quinta-feira, 23 de janeiro de 2014



Como Funciona A Igreja Ortodoxa

     A Igreja Ortodoxa existe desde os primórdios do cristianismo e está presente nas mais diversas partes do mundo. 

ESTRUTURA 

     Na era apostólica, a administração dos fiéis cristãos era exercida pelos Episcopos (Bispos), Presbíteros e Diáconos. Estes títulos são de origem grega e estão descritos nas Sagradas Escrituras, representando a função dentro do corpo da Igreja. O Episcopo, pai da comunidade, supervisionava o andamento da evangelização e da fé de seus fiéis. Cuidava de uma vasta região, sendo responsável por um grande número de igrejas. Os Presbíteros eram chamados de anciãos, nos Atos dos Apóstolos, não necessariamente pela idade, pois geralmente o ancião era aquele com mais de 30 anos. Cada Igreja tinha seu grupo de anciãos que possuiam uma preparação e seriam como os sacerdotes de hoje. Eram os intermediários entre a comunidade e o supervisor (Episcopo). O Diácono, que em grego significa servidor, auxiliava nos momentos litúrgicos, na ajuda aos enfermos e às viúvas, sendo um elo entre a comunidade e o Episcopo. Após um período de perseguição e do Império de Constantino, a Igreja encontra-se num momento histórico de liberdade, que propiciou sua estruturação e mais tarde, os concílios a dividiram em regiões, surgindo então a figura do Pai e Patriarca. O Patriarca é um Episcopo que foi eleito para supervisionar de maneira especial. Ele é o pai daquela determinada Igreja com a qual se relaciona, zelando pela fé de seus filhos. 

ORGANIZAÇÃO 

Santo Inácio de Antióquia (século I d.C.) é o primeiro autor cristão a classificar os Bispos, Presbíteros e Diáconos como três graus do ministério cristão. Esta hierarquia fixou-se na tradição da Igreja dentro de sua organização. De fato, os ortodoxos atribuem a autoridade máxima ao Colégio dos Bispos, concedendo um destaque aos Patriarcas como guardiães especiais das fontes de verdade na Igreja. A Igreja é depositária dos ensinamentos de Jesus Cristo e a continuadora da obra da salvação, do amor e da conquista da vida eterna por toda a Terra. Jesus prometeu à Igreja a assistência do Divino Espírito Santo, afirmando: "Eu permanecerei convosco até o fim dos tempos." O mundo cristão, nos primórdios do cristianismo, possuia cinco Patriarcados (Pentarquia). Seguindo a ordem hierárquica: Roma, Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Jerusalém; embora a mais alta autoridade da Igreja cristã fosse o Concílio Ecumênico, cujas decisões são válidas para todas as Igrejas. 

A DOUTRINA CRISTà

As bases da doutrina cristã foram assentadas no Primeiro Concílio Ecumênico, convocado por Constantino, imperador romano, na cidade de Nicéia, em 325. Os 318 Santos Padres compuseram a primeira parte do "Credo ou Símbolo da Fé", que em poucas palavras expressa claramente a crença e doutrina cristã sobre Deus Pai e seu Filho Jesus Cristo. Este Credo foi completado em seus últimos artigos no Concílio Ecumênico de Constantinopla, que definiu a doutrina do Espírito Santo, em 381, e por isso chama-se "Credo ou Símbolo da Fé Niceno-Constantinopolitano". O triunfo do cristianismo ocorreu três séculos após a Ressurreição de Jesus Cristo, com a paz decretada por Constantino. Mais tarde foram convocados seis Concílios Ecumênicos reafirmando os verdadeiros dogmas cristãos. 

AS FONTES DA DOUTRINA ORTODOXA 

São duas as fontes de onde é extraída a fé ortodoxa: a Sagrada Escritura e a Santa Tradição Apostólica, onde encontra-se, exclusivamente, a revelação dada por Deus ao homem sobre o que deve crer e praticar para agradá-lo, conseguindo a salvação eterna. A Igreja é a única a interpretar e ensinar esta revelação verdadeiramente, pois assim estabeleceu Jesus. A Bíblia é a Palavra de Deus, revelada pelo Espírito Santo aos homens por meio dos profetas (Antigo Testamento) e apóstolos (Novo Testamento). 

SAGRADA ESCRITURA E TRADIÇÃO APOSTÓLICA 

A Sagrada Escritura compreende os livros canônicos (aprovados e reconhecidos pelo Magistério Eclesiástico), compilados em único volume, comumente designado "Bíblia Sagrada". Encontramos a Tradição Apostólica manifestada em:
- Os Sete Concílios Ecumênicos
- Os Santos Padres e Escritores Cristãos
- Símbolo Niceno Constantinopolitano
- As Liturgias da Igreja
- O Magistério Permanente da Igreja
- A Legislação Eclesiástica 

LEGISLAÇÃO 

A Igreja Ortodoxa possui, para a organização e administração, seu Direito Canônico Ortodoxo, chamado "Nomocanônicos", órgão que regula o seu funcionamento. O Direito Canônico: "Ensinai os homens a observar tudo aquilo que Eu os vos tenho ensinado" (Mat. 28:20). É por sua divina constituição que a Igreja, como guardiã da Lei Divina, tem o direito de estabelecer cânones (regras), de julgar e, se necessário, de aplicar sanções: "Quem vos escuta, a mim escuta; quem vos menospreza, a mim menospreza" (Luc. 10:16). Desde as suas origens, a Igreja tem consciência de sua responsabilidade e de sua ordem histórica. O Concílio de Jerusalém regulou as questões relativas aos cristãos de origem judaica (Atos 15:22). São Paulo refere-se às questões das assembléias, qualidades requeridas pelos bispos, ao uso dos carismas. Durante os três primeiros séculos, a Igreja empregou o direito de resolver as questões eclesiásticas e esse costume se encontra na "Didaquê" (fim do século I), na tradição de Hipólito (princípio do século III), na Didascália dos Apóstolos (até o ano 250), nas Constituições Apostólicas (até 380). Com o século IV, a Igreja entra no tempo dos Concílios regulares. Muitas coleções nos dão os históricos dos Cânones, por exemplo a de João, o Escolástico, no ano 550. A harmonia dos poderes da Igreja e do Império, explica a presença do Direito Eclesiástico nas coleções jurídicas do Império de Teodósio ou de Justiniano. Mais tarde apareceram os trabalhos dos canonistas Balsamon, Zonares, etc. A Ortodoxia não possui um código unificado, mas tem códigos locais que remontam à Idade Média. Na Igreja Ortodoxa, a autoridade máxima é constituída pelo Concílio Ecumênico, cujas decisões abrangem toda a Igreja de Cristo. A infalibilidade se acha na Igreja inteira, representada na reunião de todos os bispos em Concílio. Historicamente, o período dos Concílios Ecumênicos representa para todos os ortodoxos um período "normativo". A Igreja Ortodoxa reconhece sete Concílios Ecumênicos:
1º - Nicéia, 325 d.C.: Divindade de Jesus Cristo. Condenação de Ário.
2º - Constantinopla I, 381: Divindade do Espírito Santo, Condenação de Macedônio.
3º - Éfeso, 431: Maternidade Divina de Maria. Condenação de Nestório.
4º - Calcedônia, 451: Dualidade da Natureza em Jesus Cristo. Condenação de Êutiques que ensinava o monofisismo.
5º - Constantinopla II, 553: Condenou as obras escritas pelos seguidores de Nestório.
6º - Constantinopla III, 680: Dualidade de Vontades em Jesus Cristo, não contrariadas uma pela outra, mas a Vontade humana sujeita à Vontade divina.
7º - Nicéia II, 787: Condenação da Iconoclastia. Definiu-se a doutrina ortodoxa da veneração dos ícones. Na tradição oriental, as imagens sagradas são pintadas e não esculpidas. 

O ICONOSTÁCIO 

A palavra iconostácio vem do grego e significa local onde se colocam os ícones. Sua localização e disposição segue as exigências da Igreja após as resoluções do 7º Concílio Ecumênico. Esta parede de ícones possui a função de separar o Santuário, local onde entram os celebrantes, da Assembléia, espaço destinado ao povo. Apesar de não existir um número de ícones estabelecido, qualquer Igreja Ortodoxa deve ter, no mínimo, as imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora, São João Batista e do padroeiro da igreja. 

SANTUÁRIO E ALTAR 

O Santuário, lugar do Santo dos Santos, localiza-se atrás do iconostácio, e o acesso é permitido exclusivamente ao Clero, para a celebração dos ofícios divinos. Existem três portas para a comunicação com a Assembléia. A Porta Régia no centro, à esquerda, a Norte e à direira, a Sul. No altar existe, permanentemente, o Antimensio, pano bordado no qual estão os instrumentos da Paixão, o desenho de Jesus Cristo sendo tirado da cruz e colocado no Sudário. Sob este pano dobrado está o Evangelho, que deve estar sempre sobre o altar na Igreja Ortodoxa. No altar está o Sacrário, onde se guarda as espécies consagradas. 

A PÁSCOA 

Existe uma diferença entre as datas da Páscoa Romana e Ortodoxa. O cálculo é baseado em astronomia e não é uma questão religiosa. Desde os primeiros anos do Cristianismo, este assunto foi motivo de divergências e de estudos. No ano 325, o Concílio de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino, resolveu, por unanimidade, que a Páscoa fosse comemorada, por todos os cristãos, no mesmo dia. As resoluções deste Concílio determinaram que a data da Páscoa fosse comemorada sempre num domingo, que segue à lua cheia do equinócio da primavera, isto é, após o dia 21 de março. O equinócio é a época em que o dia e a noite têm a mesma duração em todos os países do mundo. O Patriarca de Alexandria foi encarregado, pelo referido Concílio, a preparar um calendário das Páscoas futuras e divulgá-lo para todas as Igrejas Cristãs do mundo, sempre após a Epifania (6 de janeiro). A unificação das datas seguiu seu curso normal até 1582, quando a Igreja Romana adotou o calendário Gregoriano, elaborado pelo Papa Gregório XIII, que constatou erros no ano solar, adiantando-o em 13 dias. A Igreja Ortodoxa não aceitou a nova data, pois contrariava o que fora estabelecido no Concílio de Nicéia. A partir daí, a Páscoa Ortodoxa e Romana passaram a ter datas diferente. 

FONTE: Chams - Revista mensal informativa das comunidades de idioma árabe no Brasil - Maio - ano VII - nº67 II

Nenhum comentário:

Postar um comentário