organização Nacional dos Jovens Juniores da Arquidiocese Ortodoxa Grega). Existem tambem agora sete capelães Ortodoxos Orientais servindo nas forças armadas dos Estados Unidos e dois deles são Ortodoxos Gregos.
A Arquidiocese mantem o Seminário Teológico estabelecido em 1937 em Pomfret, Connecticut, e transferido para Brook-line, Massachussets,em 1946. No seminário, jovens americanos de linhagem greco-ortodoxa são treinados para o presbiterado ou para professores.
A Arquidiocese em 1944 estabeleceu a Academis de São Basílio em Garrison, Nova York. Ela tem dois ramos — uma para preparação de mulheres gregas para professoras e o outro uma escola pública para meninas muito novas de parentesco grego. Essa academia particularmente, está sob os cuidados da Sociedade Philoptocos de Senhoras Gregas.
A diminuta fundação da pequena igreja em Nova Orleans, construida por poucos esperançosos mercadores gregos, desenvolveu-se a Igreja Ortodoxa Grega da América, agora um membro tanto do Nacional quanto doMundial Conselho de Igrejas de Cristo. Em agosto de 1954, o Arcebispo Miguel foi nomeado um dos seis co-presidentes do Conselho Mundial de Igrejas de Cristo. A fundação foi construida sobre a fé e esperança e mantem-se hoje em sólida verdade para um sempre crescente mundo Cristão.

Igreja Romena.
A primeira Igreja Ortodoxa Romena a ser estabelecida nos Estados Unidos foi a de Santa Maria em Cleveland, Ohio, que foi organizada em 15 de agosto de 1904. Antes disso, em 1901 duas Igrejas Ortodoxas Romenas foram organizadas no Canadá. O primeiro padre romeno visitar os Estados Unidos foi o Reverendo George Hertea, mas sua estada no país foi somente temporária. Padre Moses Balea, que veio a ser o pároco de Santa Maria, em Cleveland em novembro de 1905, foi o primeiro do clero a vir para os Estados Unidos e ficar.
Até o tempo da 1? Guerra Mundial, todos os clérigos romenos vinham da Romenia, mas com o corte da imigração, numerosos americanos de origem romena foram ordenados por Bispos Ortodoxos Russos da América. Muitos anos depois do término da 1? Guerra Mundial, o Metropolita d Sibiu na Transilvânia mandou onze padres para a América, dos quais cinco permaneceram nos Estados Unidos permanentemente.
Começando em 1911, inúmeras tentativas de organizar um diocese americana da Igreja Ortodoxa Romena foram feitas. Em 24 de fevereiro de 1918, um grupo de delegados que se reuniram em Youngstown, Ohio, votou para o estabelecimento de um episcopado nos Estados Unidos. Esse episcopado foi incorporado e seu estabelecimento foi confirmado num encontro subsequente mantido em Cleveland, Ohio, em abril de 1923. A organização, no entanto, não se tornou ativa.
A necessidade de uma organização unificada da Igreja Romena na América tornou-se mais clara em 1924 quando descobriu-se que três fontes de autoridade eclesiástica eram reconhecidas por clérigos ortodoxos romenos. Aqueles ordenados na Romênia consideravam-se sob a jurisdição do Metropolita da Transilvânia, os ordenados na América reconheciam o Bispo Russo-Americano Adam e os do clero no Canadá consideravam-se sob a autoridade do Metropolita da Moldavia.
Um Episcopado Ortodoxo Romeno fo organizado num congresso da igreja em Detroit, Michigan, em abril de 1929. Essa nova Diocese Orotodoxa Romena na América foi encabeçada por uma comissão provisória composta por quatro padres e oito homens leigos com o Reverendíssimo John Trutza de Cleveland como presidente. Foram feitas repetidas solicitações de envio de um bispo para os Estados Unidos.
Em 24 de março de 1935, o Justo Reverendo Policarpo Morusca foi consagrado bispo para a Diocese Americana. Ele foi empossado em 4 de julho de 1935, na Catedral de São George em Detroit. Sob o Bispo Policarpo a Igreja Ortodoxa Romena na América, cresceu para mais de quarenta paróquias.
O Bispo Policarpo retornou a Romênia em agosto de 1939, para estar presente num Santo Sínodo. A eclosão da Segunda Guerra Mundial logo depois, impediu seu retorno à América e as modificações políticas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial complicaram ainda mais a situação e ele permaneceu na Europa. O Bispo Policarpo ainda é o chefe canônico do Episcopado Americano.
As Igrejas Romenas Americanas decidiram recentemente retornar ao seu estado original de autonomia. Em 2 de julho de 1951, o Reverendíssimo Valeriano D. Trifa foi eleito Bispo coadjutor em um congresso na igreja havido em Chicago, Illinois, e o nome da diocese americana foi oficialmente mudado para Episcopado (Diocese) Ortodoxo Romeno da América.
A Igreja Ortodoxa Romena na América é dividida em cinco reitorias ou distritos: Cleveland, Chicago, Detroit, Philadelphia e Canadá.

Igreja Russa.
A Igreja Ortodoxa Russa veio para a América via Alasca. Vitus Bering, um dinamarquês que entrou para a Marinha Russa em 1704, foi escolhido por Pedro o Grande para explorar o Pacífico Norte. Antes de Bering deixar São Petersburgo em 1725, Catarina a Grande que sucedeu Pedro, deu seu apoio ao plano.
Durante uma viagem exploratória ele provou que a Ásia e a América do Norte eram Continentes separados e a seguir ele retornou por terra a São Petersburgo. Ele então construiu dois navios, dando-lhes os nomes de São Pedro e São Paulo, e navegou em direção leste partindo de Kamchatka em 1741. Durante a viagem os barcos se separaram e nunca mais se reuniram.
Dirigido por tempestades e com sua tripulação morrendo de escorbuto, Vitus Bering aportou em uma ilha do grupo das Ilhas dos Comandantes. Essa ilha, onde Bering morreu, recebeu seu nome em sua homenagem. As viagens de Bering esclareceram a geografia do Pacífico Norte todo e foram a base para as demandas russas sobre a costa noroeste da América. O Alaska, mais tarde comprado da Rússia pelos Estados Unidos em1867 por US$ 7.200.000, estava incluido nas descobertas de Bering e tornou-se conhecido como América-Russa. A primeira colonização russa teve lugar em 1783.
Expedições Mercantis russas percorreram a costa oeste da América e em 1809 um estabelecimento russo foi instalado na Califórnia, localizado cerca de sessenta milhas ao norte de São Francisco e recebeu o nome de Forte Ross.
Os russos que se instalaram no Alaska e na Califórnia fundaram igrejas logo depois de sua chegada. Os primeiros missionários Ortodoxos Russos, chegaram na Ilha Kodiak, fora do continente no Alaska, em agosto de 1794. A primeira missão tinha um duplo propósito: dar ofícios espirituais aos homens da Russian Trading Company e evangelizar oa nativos Aleutas. O líder dessa missão foi o Arquimandrita Joasaph.
A religião ortodoxa floresceu e logo se espalhou por todas as parte da Ilhas Aleutas e para o Alaska. No Alaska, um Igreja Ortodoxa Russa foi construida no atual local de Sitka em 1815. Esse edifício tornou-se a Catedral da primeira Diocese Ortodoxa Russa no continente americano. Inocêncio (Vemiaminoff), que foi ordenado em 15 de dezembro de 1848, tornou-se o primeiro bispo dessa diocese.
Em 1869, dois anos depois da Rússia ter vendido o Alaska para os Estados Unidos, um Igreja Ortodoxa Russa foi construída em São Francisco, Califórnia, e em 1871 o Bispo João transferiu a sede de sua Catedral de Sitka, Alaska, para São Francisco. O Bispo Nestor que sucedeu o Bispo João, recebeu permissão especial do Sínodo Russo em 1881 para estabelecer sua diocese em São Francisco e uma propriedade no n? 1715 da Powell Street foi comprada por US$ 38.000 para esse propósito.
Em 1888, o Bispo Vladimir veio para São Francisco para suceder o Bispo Nestor e durante sua administração, a primeira paróquia Russa-Uniata, localizada em Minneapolis, Minnesota, retornou para o rebanho Ortodoxo. O Reverendíssimo Alexis Toth era o padre da congregação em Minneapolis que tornou-se a Paróquia-Mãe de todas as Igrejas Ortodoxas Russas nos Estados Unidos e Canadá localizadas a leste de São Francisco.
O Bispo Nicolas sucedeu o Bispo Vladimir em 1891 e em 1898 o Bispo Nicolas foi sucedido pelo Bispo Tikhon que mais tarde tornou-se Patriarca da Rússia. Tikhon fundou o primeiro Seminário Teológico Russo em Minneapolis, Minnesota, em 1905. O prédio do seminário ainda existe e agora é usado para aulas de classes dominicais e organizações de Igreja da Igreja Ortodoxa Russa de Santa Maria. Essa primeira escola missionária tambem foi estabelecida em Minneapolis em 1897.
O Bispo Tikhon tambem transferiu a sede episcopal e o Consistório Eclesiástico de São Francisco para a cidade de Nova York onde a sede da Ortodoxia Russa para esse hemisfério está ainda localizada. A Catedral de São Nicola em Nova York, foi construida em 1901. Ele foi elevado para o nível de Arcebispo em 1903 com jurisdição sobre toda América do Norte. Sucessores a Tikhon foram os Arcebispos Platon e Eudokim. Sob a administração de Platon mais de cem novas paróquias foram formadas.
Em 1919 a Igreja Russa na América realizou seu primeiro Sobor ou Concílio Geral em Pittsburgh, Pennsylvania. Um segundo Sobor foi realizado em Detroit em 1924 no qual o Metropolita Platon foi escolhido o Bispo dirigente. Ele tinha previamente encabeçado a Igreja Ortodoxa Russa na América de 1907 a 1914. O mesmo concílio declarou que daí em diante a Igreja na América seria autônoma.
O Metropolita Platon morreu em abril de 1934. Ele foi sucedido pelo Bispo Teófilo sob cuja gestão a Federação dos Clubes Ortodoxos Russos foi fundada. Desde a morte de Teófilo em 1950, Metropolita Leonty tem comandado as Igrejas Ortodoxas Russas das Américas do Norte e do Sul.
O Crescimento da Ortodoxia na América do Norte tem sido firme. Nos Estados Unidos, Canadá e Alaska existem várias centenas de paróquias da fé Ortodoxa Russa.

Igreja Sérvia.
A imigração sérvia para os Estados Unidos atingiu sérias proporções por volta de 1890 e quatro anos mais tarde, em 1894, a primeira Igreja Sérvia na América foi fundada em Jackson, Califórnia, pelo Arquimandrita Sebastian Dabovich. A igreja foi dedicada a São Savas, o grande Santo nacional da Sérvia. Até depois da 1? Guerra Mundial, o bem estar espiritual da Igreja Sérvia na América estava sob a direção do Bispo Russo de São Francisco.
Em 1900 existiam seis congregações sérvias na América e em 1906 existiam dez. Quinze anos depois, esse número havia crescido para vinte. Em 1926, com trinta e cinco igrejas sérvias constituindo a diocese americana, o Arquimandrita Mardary Uskokovich foi consagrado pelo Patriarca Dimitri da Sérvia como o primeiro Bispo da Igreja Ortodoxa Sérvia na América. Sob sua direção, a diocese aumentou para quarenta e seis paróquias nos Estados Unidos e Canadá. A Catedral da Igreja Sérvia, construida e aberta em 1945, está localizada na cidade de Nova York.

Igreja Síria.
Em 1878 consta o registro da primeira família síria vinda para a América, mas houve pouca imigração da Síria e Líbano até cerca de 1890. De 1900 a 1910 cerca de 5.000 pessoas por ano imigraram desses países para os Estados Unidos com um pico de cerca de 9.000 chegando em 1913 e 1914.
A missão síria da Igreja Ortodoxa Russa foi fundada em 1892 e tomou o encargo do bem estar do povo Ortodoxo Sírio no Novo Mundo, e a primeira sociedade eclesiástica síria foi fundada em Nova York em 1895.
O Arquimandrita Rafael Hawaweeny foi trazido da Academia de Kazan em outubro de 1895 para supervisionar as atividades da Igreja Síria na América. Em 1904 ele foi consagrado como Bispo-Vigário para o episcopado russo e tornou-se o primeiro Bispo Ortodoxo de qualquer nacionalidade a ser consagrado nos Estados Unidos. Ele serviu toda sua capacidade até sua morte em 1915.
Em 1914, o Metropolita Germanos, o Bispo de Zahle, Líbano, do Patriarcado de Antioquia, veio para a América e durante sua estadia nos Estados Unidos, várias paróquias foram organizadas. Em 1924, existiam dezessete Igrejas Ortodoxas Sírias com pastores residentes e mais sete com um padre atendente mas sem construção paroquial. A missão síria da Igreja Russa consistia em vinte e duas paróquias adicionais e uma missão sob a jurisdição do Bispo Aftimios Ofeish que havia sido consagrado como Bispo de Brooklin em 1917 sucedendo o Bispo Rafael.
Por vários anos, as Igrejas Sírias da América permaneceram em jurisdições eclesiásticas separadas . Em 1933, o então Arcebispo Aftimios resignou e o Metropolita Germano voltou para Beirut onde ele morreu em 1934. O Bispo Victor Abo-Assaley, representando o Patriarca de Antioquia nos Estados Unidos, morreu em setembro de 1934.
O Arquimandrita Antony Bashir foi indicado como Vigário na América pelo Patriarca e foi subsequentemente eleito Bispo das Igrejas Síria na América. Em 1936, ele foi consagrado em Nova York pelo Metropolita Theodosios de Tiro e Sidon que havia sido enviado para os Estados Unidos para esse propósito. Em junho de 1940, o Arcebispo Antony foi elevado para o nível de Metropolita de Nova York e toda a América do Norte. Sob sua liderança, a Igreja Ortodoxa Síria cresceu para oitenta paróquias nos Estados Unidos, Canadá e México.

Igreja Ucraniana.
O começo da história da Igreja Ucraniana é paralela à Igreja Russa. Mais tarde, sob domínio dos poloneses e subsequente dominação comunista, a Igreja Ortodoxa da Ucrania tornou-se praticamente inexistente. A Igreja Ortodoxa Ucraniana independente, tanto nos Estados Unidos quanto na Ucrânia, veio a existir depois da 1? Guerra Mundial.
Várias centenas de milhares de ucranianos migraram para os Estados Unidos de 1870 até 1914 e muitas das primeiras congregações ucranianas nesse país entraram na jurisdição da Igreja Ortodoxa Russa. Uma grande migração posterior, entre 1945 e 1951, aumentou o número de ucranianos na América.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana na América fez sua primeira convenção em 1931. Congregações consistindo em ex-Uniatas foram acrescentadas às paróquias Ortodoxas Ucranianas e o Reverendíssimo Joseph Zuk foi escolhido como bispo eleito da diocese americana em julho de 1932. Ele foi consagrado em setembro desse ano e serviu como cabeça das Igrejas Ortodoxas Ucranianas na América até sua morte em 23 de fevereiro de 1934.
O Bispo Bohdan Shpilka, que sucedeu o Bispo Zuk, foi consagrado pelo Arcebispo Athenagoras da Igreja Ortodoxa Grega em 28 de fevereiro de 1937. Ele ainda serve como o chefe das Igrejas Ortodoxas Ucranianas Americanas sob o Patriarcado Ecumênico. Tecnicamente, o Bispo Bohdan é um Sufragan (Bispo Assistente) do Arcebispo Grego dentro da jurisdição do Patriarcado de Constantinopla. Existem quarenta e cinco paróquias e missões sob o Bispo Bodhan com a Catedral localizada em Nova York.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana Americana, foi organizada cerca de 1919-1920 como uma igreja independente. Em fevereiro de 1924, o Arcebispo João Teodorovich chegou nos Estados Unidos de Kiev, Ucrânia. Ele foi escolhido Bispo eleito da Igreja Ortodoxa Ucraniana Americana e Argentina. As igrejas ucranianas cresceram em número depois das maciças migrações para a América depois da 2? Guerra Mundial.
Numa convenção havida em 1949 em Allentown, Pennsylvania, o Arcebispo Mstyslaw S. Skrypnik foi eleito o chefe da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América com o Bispo Bodhan como auxiliar (sufragan).
Em outubro de 1950, A Igreja Ortodoxa Ucraniana da América, chefiada pelo Arcebispo Mstyslan S. Skripnik e a Igreja Ortodoxa Ucraniana Americana, chefiada pelo Arcebispo João Theodorovich, juntaram-se para formar a Igreja Ortodoxa Ucraniana dos Estados Unidos da América sob jurisdição independente. O Bispo Bodhan não se juntou a essa fusão e tornou-se chefe das Igrejas Ucranianas que permaneceram sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana dos Estados Unidos, tem sua sede em South Brook, Nova Jersey, e inclui noventa e seis paróquias nos Estados Unidos sob sua jurisdição. O Reverendíssimo Metropolita João Theodorovich chefia a igreja. O Metropolita Dr. Ilarion Ohienko, com sede em Winnipeg, chefia a Igreja Ortodoxa Ucraniana Independente no Canadá.

(O material de texto desse capítulo, exceto a seção sobre a Igreja Grega, é reproduzido de Faith of Our Fathers: The Eastern Orthodox Religion, pelo Reverendo Leonid Soroka, e Stan W, Carlson, publicado pela Olympic Press, 806 N. E. Fourth Street, Minneapolis 13, Minnesota, e com direitos autorais de 1954 por Stan W. Carlson. Esse material fo reproduzido por especial permissão do detentor dos direitos autorais).

19. As Relações da Ortodoxia com o Catolicismo Romano e Protestanismo.

Ataques Papistas à Igreja do Oriente.
A Igreja Romana nunca deixou de sonhar com a sujeição da Igreja do Oriente, e nunca falhou em aproveitar qualquer desordem, independente de onde ocorrese, para sua vantagem. Saudando a queda de Constantinolpla como uma punição divina infligida aos obstinados gregos, ela rapidamente mandou contra os Cristãos do Oriente seus formidáveis jesuítas, que, de 1583 em diante, começaram a aparecer sucessivamente em Constantinopla, chios, damasco, naxos, nauplion, patras, atenas e outros locais. Como se isso não fosse suficiente, e em 1581, o Papa Gregório XIII fundou o Colégio de Santo Atanásio em Roma, onde jovens gregos inteligentes escolhidos em distritos gregos foram levados para Roma para serem educados de acordo com os princípios católico-romanos, e depois enviados de volta, como um outro tipo de Janisários, contra a fé que os havia nutrido na infância. E mais, em 1622, o Papa Gregório XV instituiu sua "propaganda para os descrentes," cujo objetivo como descrito na Bula Papal era "a conversão das nações do Império Turco, uma vez gloriosas e dotadas com admiráveis dons divinos, que agora permanecem mergulhadas em uma situação embrutecida e, tendo caido para o nível de feras selvagens, só continuam a existir para aumentar as multidões do inferno, para maior glória de satan e seus anjos." Diplomacia e suborno, calúnia e coerção, persuasão e dissenção, — essas foram as várias armas empregadas pela despótica Igreja Romana em seus esforços para dominar seus irmãos necessitados.

Papismo em Constantinopla: Cirilo Lucar.
O famoso Cirilo Lucar (1572-1638), o mais progressista e iluminado dos Patriarcas sob o governo turco, foi a mais eminente vítima do ódio não-fraterno de Roma. Lucar, que nasceu em Creta e educado em Veneza e Pádua, foi enviado para a Polônia em 1595 como legado do Patriarca de Alexandria. Lá ele testemunhou a luta que estava ocorrendo entre católicos e ortodoxos e logo constatou tanto a magnitude do perigo ameaçador de Roma quanto o único meio de evitá-lo, — qual seja, colaboração com os Protestantes. Quando, portanto, depois de dezoito anos como Patriarca de Alexandria, ele foi chamado para o Trono Patriarcal de Constantinopla em 1621, e não só manteve correspondência com muitos destacados Protestantes, mas até mesmo, em períodos críticos, recorreu ao auxílio diplomático dos Embaixadores da Inglaterra e Holanda. Mas, enquanto ele estava sendo assistido pelos representantes dos poderes Protestantes, os jesuítas continuaram a combatê-lo com a proteção da França e Áustria Católicas. Em 1627, Lucar fundou a primeira imprensa grega em Constantinopla; mas os jesuítas imediatamente relataram esse fato ao Grande Vizir acrescentando a informação de que a imprensa iria combater o Islamismo, e cento e cinquenta Janizários imediatemente invadiram-na e destruiram-na. Se não fosse pela intervenção do Embaixador Inglês o próprio Cirilo teria sido destruído; mas se ele foi poupado essa vez, foi somente para cair vítima, a seguir, da calúnia dos jesuítas que o acusaram falsamente de conspirar secretamente com os cossacos para conseguir a revolta dos gregos contra os turcos. Pela quinta e última vez, ele foi deposto de seu trono, e após embarcar para ostensivamente ser levado para o exílio, foi afogado por seus guardas nas águas de Bósforo. O assassinato de Lucar, pelo qual, de acordo com Ricaut, Roma pagou a soma de 30.000 coroas, permanecerá sempre como um estigma indelével no Papado.

Papismo na Palestina e na Síria.
A conduta dos católicos-romanos em outros centros da ortodoxia não se diferenciou muito do seu comportamento em Constantinopla. Na Palestina, aonde eles não possuíram direitos até o século dezesseis, quando o Patriarca Doroteus (1493-1534) concedeu-lhes um mosteiro como favor, eles não perderam tempo em iniciar suas maquinações. Assim, sob o Patriarca Sofronius (1579-1608), nós os vemos oferecendo aos turcos seis mil florins, por intermédio do Embaixador Francês, para expulsar os Ortodoxos do calvário e da gruta; vai daí, Sofronius, para preservar seus direitos sobre os Sagrados Santuários, foi obrigado a oferecer aos turcoso dobro da citada quantia. Em 1633, no reinado do Sultão Murad, outro atentado similar ocorreu, acompanhado de um touro-forjado em ouro, e outros pródigos presentes para o Sultão e Vizir; e esse atentado tambem não teve sucesso pois a trama foi descoberta; mas os papistas nunca cessaram de fazer outras demandas, até que em 1847 conseguiram a restauração do Patriarcado Romano que por um curto período havia sido estabelecido durante as cruzadas. A mesma política foi seguida pelos Papistas na Síria; onde na primeira metade do século dezoito eles manobraram para derrotar dois Patriarcas nativos de Antioquia, Cirilo e Serafim, e fundaram o Patriarcado dos "greco-melquitas." Até hoje colégios jesuítas, prodigamente sustentado por subscrições da França, continuam a alimentar a propagação do Catolicismo Romano.

Papismo na Rússia e em Países Menos Distantes.
Graças as atividades dos jesuítas, a ortodoxia tambem foi perseguida no sul da Rússia, quando uma falsa união com Roma foi declarada em Brest em 1594, quando dois apóstatas russos, Potzeus e Terleski, viajaram para Roma e beijaram o pé do Papa, pleiteando que faziam isso em nome de todo corpo da Igreja Russa. Não só ali, mas na Rússia Vermelha, Volhinia, Lituania e Galícia, tambem, os ortodoxos foram impiedosamente perseguidos pelos católicos. E se a ira romana foi tão longe, pode-se facilmente imaginar como Roma se comportou com os Cristãos Ortodoxos em países mais próximos dela. Nas Ilhas Iônicas, ela não permitiu Bispos Ortodoxos, mas somente padres, que eram obrigados a estarem presentes nos entronamentos e funerais de Bispos Católico-Romanos. A colonia ortodoxa em Veneza, que tinha fugido para ali na queda de Constantinopla, foi proibida de ter sua própria igreja até 1553, quando a República de Veneza, por razões comerciais, deu a ela a permissão necessária. Os habitantes Ortodoxos da Hungria, Eslavônia e Croacia, que tinham migrado para ali da Trácia, Tessália e Grécia em 1687, foram autorizados pelos jesuítas a usar sua própria língua e seus ofícios mas forçados a reconhecer a supremacia Papal; enquanto os greco-italianos da Calábria, Sicília, Toscana e Genebra foram gradualmente absorvidos pela Igreja Romana por meio da jesuítica "accomodatio."

A Unia Papal na Grécia de Hoje.
Até os dias de hoje, os Papistas perseveraram no uso dos mesmos métodos, apesar de sua comprovada futilidade; e a "Unia" é na verdade sua mais querida arma de ataque. Padres católicos de diferentes nacionalidades, que adotaram nomes gregos e se vestem como o clero grego, aparecem no meio de Atenas, e tentam se passar como padres Ortodoxos. Suas igrejas são impecavelmente bizantinas em estilo; seu ritual é tambem bizantino, e a língua litúrgica o grego dos Evangelhos. Somente em um ponto (ao menos até o presente), eles diferem dos costumes gregos: eles comemoram o nome do Papa em suas orações, como Supremo Sumo Sacerdote e Pontífice. Esses falsos padres gregos são prodigamente pagos por Roma, e gastam tambem prodigamente, especialmente entre os refugiados indigentes, a quem particularmente se apresentam como Ministros da Igreja Ortodoxa Grega, e a quem tentam atrair oferecendo-lhes auxílio pecuniário. Mas o Deus dos justos seguramente nunca fará prosperar com suas bençãos, tais esquemas tortuosos. A Igreja Ortodoxa oficial do país, fazendo uso de livros, sermões e vários outros meios, nunca cessou de denunciar a seu rebanho esses lobos em pele de cordeiro; e as recentes circulares publicadas por Anthimus VI, Patriarca de Constantinopla, Basílio, Metropolita de Smirna e Crisóstomo Papadopoulos, Arcebispo de Atenas, são particularmente impressionantes. Para proteger seus filhos dos Papistas convertidos, que intencionalmente divulgam que não há diferenças entre o catolicismo-romano e a ortodoxia, a Igreja Ortodoxa dos últimos séculos foi compelida em auto-defesa, insistir no re-batismo de todos aqueles que voltam a ela do erro Papal. Infelizmente, Roma não tem intenção de mudar sua atitude para com as Igrejas do Oriente; pois os elementos Cristãos de igualdade e amor são inteiramente estranhos ao seu sistema imperialista. Pernot nos assegura que, durante a recente guerra, o Vaticano orou pela vitória dos turcos (no original francês: c'est pour les Turques qu'il faisait les voeux), porque "do ponto-de-vista do Vaticano, é preferível que apareça sobre o domo de Santa Sofia o Crescente Turco do que a Cruz Grega."

A Primeira Carta Protestante.
Assim como o século onze viu a divisão da Igreja Una de Cristo na Igreja do Oriente e do Ocidente, o século dezesseis testemunhou a ruptura da Igreja do Ocidente em Igrejas Romana e Protestante. A corrupção da fé e da moral que invadiu o romanismo, a decadência intelectual do clero romano, e o absolutismo do Papa, que usava uma tripla tiara para demonstrar seu domínio sobre os assuntos terrestres, celestes e infernais, — essas foram as causas que inspiraram os três grandes reformadores, Lutero, Calvino e Zwingli, a protestar contra a Igreja de Roma, e a levantar contra ela metade da cristandade ocidental. Completamente engajados em manter sua longa batalha com espada e pena, esses homens não tiveram tempo para pensar na escravizada igreja do oriente, que, muito antes deles, tinha levantado sua voz em protesto contra a arrogância de Roma. Um deles, no entanto, lembrou-se da ortodoxia; esse foi Melanchthon, um dos primeiros companheiros de Lutero, que ao encontrar Demetrius Mysos, que estava de partida para Constantinopla, em Wittenberg em 1559, confiou-lhe uma carta para o então Patriarca, Joasaph II. Em sua carta ele agradece a Deus que no meio de tão grande multidão de inimigos ímpios e abomináveis, ele tivesse preservado para sí um rebanho que corretamente louva e clama por Seu Filho Jesus Cristo; e assegura ao Patriarca que os seguidores da Reforma também "devotamente observam as Sagradas Escrituras, os Canons dos Santos Concílios e os ensinamentos dos padres gregos, enquanto eles abominam a tagarelice, superstição e doutrinas desenvolvidas pelos latinos incultos.

Os Teólogos de Tubingen, os Protestantes da Polônia e a Confissão de Cirilo Lucar.
Melanchthon não recebeu resposta de sua carta. Quando, no entanto, em 1574, os professores de Tubingen, Martin Crusius e Jacob Andrew, escreveram ao Patriarca de Constantinopla, Jeremias II, enviando para ele a Confissão de Augsburg, que foi a primeira exposição formal do Protestantismo. Jeremias respondeu com dignidade e sinceridade, iniciando assim uma importante troca de correspondência, no curso da qual o Protestantismo foi, não obstante, criticado em muitos pontos por não manter o passo com a verdade. Em 1600, o locum-tenens do Trono Ecumênico, Meletius Pegas, respondeu de modo similar aos Protestantes da Polônia, que estavam sofrendo uma comum perseguição com os Ortodoxos nas mãos dos jesuítas, e que, depois do Sínodo de Vilna, propuseram uma união eclesiástica entre eles. "A união de opostos entre si" — (assim segue a resposta feita por Meletius) — "É de ser desejada com devoção, mas o Protestanismo e a Ortodoxia diferem entre si em pontos essenciais. No entanto, amemo-nos uns aos outros, e não percamos a esperança." Mas um curso inteiramente diferente, parece que foi procurado pelo anteriormente citado Grande Patriarca, Cirilo Lucar, que estava favoravelmente disposto para com as idéias dos reformadores. Ele colaborou com os Protestantes contra os Papistas; manteve uma amistosa correspondência com vários protestantes, incluindo George Abbot, o Arcebispo de Canterbury, lamentando com ele os sofrimentos gregos; despachou o precioso "Codex Alexandrinus" para Charles I da Inglaterra em 1628, como um agradecimento por seu resgate dos janizários; e enviou Metrophanes Critopoulos em Oxford com grandes despesas. Alem de tudo isso, é dito que produziu e publicou uma Confissão, na qual ele aceita as crenças calvinistas; mas nesse ponto a evidência é confusa. Em dois de seus Sínodos, o primeiro em Constantinopla em 1638 e o segundo em Jassy em 1642, a Igreja Ortodoxa denunciou essa Confissão como tendente ao calvinismo, sem, no entanto, associá-la com a pessoa de Cirilo Lucar; e quem sabe se tambem nesse ponto, Lucar teria sido vítima de tramoia?

Missionários Protestantes.
Não foi muito antes do protestantismo começar a se rachar numa multidão de heresias, devido parcialmente à sua falta de unidade no dogma e no comando, e parcialmente devido à interpretação das Escrituras de acordo com as luzes de cada homem, que representantes dessas seitas heréticas, particularmente da América, começaram a visitar a Grécia por volta de 1810; e outros chegaram logo depois da Revolução, com o objetivo de ajudar os gregos no seu despertar nacional e espiritual. Alguns deles abriram escolas, que eram a gritante necessidade daquele tempo, e outros distribuiram livros ou deram cópias das Sagradas Escrituras ou no texto original ou em traduções para o grego moderno. Os gregos, no início, receberam isso sem suspeita como um presente dos seus benfeitores; e certos Patriarcas de Constantinopla, como Cirilo VI em 1814 e Gregório V em 1819, aplaudiram a propagação das Escrituras e louvaram as traduções para o grego popular como sendo de grande benefício para o povo. Mas quando os missionários protestantes começaram a revelar suas secretas intenções de tentar conseguir conversões, e distribuir pequenos volumes ofensivos aos sentimentos ortodoxos, geraram a inimizade da nação e imediatamente tornaram-se impopulares, sendo suas Escrituras usadas como material para fogueiras populares. Os gregos que haviam sofrido tanto pela preservação de sua fé, estavam agudamente sensíveis a qualquer ataque a ela. Eis aí o porque de, depois de mais de um século de atividade na Grécia, o Protestantismo não pode apontar hoje como conquista mais do que um punhado de "Evangélicos" em Atenas e outras localidades.

Anglicanos e Ortodoxos.
As relações entre as Igrejas Ortodoxas e Anglicanas são completamente diferentes, pois os anglicanos, somente eles entre os vários ramos do protestantismo, tanto reconhecem as três ordens do Sacerdócio como mais ou menos louvam a Sagrada Tradição. Como já notamos, relações foram estabelecidas entre Ortodoxos e Anglicanos primeiramente no tempo de Lucar. Foram renovadas no século dezoito, quando os non-jurors (a seção da Igreja Anglicana que se recusou a fazer o juramento de lealdade a George I da Inglaterra) submeteu um plano de união com as Igrejas do Oriente aos Patriarcas do Oriente. Mas foi particularmente de 1869 em diante, que anglicanos e ortodoxos começaram a se aproximar, quando o Patriarca de Constantinopla, Gregório VI, depois de receber com grande satisfação cartas de Campbell, Arcebispo de Canterbury, em favor da união, mandou uma carta encílica a seu clero, orientando-os a sepultar membros da Igreja Anglicana, na ausência de Ministros Anglicanos, e despachou o erudito Arcebispo de Syra, Alexandre Lycurgos, para a Inglaterra, para fortalecer os elos entre as duas igrejas. Desde então, bispos Anglicanos tem visitado mais de uma vez as Igrejas do Oriente, como João de Salisbury em 1898, o presente Bispo de Londres no começo da Guerra Mundial, e o atual Arcebispo de Canterbury, Cosmo Lang, que foi benvindo em Atenas no último ano. Bispos da Grécia, Rússia, Sérvia e outros países, não esquecendo o Patriarca Photius de Alexandria e Damianos de Jerusalem, visitaram a Inglaterra em troca, e juntaram-se aos anglicanos em solenes orações na Catedral de São Paulo e na Abadia de Westminster. Um grande passo adiante na relação entre as duas igrejas foi dado no verão de 1930, quando patricamente todas as Igrejas Ortodoxas mandaram seus representantes para a Conferência de Lambeth, sob a liderança do atual empreendedor e progressista Patriarca de Alexandria, Meletius Metaxakis, para discutir e levantar termos de união. Essa amizade entre anglicanismo e ortodoxia é devida em primeiro lugar ao reconhecimento pela Igreja Ortodoxa da validade das ordens anglicanas, que sempre foram questionadas pela Igreja de Roma; em segundo lugar, pela abstenção na Igreja Anglicana de esforços para converter Ortodoxos; e terceiro, pela troca de cartas de paz em ocasiões cerimoniais. As Igrejas Ortodoxa e Anglicana diferem entre si em pontos de dogma, e uma união sacramental entre elas é no momento uma possibilidade ainda remota. A diferença de crença, que caracteriza um igreja, é incompatível com a uniformidade da fé, professada pela outra. Mas por mútuo interesse que elas tem, e pela natureza fraterna de suas relações externas, Anglicanismo e Ortodoxia estão seguindo o caminho que todas as igrejas separadas deveriam seguir para o eventual atingimento de completa e católica unidade.

20. Literatura Teológica.

Literatura Teológica Após a Queda de Constantinopla.
A literarura teológica na Igreja Oriental e Apostólica Ortodoxa de língua grega, naturalmente, não revela o mesmo progresso que marcou os primeiros periodos. O saber floresceu mais em territórios livres; e os tempos em que um monge aqui e outro acolá mal e mal conseguia juntar poucos jovens à noite no pórtico da igreja, para ensinar-lhes os Oito Tons da Igreja e o Saltério, dificilmente seriam propícios para pesquisa erudita. Ainda assim, o amor pelo saber não abandonou inteiramente o clero grego. De um lado, alguns poucos centros de estudo, tais como a "Escola Patriarcal da Nação" em Constantinopla, que sucedeu a "Escola Filosófica do Patriarcado" antes da queda, continuaram a funcionar, apesar da dificuldade em florescer; e de outro lado, alguns poucos homens escolhidos foram afortunados o suficiente para prosseguir seus estudos na Europa, especialmente nas cidades de Veneza, Pádua, Pisa e Florença, então famosas como centros eruditos, e foram então capacitados a no seu retorno para casa, a transportar a tocha do saber. Do século dezessete em diante, escolas públicas começaram a serem fundadas entre os gregos, com as de Athos, Patmos, Salônica, Castoria, Cozani, Janina, Moschopolis, Cydonia, Smyrna, Trebizond, Bucarest e Jassy, onde notáveis eruditos, em sua maioria clérigos, prepararam o caminho da independência do século dezenove, e através dela, a simultanea renascença científica e teológica do oriente Ortodoxo. Literatura Eclesiástica subsequente à queda de Constantinopla, portanto, existe, e é testemunhada por suas produções que eram circuladas em impresso, ou permaneciam em manuscrito em várias livrarias. Enumeraremos a seguir algumas peças representantes dessa literatura, tratando de cada século em sucessão.

Eruditos dos Décimo Quinto e Décimo Sexto Séculos.
Gennadius Scholarius (+ 1460) foi o primeiro Patriarca após a queda de Constantinopla, cujo saber iluminado, foi como um cometa na escura noite da escravidão que sucedeu a queda. Seus trabalhos que agora estão sendo publicados na íntegra pela primeira vez, preenchem dez grossos volumes; notáveis entre eles são aqueles dirigidos contra os latinos, sua refutação dos erros do judaísmo, e seu diálogo com Mohamed II. Matthew Camariotes, que foi um contemporâneo de Scholarius, foi apontado por ele como chefe da Escola Nacional do Patriarcado. Ele compos uma Exposição do Credo, e uma patética "Monodia," lamentando a queda de Constantinopla. Manuel o Peloponeso (+ 1551), que era um encarregado de registros (como cartório de hoje em dia), e orador do Patriarcado Ecumênico, é o autor de uma refutação dos argumentos de Friar Francisco, de um trabalho sobre Marcos de Éfeso, e tratados contra Gemistus e Bessarion, e contra o Purgatório. Maximus, o Hagiorita, o Grego (+ 1556), foi convidado para ir à Rússia pelo Príncipe Basílio em 1518, para revisar os livros eclesiásticos russos, como vimos anteriormente. Ele escreveu contra a Reforma, os judeus, os pagãos e os islâmicos. Jeremias II, Patriarca de Constantinopla (+ 1595), fez-se famoso por sua correspondência com os teólogos Luteranos de Tubingen, que manteve com a colaboração do chefe da Escola Patriarcal, João Zigomara. Meletius Pegas (+ 1603), Patriarca de Alexandria, foi um estudante de latim, hebreu, siríaco e árabe. Entre outras coisas ele compos uma Doutrina Ortodoxa. Maximus Margunius (+1602), Bispo de Cerigo, era tanto poeta quanto escritor de prosa, helenista e latinista. Uma de suas obras foi o Diálogo entre um Grego e um Latino.

Eruditos do Décimo Sétimo Século.
Durante o século dezessete, particularmente, os seguintes homens se distinguiram: Gabriel Severus (+ 1616) foi, de 1577 em diante, o primeiro bispo dos gregos em Veneza, sob o título de Bispo de Filadelfia. Ele escreveu um tratado sobre os Sacramentos, uma exposição contra aqueles que dizem que as crianças do Oriente são cismáticas, e várias outras obras. George Koressios (+ 1633) foi um teólogo e doutor, que escreveu sobre Sacramentos sobre Transubstanciação, sobre Predestinação, sobre graça e livre arbítrio, sobre a Precessão do Espírito Santo, etc. Maximus Callipolites (+ 1637) foi o primeiro a traduzir o Novo Testamento para o grego moderno. Cirilo Lucar (+ 1638), o ilustre Patriarca e mártir, é o autor de vários curtos trabalhos polêmicos contra os católicos-romanos, um compêndio contra os judeus, e (como é geralmente acreditado) uma confissão da fé Cristã, que gerou grande oposição por suas tendências calvinistas. Metrophanes Critopoulos (+ 1641) que estudou em Oxford e na Alemanha, e mais tarde se tornou Patriarca de Alexandria, compos a confissão da Igreja Oriental conhecida em seu nome. Peter Mogila (+1647), Metropolita de Kiev na Rússia, e um Vlach por descendência, compos um confissão para proteger seu rebanho contra os erros de crença romana e protestante. Ela foi expandida mais tarde e aperfeiçoada pelo erudito cretense Meletius Syrigos (+ 1662), sendo então contra assinada para dar maior validade, pelos Patriarcas do Oriente, e assim tornou-se a Exposição oficial da Fé Ortodoxa. Nicolas Kerameus (+ 1672), um doutor e erudito, é o autor de um trabalho intitulado "o pecado daqueles que caluniam a una e única Igreja Católica." Nectarius de Jerusalem (+ 1676) escreveu Refutação da Supremacia Papal, cheio de pesados argumentos e largo saber, do qual muitos escritores posteriores tomaram partes emprestadas livremente. Dositeos de Jerusalem (+ 1707) que foi Patriarca por trinta e oito anos, compos, entre outros trabalhos, a História dos Patriarcas de Jerusalem.

Eruditos do Século Dezoito.
Aqui estão os nomes dos que mais se distinguiram entre os eruditos do século dezoito: Elias Meniates (+ 1714), Bispo de Kalavryta, Grande Cisma. Meletius de Atenas (+1714) compos trabalhos sobre astronomia, geografia e retórica, mas ele é famoso principalmente por sua História da Igreja. Seus irmãos Joanico e Sofrônio Leihoudae (+ 1717 e 1730) foram ambos padres que, após frutíferos ministérios em vários centros do helenismo, foram para a Rússia a convite do Tsar Teodoro e fundaram a Academia de Moscou, onde eles próprios ensinaram literatura, filosofia e teologia. Os irmãos Leihoudae revisaram as Escrituras Eslavônicas, e tambem escreveram vários trabalhos em defesa da fé Ortodoxa. Chrysanthos de Jerusalem (+ 1731) deixou-nos uma história e descrição da Terra Santa, e um pequeno mas valioso trabalho sobre ofícios eclesiásticos. Eustratius Argentes (+ 1760), um culto doutor, escreveu trabalhos teológicos, entre os quais um tratado sobre pães não fermentados que é notável por seu grande saber e justo julgamento. Eugenius Bulgaris (+ 1800), que foi o chefe das Escolas de Janina e Athos, e mais tarde foi promovido por Catarina II ao Arcebispado de Eslavônia e Kherson, foi o maior e mais erudito dos clérigos gregos modernos. Ele falava e escrevia dez línguas e traduziu os versos de Virgílio em versos Homéricos e introduziu a moderna filosofia na Grécia. Ele tambem editou os trabalhos completos de Theodoreto, traduziu a obra de Zoernikau sobre a Precessão do Espírito Santo, e é o autor de uma Confissão Ortodoxa, Recado para a Tolerancia, Teologia Dogmática, Primeiro Século desde a Encarnação de Cristo, Conversas Pias, etc. Nicephorus Theotokis (+ 1800), que sucedeu Eugenius como Arcebispo de Eslavônia, antes de ser transferido para Astrachan, rivalizou com seu predecessor em seu conhecimento de teologia, filosofia e física. Entre outras obras, publicou uma cadeia de notas comentando o Pentateuco; e seus cursos de Domingo, nos quais interpreta num belo grego moderno as passagens de Epístolas e Evangelhos indicados para cada Domingo, ainda são extremamente populares. Anthimus de Jerusalem (+ 1808) compos uma Syntagma de teologia e um comentário sobre os Salmos. Nicodemos o Hagiorita (+ 1809) foi um monge estudioso, cuja pena foi responsável por muitas obras em hagiografia, ascetismo, misticismo, liturgias, lei canônica e exegesis prática. Ele escreveu comentários sobre as Epístolas Católicas e sobre os Salmos, a Nova Martirologia, A Batalha Invisível, Exercícios Espirituais, A Excelência de um Cristão, O Livro de Confissão, etc.; mas seu trabalho mais importante é o Rudder (leme) da Igreja Ortodoxa, que contem todos os cânons sagrados junto com um comentário sobre cada um deles.

O Século Dezenove.
O século dezenove marca um último e notável passo adiante. Até então, o saber sagrado, havia vagado pelo Oriente errante e sem lar; mas o retorno da liberdade forneceu habitações permanentes de novo. Tão cedo quanto 1810, o nobre inglês Wildford, um amigo da Grécia e da Ortodoxia, fundou, para benefício dos gregos, a Academia Iônica de Corfú, que foi na verdade um inestimável serviço para os gregos. Em 1837, a cidade da moderna Atenas adquiriu sua Universidade, na qual sérios eruditos ensinaram teologia. Em 1844, o Patriarcado de Constantinopla fundou a Escola Teológica em Halki para o treinamento científico de futuros bispos; e seu exemplo foi seguido em 1853 pelo Patriarcado de Jerusalem, que fundou a Escola Teológica da Cruz. Em torno desses principais centros, outros menores surgiram. O Estado Grego e a Igreja providenciaram boa escolaridade para capacitar alunos bem sucedidos a ir para a Alemanha, onde se especializaram em certos ramos de estudo, e retornaram para a Grécia para transmitir os últimos resultados da ciência teológica como palestrantes ou professores. Essa prática foi seguida não só pelos ortodoxos de língua grega, mas tambem pelos ortodoxos romenos, sérvios, búlgaros; pois eles, tambem, adquirindo independência nacional, providenciaram universidades e escolas teológicas; e mandaram seus graduados para o exterior, especialmente para a Rússia, para completar seus estudos. Pois antes do cataclismico advento do bolchevismo, a Rússia exerceu uma grande atração sobre os povos Ortodoxos dos Balkans, especialmente sérvios e búlgaros, não só porque compartilhava a mesma fé, mas tambem porque do ponto-de-vista do ensinamento religioso, tinha atingido um invejável estado de desenvolvimento, mantendo quatro excelentes academias teológicas e possuindo um amplo quadro de professores capazes e trabalhadores treinados. Hoje, no entanto, as academias fecharam, enquanto seus professores, alguns estão ensinando no exterior como o eminente teólogo Nicolas Glubakovski, que agora é um professor na Universidade de Sofia, enquanto outros se congregaram em Paris e ali fundaram, como medida temporária, o Instituto de Estudos Russos. O século dezenove, com todos os seus eventos, deu um novo impulso para a Teologia Ortodoxa tanto em amplitude quanto em profundidade; — em amplitude, porque os escritores teológicos não mais se confinaram, como anteriormente, a obras puramente polêmicas, mas abraçaram todos os ramos da Teologia; — e em profundidade, porque pesquisa histórica e crítica foi daí para a frente reconhecida como o único método confiável. Eis aqui, de novo, alguns dos nomes mais proeminentes.

Eruditos do Século Dezenove e Vinte.
Constantino Oeconomos (+ 1857), distinguiu-se como um eloquente pregador e um excelente helenista. É o autor de muitas obras, mas é mais famoso por seu bem conhecido livro sobre o Septuaginto, no qual ele apóia o texto grego, sem, no entanto, deixar de por uma certa medida de exagero. Theocletus Pharmakides (+ 1860), professor da Escola Iônica em Corfú, e mais tarde na Universidade de Atenas, foi um oponente liberal do conservador Oeconomos. Antes que os missionários tivessem revelado seus reais desígnios, ele deu apoio as traduções das Escrituras em grego moderno, e tambem exerceu considerável influência no desenvolvimento do governo eclesiástico na Grécia. Entre outras obras literárias, publicou uma edição do Novo Testamento, anotada copiosamente. Dionysius Cleopas (+1861), que foi professor primeiro na Escola da Cruz em Jerusalem, e depois na Universidade de Atenas, discutiu as críticas conclusões de Oeconomos. Seu melhor trabalho é uma edição do Catecismo de Cirilo de Jerusalem, com muitas anotações eruditas. Andronicus Demetracopoulos (+ 1872), padre da comunidade grega em Leipzig, devotou-se a descoberta e publicação de códigos gregos não publicados que jaziam escondidos nas livrarias da Europa. Constantino Contogones (+ 1878), um erudito e devoto professor na Universidade de Atenas, publicou uma Arqueologia Hebraica, Introdução as Escrituras, uma História Eclesiástica Patrística. Ele tambem foi o editor-chefe do Gospel Herald, a primeira realmente séria revista a ser publicada na Grécia. Nicolas Damalas (+ 1892), professor da Universidade de Atenas, trabalhou principalmente como comentador, e deixou uma Introdução ao Novo Testamento e uma edição anotada dos três Evangelhos Sinópticos. Nicephorus Calogeras (+ 1896), escreveu entre outras coisas, Teologia Pastoral, e editou o que estava em manuscrito, o Comentário de Zigabenus sobre as Epístolas de São Paulo. John Scaltsunes (+ 1904), foi um estudante de leis, mas tambem um excelente apologista Cristão, como pode ser visto pelos seus trabalhos sobre As Harmonias entre Cristianismo e Ciência, Estudos Psicológicos, e outros. Philoteos Bryennios (+1918), foi professor na Escola Teológica de Halki e mais tarde Metropolita de Nicomedia. Descobriu e editou as Epístolas de Clemente de Roma, e o Ensinamento dos Apóstolos. Anastasius Kiriacos (+1923), professor da Universidade de Atenas, deixou como sua obra principal uma História Eclesiástica em Três volumes. Apóstolos Christodoulos (+ 1914), professor e diretor da Escola Teológica de Halki, deixou-nos livros sobre Patrística e Lei Canônica. Entre escritores vivos, devemos mencionar Manuel Gedeon como uma grande autoridade em assuntos bizantinos, Basil Antoniades como um culto comentador e moralista, Gregório Papamichael como um amplamente lido apologista e Chrisóstomo Papadopoulos, uma vez diretor da Escola da Cruz e agora Arcebispo de Atenas, como um historiador sem rival e um autor assustadoramente prolífico.

21. Vida Cristã e Louvação.

Os Pecados dos Cristãos Escravizados.
Existe um lado escuro e feio na vida moral do Ortodoxo sob o conquistador turco "Os judeus cativos (escreveu Ypsilantes, o autor de Eventos após a Queda) constataram que sua servitude fora o resultado de sua revolta contra o Senhor, e então eles se sentaram junto ao rio da Babilônia e choraram arrependidos de seus pecados. Mas os gregos, mesmo após todos os males de sua servitude. ainda estão impetinentes." E um por um ele descreve no seu livro os defeitos de seus companheiros-compatriotas. Inveja e ódio de uns pelos outros não eram infrequentes. Alguns elementos do clero não hesitavam em intrigar seus companheiros com os turcos, para apossar-se de seus sapatos. outros compravam o cargo de bispo com simonia; muitos imitavam seus governantes não só na sua arrogância interior, mas na sua demonstração exterior de luxuria no vestir. Os púlpitos estavam quase sempre vazios, devido à prevalecente ignorância do clero, e à supertição reinante entre o povo. Porque os turcos olhavam para os Cristãos meramente como propriedade da qual deveria ser extorquida a maior soma de dinheiro possível, os própios Cristãos passaram a ter idéia-fixa pelo dinheiro acima de tudo uma faceta característica dessa adoração pelo dinheiro era o caçar-dote, o que causou que muitas jovens que perderam fortuna permanecessem sem casar; e a voz da igreja estava o tempo todo elevada denunciando esse escândalo, ameaçando os caçadores-de-dote de excomunhão. Pois nesses dias era só por meio da bárbara e medieval arma da excomunhão que essas almas errantes poderiam ser induzidas a retornar a seus sentidos.

As Virtudes dos Cristãos Escravizados.
Porém, se nós nos virarmos para o lado brilhante da pintura, que santidade andou lado a lado com essas grandes aberrações! As casas de oração estavam lotadas; e jejuns e outras injunções eclesiásticas eram observados estritamente. Caridade era uma obrigação natural. Os Cristãos frequentemente coletavam dinheiro entre sí para libertar prisioneiros ou aqueles que estavam mantidos injustamente nas prisões; e por séculos seus centavos mantiveram hospitais, orfanatos e escolas, ao passo que o Estado Islâmico, longe de ajudá-los, só os atacava como inimigos. A esse profundo espírito de caridade muitas instiutições deveram sua fundação, — os hospitais de Smyrna em 1745, de Adrianópolis em 1752, de Constantinopla em 1753, de Brousa em 1808, o Leprosário de Creta em 1818, o hospital de lepra de Chios em 1830, o orfanato de Constantinopla em 1853, e muitos mais, que foram seguidos mais tarde por outros mais perfeitos e numerosos estabelecimentos de caridade dada a generosidade de grandes benfeitores nacionais. E se nós considerarmos o assentamento de 1.500.000 refugiados, que após a recente catástrofe na Ásia Menor, chegaram sem um tostão no país atacado de pobreza, a Grécia, e que foram imediatamente recebidos e protegidos como irmãos, devemos prontamente reconhecer que o espírito de Cristo ainda está vivo e ativo na Igreja do Oriente.

Missionários e Mártires Ortodoxos nos Tempos Modernos.
A mesma coisa deve ser dita sobre o zêlo missionário da Igreja Ortodoxa, que historiadores europeus consideram como não-existente. E não estou me referindo as missões Ortodoxas russas dos séculos dezoito e dezenove na Sibéria, China e Japão, que refletem um grande crédito à Igreja Ortodoxa. Nem irei tão longe a ponto de dizer que a alvorescente civilização dos turcos deve não pouco ao longo contato com os ortodoxos, e a influência silenciosa desses, neles. Mas eu me refiro especialmente a aqueles bispos e cléricos gregos de todos os níveis que nos mais escuros dias visitavam as províncias Cristãs, e, com suas vidas em risco, construiram igrejas, fundaram escolas, salvando assim a fé que estava ameaçada de extinção. Um desses, Cosmas de Aetolian, conseguiu fundar duzentas e dez escolas em Épiro, Macedônia e Grécia, antes que sua cabeça fosse cortada finalmente, pela espada do executor turco. Enquanto seus lábios murmuravam as palavras do Salmista: "Passamos pelo fogo, pela água, mas trouxeste-nos a um lugar de abundância" (66:12). Admiramos os missionários que pregaram Cristo entre povos selvagens e sofreram martírio pela fé Cristã. Mas os turcos daqueles dias eram menos selvagens que os hottentots e Kaffirs, quando não poucos Ortodoxos sofreram martírio no império turco por Jesus Cristo e Seu Evangelho? Os mártires modernos do Oriente são uma legião, e sua longa procissão estende-se desde a queda de Constantinopla, quando Mohamed o Conquistador assassinou as crianças de Notaras uma por uma diante dos seus pais moribundos, que clamavam a cada cabeça que caia: "Justo és, ó Senhor, eretos são os Teus juízos!" (Salmo 119,137), até o último Metropolita de Smyrna, Chrisóstomo, a quem em 1922, Nuredin Pasha, após inundar Smyrna com sangue Cristão, entregou à multidão turca enfurecida para ser estraçalhado em pedaços.

A Montanha Santa.
A vida monástica continuou a florescer durante os últimos séculos, e proveu a igreja perseguida com clérigos zelosos e destemidos. Seu principal centro permanece até hoje na Montanha Santa ("Hagion Oros") como habitualmente é chamado de Monte Athos que é o lar de cerca de 5.000 monges, na maioria gregos, mas com um certo número de russos, romenos, sérvios, búlgaros e georgianos. Estão distribuidos em vinte mosteiros, doze sketes, duzentas e quatro celas, e várias outras hermitages isoladas, e são governados como uma confederação por uma "Comunidade" de vinte membros, cada um dos quais representando um dos vinte mosteiros. A comunidade tambem reconhece o Patriarca de Constantinopla como seu chefe supremo, e aceita duas decisões, Tão cedo quanto 1749, a "Escola Atonita" foi fundada para a educação dos monges hagioritas, e foi composta com excelentes professores tais como Neophytos Kausokalybetes e Eugenius Bulgaris. Hoje, no entanto, está quase inativa; pois com algumas exceções passadas e presentes, os monges infelizmente, não tem amor pelo aprendizado, e limitam suas atividades à oração, agricultura e trabalhos manuais leves.

Outros Centros Monásticos.
Outro centro de vida monástica menor que o Monte Athos é o que fica do Monte Sinai, esses mosteiro data do século seis, quando foi fundado por Justiniano o Grande. Essa irmandade é governada por um abade, que é tambem um Arcebispo autônomo, e que só deve sua sagração ao Patriarca de Jerusalem. O Patriarcado de Jerusalem deve ele próprio ser considerado um centro de vida monástica; pois a fraternidade do Santo Sepulcro, que o controla, é nada menos que um corpo de monges, vivendo em vida comunal e reconhecendo o Patriarca como seu abade. Outros mosteiros, notáveis por sua perseverança na fé, ricas bibliotecas, e por suas lutas pela independência nacional, foram, durante os séculos passados e em alguns casos continuam a ser os de Meteora na Tessália, de Eikosiphoenissa na Macedônia, o de Sumela em Pontus, o do Theologos em Patmos, o da Santa Trindade em Halki, onde a Academia Teológica do Patriarcado Ecumênico está funcionando; e o da Santa Virgem, tambem em Halki, no qual a Escola de mercadores gregos costumava estar estabelecida, e muitos outros e assim como nas localidades de língua grega, tambem na Romenia e regiões eslavônicas muitos conventos e mosteiros similarmente floresceram, ou ainda estão florescendo, extendendo hospitalidade a todos, e oferecendo um porto seguro para muitos naufrágios da vida. Mas os poderes seculares não olham favoravelmente para esse modo de vida, e tem gradualmente mas firmemente seguido o curso de fechar mosteiros e confiscar suas propriedades. Essa prática foi iniciada pelo governo grego ainda em 1833, e encurtou severamente a lista de 250 mosteiros que até então existiam na Grécia. O Governo Romeno fez a mesma coisa, quando em 1862, através de Couza, ele confiscou as propriedades que a Terra Santa e outras instituições sagradas tinham na Romênia; e uma política similar foi adotada pela Rússia Tsarista, que em 1876 pos as mãos em propriedades, que mosteiros gregos tinham no Cáucaso e outros locais da Rússia. Deve ser admitido, no entanto, que apesar de todos os serviços que prestou no passdo, o monasticismo da Igreja Oriental está agora como um fenômeno fora-de-moda, e pede por reforma para linhas mais práticas e sociais.

Arte Eclesiástica.
Se algum progesso foi conseguido na arte eclesiástica durante os séculos recentes, é no poderoso Império Russo do Tsar que devemos procurar. Foi principalmente na Rússia que magníficas igrejas continuaram a serem construídas, ainda na base dos estilos transplantados de Bizâncio, mas influenciado por elementos das artes italiana, polonesa, georgiana e persa. Campanários encimados por uma corôa, e peculiares torres abobadadas decoram essas igrejas, que internamente são adornadas por ícones, muitos deles parcialmente encubertos por metais preciosos, mas muitos revelando sua arte nua e cheia de expressão de uma paixão mística. Dentro delas, tambem o canto dos corais soam em ricas, complexas e comoventes harmonias, combinando acordes da velha música com a música moderna, polifônica da Europa. Mas no oriente escravizado, o oposto era o caso. Lá o conquistador não permitia a construção de igreja importantes; e por um longo período até mesmo proibiu o reparo das antigas. Ele se recusava a deixar a Cruz aparecer no tôpo das igrejas, e não permitia o toque de sinos e canto-coral público. Os Cristãos do Oriente de modo algum diferiram daqueles que nos primeiros séculos do Cristianismo, costumavam louvar seu Salvador em cavernas e catacumbas. Só no começo do século dezenove algum leve impulso começou a mexer com as artes eclesiásticas nos Balkans. Catedrais estão sendo construidas por arquitetos nativos; iconografia está sendo cultivada pela Fraternidade Josaphaei no Monte Athos,e outros locais; e a música mais polifônica de Chaviaras e Spathes está começando a ser introduzida pelas comunidades gregas na Europa. Tudo isso, no entanto, nãoé mais do que esforços tentativos, e ainda não produziram resultados perfeitos.

A Palavra de Deus.
Devemos dar boas vindas como sinal de bons homens, às fraternidades religiosas, as escolas catequéticas e as associações Cristãs de moços e de moças, todas tendo como objetivo o renascimento do espírito religioso através do estudo e aplicação prática da Palavra de Deus na vida diária. A Igreja oficial encoraja firmemente esses movimentos, apesar deles serem ainda não mais do que pequenos e espasmódicos. E como o estudo da Escritura é o objetivo de tais movimentos, a igreja mais de uma vez contribuiu para a publicação dela nos últimos anos. Assim, em 1843, com a assistência da Sociedade Bíblica da Inglaterra, ela publicou o Velho Testamento segundo o texto Septuaginta; depois deu sua benção para uma edição puramente grega, preparada por Martinus; em 1904, com despesas pagas pelo Patriarca Ecumênico de então, Constantino Valiades, e sob a supervisão do professor Basílio Antoniades, a primeira edição crítica do Novo Testamento apareceu pela imprensa do Patriarcado; e em 1928 e 1929, a esplêndida sociedade em Atenas, conhecia como Z? H ("vida"), que forma um tipo de corpo missionário para trabalho em casa, pos em circulação uma nova, bem cuidada, portável na mão e barata edição do Velho e Novo Testamentos. Mas edições gregas das Escrituras sempre mantiveram o texto oficial na língua alexandrina, que difere só levemente do grego como é escrito hoje. Traduções das Escrituras não são proibidas nem por razões dogmáticas, nem científicas, e são por isso aceitas pelos russos e por outros. Elas, no entanto, são consideradas com relutância pelos gregos, — primeiro, porque eles estão com a lembrança dos esforços subreptícios para conversão feitos pelos missionários protestantes; segundo, porque os gregos tem orgulho por possuir as Escrituras ou no texto original, como é o caso do Novo Testamento, ou em primeira tradução, feita de um texto séculos mais antigo que o Massorético-Hebreu de hoje, como é o caso do Velho Testamento; e terceiro, porque uma tradução válida para o grego moderno feita por homens com as condições literária e teológica necessárias para a tarefa, ainda não foi feita. A última tradução para o grego moderno foi o trabalho de um comerciante que vive na Inglaterra, que escolheu esse meio para divulgar suas teorias sobre a vulgarização da língua grega escrita.

Problemas Prementes a Serem Resolvidos num Futuro Próximo.
A recente reforma do calendário, que a maioria das Igrejas Ortodoxas aceitou, e graças a qual Oriente e Ocidente novamente celebram nos mesmos dias as mais importantes de suas festas fixas, levantou-se a questão da celebração da Páscoa, da qual depende a totalidade das festas variáveis, e só um Concílio Ecumênico da Ortodoxia tem competência para resolver tal questão. Mas não é só a questão da Páscoa que exige a convocação de um Concílio Ecumênico; existem muitos outros problemas urgentes que tem se acumulado por anos, e que agora chamam por solução. Entre eles estão a reforma da educação do clero sobre o duplo aspecto da escolaridade e do serviço social; a luta contra o ateísmo e ensinamento comunista; o uso geral de sermões; simplificações no ritual superelaborado; reforma da vida monástica numa direção mais prática; o casamento do clero; a redução dos dias de jejum; a revisão dos graus de parentesco que impedem casamento; estabelecimento e operação de missões tanto na pátria quanto no exterior; relações da Igreja Ortodoxa com outras Igrejas Cristãs; especialmente com a Igreja Anglicana; e muitos outros assuntos. Mas dominando todas as outras questões que exigiram a atenção do futuro concílio geral, apresenta-se a questão essencial de como as igrejas locais que compõe a Igreja Ortodoxa Oriental, no presente mantidas unidas tão frouxamente, poderão conseguir real e efetiva unidade em um único corpo; e como, renunciando de uma vez por todas à suas alianças com diferentes ideologias políticas, e pondo de lado suas diferenças nacionais, elas irão se colocar sob a exclusiva liderança de Jesus Cristo, e lutarem juntas com uma única vontade de extender o domínio do Reino de Deus.

Folheto Missionário número P089
Copyright © 2004 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant

(history_kallinikos_p.doc, 06-25-2004)

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